Meu avô David, de abençoada memória, aquele que leu o Mein Kampf aos 17 anos e resolveu fugir da Polônia para a vida em 1928, não conseguiu fazer faculdade. Mas entre outras coisas, fez uma família e deu às três filhas tudo o que pode e mais um pouco.

Era um sujeito amoroso e bem humorado. E entre as tiradas de humor que ele tinha, a que mais ainda me diverte é quando após ouvir pacientemente alguém que se arrogava a saber tudo sobre tudo, ele dava um sorriso ironicamente discreto e falava:

– Ele é um sabichão! (“sabichon”, com o sotaque polonês).

Lá do céu, na sagrada companhia do Eterno, ele observa a minha impaciência nada bem humorada, com o fato de estarmos no ano de 2020, quase um século após a sua fuga da Polônia pré-nazista, que ainda existe gente que pensa que sabe tudo sobre tudo. E que de forma cândida e canina fica cagando regra em qualquer “calçada” do mundo real e virtual.

Tranquilo, vovô David, pode rir de mim também. Obrigado por ter me ensinado com humor melhor que o meu sobre onde devo procurar respostas.