SINOPSE
Ficção, entretanto inspirada na vida de Mania Kaufmann que morreu em São Paulo, aos cem anos
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MÂNIA E A BOLA DE FOGO
Autor: Josebel Rubin

A cadeira de balanço pendulava em sintonia com o belíssimo relógio de parede que ela trouxe da Alemanha quando seus pais, encantados pelo shadchan yossef, o falante e bem sucedido casamenteiro, concordaram com o arranjo.
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Em seus 17 anos, Mânia espiava a conversa, entre medo e encantamento por aquela figura alta e um tanto desengonçada, um pouco estranha para o seu olhar de quase menina.
A Alemanha vivia o ano de 1930, quando os nazistas começavam a aumentar seus assustadores ruídos.
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Agora, passados 12 anos, na cadeira de balanço que ela sempre postava defronte a janela da casa, avistava o pequeno mundo daquela pequena cidade inglesa, a pouco mais de 100 km de Londres, e seus pensamentos pendulavam entre a alegria de pensar no marido um quase aventureiro a quem ela aprendeu a amar, e a amargura de rever as imagens de sua mãe e de sua irmã ,em um campo de concentração. Seu casamento a livrou da Alemanha nazista, mas deixou o tributo das lembranças.
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Corriam as horas que antecediam mais um shabat daquele 1942. Mania viu, trêmula, a aproximação de uma bola de fogo que veio vagarosamente em direção ao seu rosto e depois se afastou, brusca, meteórica. Ela soube então que a mãe e a irmã tinham partido deste mundo.
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A bola de fogo se espatifou em milhões de fatias e muitas delas vieram para o Brasil, para onde ela acabou mudando e vivendo o resto dos seus dias.
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Na sala, sempre manteve uma cadeira de balanço, um permanente olhar sobre as ruas turbulentas de São Paulo e sempre um pêndulo, a balançar os pensamentos no turbilhão das dolorosas imagens.
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Mania faleceu por aqui, três dias depois do Shabat em que completou cem anos de vida.