Cerca de 13 a 14 milhões de pessoas estão desempregadas no Brasil. O cenário tem cada vez mais se tornado pessimista para empregos formalizados, levando as famílias buscarem uma saída para o sustento ou renda complementar, esse novo modelo espoliativo é visto por uns como solução após as sequentes Revoluções Industriais, hoje com a automação e inteligência artificial.

A Uberização sendo alternativa para os desempregados, como pode ser aplicado um dos prós, que é “A liberdade de escolher horário e tarefas…” Bem, é algo que soa aos meus ouvidos e entendimento como paradoxal. A exemplo de um ou uma supridor ou supridora das despesas familiares básicas: aluguel, condomínio, energia, água, alimentação etc.

Pensemos, se a pessoa que está nesse formato de trabalho para atender as necessidades com as ofertas do mercado uberizado, pode se dá ao luxo dessa escolha, se no final do mês tem suas entradas e saídas que não são compatíveis e o que se deve fazer é trabalhar até a exaustão, então, como vai ter mais tempo para vida pessoal e o lazer que se faz necessário a saúde?

Sendo esse um dos argumentos favoráveis que normalmente é postulado pelos “empregadores” enaltecendo essa flexibilidade de serviço como algo bom e positivo… Aí, o meu pensamento voa para antes e pós 13 de maio, aqui na terra brasis, ou seja, é ou não um formato de escravidão moderna? Os grilhões são os aplicativos, que oferecem tudo ao consumidor para o tempo, vilão da liberdade moderna, ser CAPITAL.

Não sou cientista do mercado e direito do trabalho. Sou proletária aposentada com vivência de dois regimes trabalhistas: CLT e Estatutário, o que rege hoje meu contra cheque. Me lembro as terríveis perdas na transição de um modelo para o outro, as adequações e depois fui me acostumando e reorganizando as despesas. Então, imaginemos agora esse novo “estandarte” trabalhista… O trabalhador ou trabalhadora sem legislação, sem salário fixo, sem nada, apenas o seu esforço ativo de trabalhador ou trabalhadora… Se adoece a criatura, como vai trabalhar e se a escolha é não faltar, por não  pode agora “escolher” o seu tempo flexibilizado, pois as contas chegam a cada fim de mês. É vida? É liberdade? É moderno?  Ou lembra os tempos de fábrica e minas de carvão, antes da primeira greve por direitos trabalhistas, que Émile Zola bem retratou em sua obra prima O Germinal… Estamos retroagindo em tempos tão modernos? Vejo com olhos de um passado/presente, o capitalismo enfurecido engolindo o homem e demais criaturas. Me faz refletir a dor do trabalho incerto…

Conheci um jovem que tem por primazia cuidar da mãe e das irmãs, que trabalham em contratações pontuais em eventos de formatura. Ele é o arrimo da casa, a mãe faz pão e bolos para vender. No dia que conversamos vi a exaustão em seu olhos, um número de entregas absurdo, mal tinha tempo de mastigar um sanduiche. Ele estava estudando para um concurso quando a empresa que trabalhava enxugou os “cooperadores,” ele e mais três, sem muitos critérios, perderam o trabalho fixo com a legislação trabalhista. O tempo passou, seguro desemprego, bicos, um contato aqui e outro ali, mas chegou a hora necessária para uma atitude produtiva: se uberizar para o sustento maior familiar. 16, 17, 18 horas dia trabalhadas, horários flexíveis para os patrões, ele que se vire e se adeque ao novo modelo como gestor e empregador de si mesmo, de suas horas, de seus dias e de sua morte, talvez, de exaustão ou no trânsito infernal e assassino.

 

Gigi Pedroza