Quem diria que Bibi, um político de primeira linha, conhecedor de todos os meandros desta nobre atividade, tenha comemorado uma vitória que não aconteceu. As pesquisas davam ao seu campo da direita, 60 cadeiras, o que com os votos itinerantes poderia fazer com que chegassem a 61, o número mágico para formar um governo. Teve festa da vitória durante a madrugada antes da contagem final dos votos.

Bem, as urnas foram abertas e o campo da direita chegou a 58 cadeiras. Nenhuma chance de formarem governo, nenhuma possibilidade de conseguirem convencer outro partido a se somar a eles. A direita perdeu as eleições pela terceira vez e a maioria dos israelenses disseram não a Bibi.

Tudo muito bom, mas o campo oposto também não tem votos suficientes para formar governo, a menos que aceitassem compor com a Lista Árabe Unificada que chegou as incríveis 15 cadeiras e se tornaram a terceira força política do parlamento, atrás apenas do Likud e do Azul e Branco. O Azul e Branco não quer realmente formar um governo, não agora, prefere apostar suas fichas em outra manobra.

Agora começa o jogo político. Se todos os partidos contra Bibi indicarem o Azul e Branco para formar o governo, ele terá durante este período, força para mudar a presidência do parlamento e indicar uma maioria na comissão que pode criar uma nova lei. Pode-se chamar de Lei da Ética, da Moral e dos Bons Costumes, da Ficha Limpa como no Brasil, mas no final ela vai ser conhecida mesmo como Lei Bibi. Por esta lei nenhum parlamentar sendo processado criminalmente, poderá concorrer como indicado a primeiro ministro. Ele com três processos em andamento, no caso de novas e prováveis novas eleições, estaria impedido.

Todos os partidos anti-Bibi já apoiam a iniciativa e ela vai se tornando possível e muito provável. A direita diz que ela é antidemocrática. É o povo quem deve escolher o primeiro ministro. Que o povo é soberano. A voz do povo deve ser respeitada. Ninguém é culpado sem ter sido condenado com trânsito em julgado. Em outras palavras, vão gritar muito.

Sem Bibi, as eleições serão outras. Tudo muda dentro do campo da direita e já se escutam o rosnar das hienas políticas pela herança do seu legado. Candidatos não vão faltar, mas nenhum com o carisma dele. O Likud tende a perder cadeiras. A dúvida é se elas permanecem no campo da direita fluindo para os partidos acessórios, ou se revertem para o centro beneficiando assim o Azul e Branco.

Uma outra possibilidade que se abre é um governo formado pelos dois maiores partidos. Sem Bibi, o Azul e Branco já diz que aceita formar governo. Talvez sequer precisem dos partidos acessórios como os religiosos e a esquerda.

Não posso deixar de mencionar Liberman e seu partido Israel Nossa Casa. Fizeram somente 7 cadeiras, mas são eles que vão ajudar a jogar Bibi no ostracismo. Justamente o partido da direita que não compõe com Bibi. Chegaram a um ponto irreconciliável. E olha que Liberman foi o Ministro da Defesa dele.

Neste momento ele é a pá de cal do governo do Likud. Sem ele, não formam a maioria necessária para indicação de formação do governo pelo presidente. E se desta vez a Lista Árabe der todos os seus votos para indicarem Benny Gantz, a chapa de Bibi começa a esquentar.

A mídia aqui de Israel está dividida entre o Corona e a política. Neste momento parece que o vírus está mais famoso. Cancelamento de voos para diversos países, 20 pessoas oficialmente infectadas, 7 mil em quarentena, filas intermináveis nos supermercados para comprar alimentos. O Corona está liderando as manchetes.

Bibi, assim como o vírus é bastante resistente e sempre soube quando deveria mutar. Nada que a oposição tentou deu certo para tirá-lo do poder, agora tudo pode mudar. Nenhuma mutação vai melhorar a situação dele. Penso que a era Bibi pode estar chegando ao fim. Quando falarem deste momento, todos vão recordar que tudo aconteceu naquele ano antes da Páscoa quando Israel derrotou duas pragas ao mesmo tempo.