Uma negritude uma tormenta um cinza amargo. Um desespero amordaçado. O eco do ódio manchando o caminho. Uma reumática verdade ajoelhada. Uma vingança reciclável. Um fracasso acaso pagão acaso divino acaso um descaso ou apenas fracasso.

Duas meias verdades. A esperança encarcerada em uma e outra. Uma bomba poliglota assina a hipoteca do futuro. Um discurso de destruição em massa arrota a versão Beta do novíssimo testamento. Uns mortos inocentes e outros vivos bem culpados. Três tigres de pólvora afiam as unhas colaterais enquanto seiscentos e oito motivos para que a paz seja viável agonizam por decreto sem pena nem glória. Uma sem-vergonhice indomável. Um Oriente Médio rachado ao meio e dois povos despedaçados no meio. Uma região três religiões mil esbarrões. Deus não existe diria o próprio se somasse o sangue em seu nome derramado.

Como sempre, morrem inocentes por sê-lo e governam os culpados por igual motivo. Em todos os idiomas e em todos os canais sempre haverá quem patrocine uma guerra, quem glorifique umas mortes, quem viva dos dividendos pagos pelo sangue alheio. Sempre faltarão vozes que gritem verdades e mãos que aplaudam esses gritos que dizem verdades.

Assim estão as coisas porque assim o quer o deus que é cada um dos cavaleiros deste Apocalipse insuportável.

Sangue que te quero sangue, ordena o general da banda interrompendo a cantiga de roda dos que ainda esperam.

Bêbado de desesperança, tropeço na realidade e antes de cair no chão de mim mesmo me prometo e me juro que nunca nunca voltarei a beber a primeira manchete de jornal que anuncie a vitória da insensatez sobre o cordura ou vice-versa.

Bruno Kampel