Leonardo Attuch recorre ao velho truque para encerrar a discussão: basta qualificar seu oponente como fascista.
Me causou surpresa o texto de Attuch sobre minha resposta ao que ele publicou. O título já é uma inverdade. Eu nunca disse que ele era antissemita, como vou mostrar mais adiante.
Mauro Nadvorny recorre ao velho truque para encerrar a discussão: basta
qualificar seu oponente como antissemita.
 
O colunista Mauro Nadvorny acaba de constatar que, ao contrário do que ele pregou para seus seguidores no Facebook, o Brasil 247 é um veículo de comunicação democrático. Aqui, em nossas páginas, ele acaba de publicar um artigo em que diz ter sido censurado por mim. Se não fôssemos visceralmente democráticos, evidentemente, não teríamos aberto espaço a esse artigo em que ele, inclusive, me rotula como antissemita. Ou, no mínimo, afirma que usei um argumento antissemita para criticá-lo.
Um grande mal dos nossos dias é o de que as pessoas não leem o que está escrito, e quando o fazem, distorcem completamente os fatos. Nossa discussão teve inicio com um artigo para a minha coluna ter sido censurado. Attuch acha que a não publicação não foi uma censura. Cada um de nós tem uma opinião diferente, o que seria legítimo. Eu não acho que o fato de Brasil 247 ter publicado minha
resposta ao que ele escreveu, seja um atestado de democracia visceral. Mostra apenas que me foi dado o direito de resposta.
 
Quanto a eu o ter rotulado de antissemita, não foi o que eu disse: “Falas que eu escrevo com uma visão de mundo etnocêntrica e que eu considero os judeus mais importantes que os demais. Lamento, companheiro, mas esta é uma afirmção antissemita com todas as letras. Jamais me coloquei acima de quem quer que seja, assim como em mais de um ano de publicações semanais fui chamado de etnocêntrico.” Ou seja, eu estou afirmando que o argumento dele foi antissemita, não que ele o seja. No entanto, ele faz uso disso na chamada, o que é uma baixaria.
 
É evidente que a acusação não faz sentido algum. Afinal, nosso motivo para vetar o artigo que ele diz ter sido censurado foi a defesa da vida como um valor absoluto. E me parece óbvio e ululante, como diria Nelson Rodrigues, que a defesa da vida, princípio basilar do que se convencionou chamar de Humanismo, jamais poderá ser classificada como uma postura antissemita. Muito pelo contrário.
 
Como já expliquei no meu artigo anterior, o texto de Mauro Nadvorny, em que ele celebra o assassinato do general Qasem Soleimani por Donald Trump, foi despublicado porque, já na primeira frase, ele argumenta que o mundo se tornou um lugar melhor para se viver após este assassinato. Mauro também disse que Soleimami ameaçava a sua existência e, em razão disso, celebrou a sua execução. Na minha crítica ao seu artigo, disse que ele reproduziu a lógica do discurso fascista – “bandido bom é bandido morto” – que os progressistas tanto combatem.
 
Eu também defendo a vida, não é este o ponto. O texto se refere ao que já havia acontecido. Meu artigo original censurado começa assim: “Sei que vou atrair a ira de parte da esquerda, mas vou dizer de qualquer maneira que hoje acordamos em um mundo um pouco melhor para se viver. Por razões que não vou entrar no mérito, os EUA mataram o Gen. Qassem Soleimani, chefe máximo da Força Quds, mais conhecida como a tropa paramilitar do clero iraniano, os Guardiões da Revolução.”
 
Depois disso explico quem é o cara e o país que ele servia e concluo: “Então, se um cara como Soleimani, um servidor de um regime como este que trabalhava para o replicar em outros países foi se encontrar com o Diabo no Inferno, não quero saber quem o despachou, o mundo foi dormir com um ser abominável a menos.”
 
Foi nestes dois parágrafos que Attuch enxergou comemoração e um discurso fascista. Eu acho que ele está forçando muito a barra para ter esta interpretação. Acho que o motivo é outro.
 
Mauro me chama de antissemita porque classifiquei seu argumento como etnocêntrico, ou seja, como
de alguém cuja visão de mundo considera seu grupo étnico, nação ou nacionalidade socialmente mais importante do que os demais. Mas foi exatamente isso o que ele expressou ao dizer que Soleimani mereceu ser assassinado porque poderia “nos” assassinar. Por essa lógica, Trump, que assassina
iranianos e iraquianos, na prática seria um herói justamente porque seus salvos são “eles” – e não “nós”, da “tradição judaico-cristã”. Por essa lógica, Trump salvou o mundo de um potencial genocida, que ele compara a Hitler em seu artigo.
 
Em nenhum parágrafo do meu artigo original censurado está escrito que: “Soleimani mereceu ser
assassinado porque poderia “nos” assassinar.” Me mostre onde.
 
Da mesma forma, em nenhum parágrafo do meu artigo original está escrito que: “Por essa lógica, Trump salvou o mundo de um potencial genocida, que ele compara a Hitler em seu artigo.” Me mostre onde.
Experimentemos agora trocar os nossos óculos e nossas lentes. Coloquemo-nos no lugar de iraquianos,
palestinos e iranianos. Esses povos, naturalmente, também se sentem ameaçados  pelas ações de Donald Trump, de vários de seus antecessores, e de Benjamin Netanyahu. Basta dizer que mais de 200 mil civis iraquianos já foram assassinados desde que teve início a pretensa “guerra ao terror”, que visava evidentemente assegurar o controle geopolítico do Oriente Médio e de todas as suas riquezas naturais. Em razão desta ameaça,  é legítimo defender que Trump e Netanyahu sejam assassinados? Mauro Nadvorny escreveria isto num de seus artigos? Tenho certeza de que não. E se escrevesse, pode estar
certo de que não seria publicado em nossas páginas.
 
Verdade, eu não escreveria a mesma coisa.
 
Apenas lamento que, em vez de debater argumentos, ele recorra ao velho truque para encerrar uma
discussão: rotule seu opositor como antissemita e declare vitória. O que é isso, companheiro?
 
Attuch, tenha certeza de que eu não hesitaria em te rotular como antissemita, se fosse este o caso. Não foi o que eu disse, como tu mesmo reconhecestes: “Ou, no mínimo, afirma que usei um argumento antissemita para criticá-lo.”
 
O papel de vitimização não te cai bem.
 
Eu já te propus encerrar esta discussão com um artigo em comum onde concordamos em discordar. A
proposta continua valendo.
OBS: ele não concordou.