Os partidos políticos de Israel não se entendem e o país se encaminha para sua terceira eleição em um ano. Nunca havia acontecido de que não se formasse um governo depois de uma eleição, nem falar de duas, mas três já parece inaceitável. Da forma como estão as coisas, talvez o impasse ainda assim não se resolva.

O país está claramente dividido em blocos que não conseguem formar uma maioria na Knesset, o Congresso israelense. Assim, somente um acontecimento radical que levasse eleitores de um bloco para outro, romperiam este círculo vicioso. De nada adianta eleitores da direita continuarem votando em partidos de direita, o mesmo com o centro esquerda.

O bloco religioso vai continuar igual com suas 16 cadeiras (uma mais, uma menos) e eles dizem que estão com a direita e somente com a direita liderada pelo Likud, mais especificamente por Bibi. São claramente partidos religiosos de direita, o que quer que isso signifique.

Os partidos árabes, unidos em uma Lista Unificada, deve manter suas 13 cadeiras conquistadas na segunda rodada, ou talvez até uma a mais. A direita nunca vai aceitar que eles façam parte de seu governo. Já o centro gostaria de contar apenas com seu apoio sem oferecer cargos. Em Israel todos são iguais, mas existem os mais iguais e os menos iguais.

O Azul e Branco já anunciou pelo menos uma mudança para esta terceira rodada, Benny Gantz, seu líder, em caso de vitória será o primeiro ministro por quatro anos. Antes havia um acordo para dividir dois anos para cada um com o número dois do partido, Yair Lapid. Esperam com isso, atrair votos de indecisos e até mesmo do partido rival, o Likud.

O Likud está em guerra. Bibi foi finalmente indiciado em três processos criminais que podem culminar, se condenado, em cumprimento de pena. Ele está sendo desafiado para liderar o partido por Guideon Saar. Em duas semanas o partido vai fazer suas primárias para definir quem vai liderar o partido agora. Ataques de parte a parte são diários.

No partido trabalhista e no Meretz (último bastião da esquerda sionista) nenhuma mudança a vista. Os dois partidos devem manter tudo como está e muito provavelmente receber as mesmas cadeiras cada um. O mesmo se passa com os partidos nanicos da extrema direita.

Por fim, o partido Casa Judaica de Avigdor Lieberman que não é mais bem-vindo na direita, e não compõe com a esquerda. Devem permanecer com 8 cadeiras e continuar sendo o fiel da balança para a formação de algum tipo de governo depois das eleições.

Segundo as primeiras pesquisas, nada de significativo muda com relação ao número de cadeiras de cada bloco. A direita com Bibi chegaria a 54 cadeiras, e para surpresa de todos, sob a liderança de Saar, o Likud faria menos cadeiras, mas os votos seriam transferidos para outros partidos do bloco fazendo com que ganhassem mais duas cadeiras. Já para o centro esquerda, eles ganhariam mais quatro cadeiras, deixando o bloco, contando com o apoio da Lista Unificada, com 58 cadeiras.

Neste caso é preciso compreender como é que Liberman se comportaria, já que ele com suas 8 cadeiras, seria quem poderia decidir que tipo de governo seria formado. Ele vem sendo intransigente em não sentar com os partidos religiosos, o que é recíproco. Se continuar assim, não existe chance para a formação de um governo de direita liderado pelo Likud.

Liberman também diz que não senta em um governo apoiado pela Lista Unificada, a quem chama de quinta-coluna. Com esta negativa, sem chance de um governo de centro-esquerda mais Liberman.

Tudo isto muda se Bibi deixar de concorrer. Ele precisa formar um governo para poder postergar seu julgamento. Aqui a imunidade é dada para um político por uma comissão da Knesset. Se ele tiver maioria nesta comissão, tem garantida sua imunidade. Sua obstinação em se manter na liderança do Likud e consequentemente ser o indicado pelo partido para Primeiro Ministro se deve exclusivamente a este problema pessoal.

Sem Bibi na equação, até mesmo um governo de unidade entre o Likud e Azul e Branco se torna possível. Poderiam até mesmo acrescentar outros partidos, dependendo da nova configuração de cadeiras depois da eleição. Lieberman é o primeiro a oferecer seu partido e seu apoio.

Vamos ter de aguardar o andar da carruagem nestes próximos 80 dias que antecedem a eleição marcada para o dia 2 de março de 2020. Dizem que o tempo é o senhor da razão. Se for assim, esperamos que os movimentos sejam em prol do país que se encontra semiparalisado sem orçamento para o ano que se inicia. Se três eleições consecutivas já deixaram os políticos descréditos, imaginem uma quarta, quinta…