A casa 58

Não existe nenhum mistério em relação a casa 58. O porteiro escreveu de forma clara e precisa que Élcio pediu e teve confirmada sua entrada no condomínio para se dirigir a casa de número 58 do seu Jair. Esta é a prova, tudo o mais pode ser considerado como evidência.

O porteiro percebeu que ele foi para a casa 66, de Lessa. Ele liga novamente para a casa 58 e é atendido pela mesma pessoa que ele atribui como sendo seu Jair. É informado por ele que sabe do que se trata e que não há problema.

Talvez o fato dele afirmar em depoimento que a pessoa que o atendeu tinha a voz do seu Jair possa ser considerado não verdadeiro, mas isso não tem a menor importância. O que conta é o que está escrito no papel, mesmo que o MP e a PGR decidam pelo contrário e afirmem que ele mentiu em depoimento.

Não gostaria de entrar no mérito do fato da promotora ser partidária da família miliciana. Talvez ela fosse capaz de separar sua militância política da sua vida profissional. No entanto, quando ela afirma que o porteiro mentiu, e ignora a prova cabal, o que ele escreveu naquele dia, aí fica claro que sua militância está se sobrepondo ao seu profissionalismo.

Sim, em se tratando de milicianos protegidos pelos Bolsonaro, inclusive com empregos em seus gabinetes, é imaginável que seu Jair estivesse a par dos planos de matar Marielle. Talvez fosse o mandante. Tudo isso é possível, mas ainda precisa ser investigado e comprovado. Os fatos mostrados até agora sugerem isso como uma linha investigativa igual as outras.

Sim, o seu Jair surtou em sua mensagem de indignação pela reportagem do JN. Alguns dizem que uma pessoa inocente não se comportaria assim. Minha experiência mostra o contrário. Os que se indignam mais, costumam ser os inocentes. De toda forma, a questão aqui é outra. A descompostura do presidente diante do que ele considera uma afronta.

Está claro que não temos um presidente que ainda não compreendeu que as eleições já passaram, e que ele ocupa um cargo passageiro. Qualquer Brasileiro pode chegar ao cargo máximo da nação numa democracia, mas o emprego possui algumas exigências comportamentais, éticas e morais para seu ocupante. O que o mundo inteiro está vendo diariamente é a incompatibilidade total do seu Jair para o cargo.

Um presidente necessita atributos básicos que independem de sua educação, cultura, conhecimento, religião e posição ideológica. Ele governa para todos e representa o país como um todo. Não precisa ser poliglota, mas está sempre acompanhado de um tradutor por onde vai circular. Ele pode não ser um líder nato, mas é visto assim por seus pares.

Seu Jair parece não ter sido o melhor aluno da escola, tem baixíssima cultura geral, pouco conhecimento do mundo e reafirma sua posição ideológica e sua religião onde quer que esteja. Mal fala o português e está longe de ser um líder reconhecido por seus pares.

Ele coloca suas convicções ideológicas acima de tudo e governa exclusivamente para a parcela da população que o apoiou. Continua em campanha eleitoral acusando tudo e todos que o contrariem ou confrontem. Tenta governar como o dono de um negócio que decide o que será comprado, de quem e como será pago. Não sabe o significado da impessoalidade do cargo que ocupa, e muito provavelmente sequer o que isto signifique.

Seu Jair pode, ou não ser o mandante do assassinato de Marielle. Talvez soubesse de tudo. Um dos filhos, ou todos podem ter envolvimento. Para onde quer que se olhe, evidências apontam para ele, seus filhos e seus conhecidos. Nenhuma investigação séria poderia minimizar este conhecido envolvimento pessoal da família com os assassinos.

Infelizmente vivemos tempos obscuros onde a justiça perdeu a imparcialidade e o Estado de Direito é uma miragem. Se alguém tem esperança de que este crime chegue aos donos da casa 58, é bom repensar o país onde vive.