Toda vez que perdemos um companheiro de trincheira, uma enorme tristeza se abate sobre todos nós. Ninguém é perfeito e obviamente cada um de nós tem seus defeitos, para o bem e para o mal. Nesta hora isso perde relevância e nosso sentimento de perda é como de um elo da corrente que se abre e precisa ser preenchido novamente. Paulo Henrique Amorim, descanse em paz sabendo que seguimos na luta.

Desde que o terror deste governo chegou ao poder, com todas as consequências de ter na chefia do poder um mentecapto disfuncional, que a cada dia traz uma nova surpresa nos matando de vergonha, é preciso repensar como acabar com isso.

Em um estado democrático eu diria que bastaria aguardar as próximas eleições. Este é o caminho natural das coisas. Quem não deseja dar continuidade a isso que está aí, vota em outro candidato. Simples assim.

Nosso problema é que não existe um estado de direito. Assim sendo, vivemos uma meia democracia. Visto de fora, temos eleições livres onde cada cidadão representa um voto. Visto de dentro, vivemos um pesadelo eleitoral onde uma presidente é retirada do poder sem nexo causal, e um candidato a presidência é impedido de concorrer para dar a vitória para seu concorrente.

Tenho acompanhado o Glenn Greenwald em sua passagem pela Câmara e o Senado explicando o trabalho do The Intercept na divulgação das trocas de mensagens entre o ex-Juiz Sergio Moro e promotores do MP que acusam o Presidente Lula de receber propinas.

O interessante não é escutar os deputados e senadores que estão do nosso lado, é escutar os que estão a favor de Moro. É um exercício de parcimônia. São necessários paciência, contenção, medicação para pressão alta, taquicardia etc., tudo a mão.

Eles perguntam porque não entregar o material para perícia de órgãos de segurança como a PF do Brasil, ou o FBI e a CIA americanos (como se eles não tivessem mais o que fazer) e o Glenn explica que em nenhuma democracia do mundo um jornalista entrega material para qualquer órgão de segurança antes de publicar. E os caras insistem que é tudo falso.

Eles dizem que o material poderia ser falso, ou meio falsificado para atender o que desejam os inimigos de Moro. O Glenn explica que outros meios jornalísticos também periciaram o material e encontraram, por exemplo, diálogos que eles jornalistas trocaram com os promotores, palavra por palavra. Que procuradores que fizeram parte de alguns dos grupos e mantiveram as conversas em seus celulares, também encontraram os diálogos exatamente como estão sendo publicados, palavra por palavra. E os caras insistem que é tudo falso.

Alguns argumentam que Moro não poderia se lembrar de tudo e que já não possui os originais consigo. O Glenn explica que outros promotores têm consigo os originais. Que Moro até hoje não disse que o material era falsificado e que não se reconhecia neles. Tanto assim que até pediu desculpas ao MBL por tê-los chamados de tolos. Que o Moro parece ter uma estranha amnésia com relação aos fatos. E os caras insistem que tudo é falso.

Outros dizem que o conteúdo, mesmo que fosse verdadeiro não desabona o trabalho da Lava Jato. Glenn explica que em qualquer democracia do mundo, um juiz que confabulou com uma das partes de um processo seria imediatamente afastado, os casos julgados anulados e ele processado. Não se trata do trabalho da Lava Jato, mas de um caso específico contra uma pessoa específica. E os caras insistem que tudo é falso.

Em resumo, o nível de alguns parlamentares que estão neste congresso faz o Tiririca pensar como era feliz como palhaço. Tem gente ali com sérios problemas de concatenação lógica.  Tico e Teco não se falam. Sinopses neurais queimadas.

Não existem argumentos que os faça compreender o que está acontecendo, ou que os convençam de que seu herói talvez tenha cometido atos que o desabonem, condenáveis em qualquer cenário democrático no Planeta Terra.

Ainda existe muito material para ser divulgado. A cada vazamento as coisas ficam mais claras e mostram desnudando o que de fato aconteceu. Um conluio sinistro, fora da lei, com objetivos claros de interferência política de acordo com as convicções dos envolvidos.

O que mais se faz necessário para mudar alguma coisa? Realmente a Vaza Jato será capaz de fazer mudanças? Até que ponto se deseja fazer justiça, quando a única opção é a de anular os julgamentos do Presidente Lula?

Todo sistema judiciário está sendo colocado a prova. É um dos seus, desta casta de deuses superprivilegiados que está mostrando que o cumprimento da lei pode ser relativizado de acordo com interesses políticos.

Esqueçam da lei, esqueçam da justiça e não criem falsas esperanças. Este STF fez parte do golpe e dele não se pode esperar nada. E como nada está tão ruim que não possa piorar um pouco mais, vem aí o Ministro Terrivelmente Evangélico.