A Terra é plana. Esta é a mais recente teoria da conspiração que tem atraído os palermas em geral e os seguidores do imbecil Olavo de Carvalho. São os mesmos que dizem que o homem nunca pousou na Lua e que as vacinas são causadoras de doenças como o Autismo. Em sua grande maioria, diga-se de passagem, eleitores de Bolsonaro que acreditam também no Kit Gay, na Mamadeira de Piroca e mais recentemente, na Igreja do Jesus da Goiabeira.

Segundo os terraplanistas, nosso planeta é um círculo plano parado no espaço e tudo o mais gira ao nosso redor. Com isso, dizem eles, fica provado também a existência de Deus. É o dois por um, aceitou que a Terra é plana, ganha de brinde a existência de Deus.

O que me preocupa com esta gente é que antes do advento da Internet eles viviam espalhados por aí sem se conhecerem. Agora eles não só formam grupos no Facebook, como organizam congressos. Pior, eles se dividem em uma espécie de dois partidos diferentes que trocam acusações entre si.

Eu assisti o documentário da Netflix, Atrás de Curva, que tenta ser imparcial. A coisa fica um pouco monótona lá pelas tantas, mas fui até o fim. O protagonista é um dos líderes do movimento que se chama Mark Sargent. Um sujeito boa praça que aos 49 anos ainda mora com a mãe e vive da venda de penduricalhos relacionados a “planicitude terráquea”.

O cara do outro partido é Math Powerland que acusa o rival de ser um ator financiado pela CIA. E não podia faltar a misteriosa mulher do movimento, Patrícia Steere que arrasta uma asa pro Sargent.

Claro que as explicações de todos eles carecem de qualquer fundamento científico e chega, em muitos momentos, a ser risível. Isso em parte se deve aos cientistas entrevistados que dão a entender que aqueles crentes não passam de imbecis ignorantes. O problema é o tamanho e a quantidade destes imbecis soltos pelo mundo e com direito a voto.

Assim como as Fakenews, as teorias conspiratórias tentam se apegar a uma espécie de narrativa aceitável e possível. Normalmente tentam impor uma dúvida, uma só e, se o incauto aceitar esta possibilidade, tudo o mais passa a fazer algum sentido e deixa de ser uma asneira para se tornar uma realidade. Neste momento o que era uma dúvida se torna uma verdade indiscutível.

Quem lida com as Fakenews estudou muito bem o fenômeno das Teorias Conspiratórias. Se alguém for capaz de aceitar que o homem não pousou na Lua, que tudo aquilo foi filmado em Hollywood, então é capaz de aceitar com até mais facilidade a existência da Mamadeira de Piroca. E por esta mesma via, mostrar que a Culpa é do PT, é como tirar doce de criança.

Normalmente as conspirações envolvem governos e grandes corporações que podem, ou não ser nominadas. O governo é parte de praticamente todas elas, depois a CIA, banqueiros, cientistas e não poucas vezes, os judeus. Vejam que não existe um único nome com quem se possa falar.

Quem aceita estas teorias são pessoas de todo tipo, mas em geral religiosas (nada tenho contra as religiões, ou os religiosos), porque são aquelas que costumam aceitar as mazelas do dia a dia como sendo de provações da sua fé. E quando a razão e o bom senso vêm precedidos pela fé, a teoria assume o ar de algo divino que não se discute e crível. Muitas têm propensão a distúrbios paranoicos. Neste caso, temem o governo, acham que são espionadas pela CIA e algumas até chegam as raias do absurdo de que tem um chip implantado na cabeça ao nascerem.

Acontece, como eu disse acima, que todas elas votam e são uma enorme massa de manobra que vão seguir o líder que for apontado para elas. São aquela manada que se o líder correr e se jogar em um despenhadeiro, elas vão junto. Se pensarmos no Brasil, é algo muito parecido com o que estamos assistindo. Pior, aqui eles são o governo!

Este fenômeno não é exclusivo do Brasil, mas aqui encontrou solo fértil. Temos que estudar profundamente suas causas e encontrar o caminho para superá-lo. Não é tarefa fácil e as soluções não são simples, pelo contrário, muito complexas. A maior dificuldade em se tratar um paranoico é que ele não aceita o seu distúrbio.

Algumas pessoas propõe a paridade de armas. Jogar Fakenews contra Fakenews. Nesta proposta a gente deve criar uma maneira de assumir a liderança da manada e ao invés de se jogar no abismo, levar a manada para um terreno onde possam ser tratadas e reeducadas.

Eu acredito que a gente deva estudar o fenômeno com seriedade e com afinco. Temos de procurar compreender as suas causas, mapear os gatilhos que disparam essas crenças em fatos absurdos e encontrar formas de anular seus efeitos e consequências. Se não começarmos agora, nas próximas eleições tudo vai se repetir.