No dia em que meu povo comemora sua libertação da escravidão no Egito, numa mensagem ao mundo da importância da liberdade para todos os seres humanos, achei que escrever algumas linhas sobre Rachel Corrie, seria a melhor forma de enviar a todos uma mensagem de paz.
Esta jovem americana de apenas 23 anos foi assassinada por um soldado israelense que esmagou seu corpo com um trator (http://indybay.org/news/2003/03/1583823.php) . Corrie, membro do grupo Movimento de Solidariedade Internacional (com o povo palestino), tentava impedir que uma casa fosse derrubada. Postada em frente ao trator, ela pedia ao motorista que parasse. Mesmo vendo que havia um ser humano em frente a sua máquina, o motorista passou sobre ela uma vez, e mais uma quando deu ré.
Era 16 de março em Raffiah (Gaza), e a tropa de ocupação recebeu a ordem de destruir mais uma casa. Estes atos são comuns nos territórios como forma de punição coletiva. Uma família cujo membro é acusado de terrorismo, ou de colaboração com terroristas tem sua casa demolida. Muitas abrigam mais de uma dezena de pessoas, uma vez que Israel impede a construção de moradias palestinas em muitas localidades.
Ao tomarem conhecimento de que mais uma casa estava para ser derrubada, um grupo de 7 pessoas do MSI se dirigiu até o local. Corrie de posse de um megafone postou-se em frente ao trator. Os demais membros do grupo ficaram mais atrás. Durante umas duas horas, o grupo conseguiu impedir o avanço do trator. Mas em um determinado momento, o motorista usou a escavadeira para jogar entulhos e areia sobre Corie. Em seguida passou sobre ela duas vezes. O que até então era uma demonstração de resistência pacífica, se tornava uma tragédia.
A morte desta jovem me faz lembrar minha própria juventude. Como sionista e socialista queria que todos os judeus emigrassem de volta para Israel. Achava que o mundo seria melhor se todas as nações fossem socialistas e via no Kibutz a consagração do sonho de que era possível construir uma sociedade onde o homem não explorasse o próprio homem.
Durante a ditadura militar no Brasil simpatizava com grupos estrangeiros como os Montoneros (Argentina) e os Tupamaros (Uruguai). Participava do movimento estudantil contra a ditadura brasileira e tinha em Guevara o herói da luta pela libertação dos povos.
O mundo deu muitas voltas e de todo aquele ideal, hoje resta o sionismo e o socialismo. O kibutz não deu certo, os Montoneros e Tupamaros não existem mais, a ditadura brasileira foi vencida e Guevara ficou para trás.
Por isso, quando vejo jovens como Rachel Corrie, abandonado suas vidas para se dedicarem ao seu ideal de proteger o povo palestino da ocupação israelense, me vejo a 30 anos lutando pelos ideais que eu acreditava. A diferença é naquela época combatíamos ditaduras que oprimiam sues povos restringindo nossa liberdade e nosso direito de livre expressão. Estes jovens que lá estão, tentam preservar vidas num lugar ocupado pelo exército de um país democrático que priva a liberdade de todo um povo, como foi a sua, privada no Egito como escravos, e em outras nações de várias formas ao longo de sua história.
Rachel Corrie deu sua vida pelo ideal da liberdade dos povos. Foram apenas 23 anos que deixam uma lição para os que desejam que a paz e a reconciliação se tornem realidade para israelenses e palestinos.
Nada vai impedir que este dia chegue. No seu lugar, e com o seu ideal, ficamos todos nós.
Que o brilho da liberdade traga paz e esperança para um mundo melhor.