Meus amigos,

há um limite para o tempo que uma nação pode viver dentro de uma história contada por um só homem.

Benjamin Netanyahu não governa — ele narra.

E já faz muito tempo que ele deixou de contar a história de Israel. Passou a contar a sua própria.

Cada frase calculada, cada vídeo editado, cada declaração sobre um cessar-fogo “que sempre fez parte do plano” é uma tentativa de transformar a realidade em roteiro, a dor em trama, a crise em cena. Ele acredita que, se controlar as palavras, poderá controlar o destino. Mas o destino de um povo não se escreve em um teleprompter.

Quando ele diz que tudo está sob controle, o que realmente quer dizer é que ninguém mais pode fazer perguntas.

Quando chama o caos de plano, a improvisação de estratégia, o atraso de paciência — está tirando de vocês o direito de interpretar a própria história.

E uma nação sem sua própria voz não é uma nação livre.

Israel nasceu da pluralidade.

Nasceu do choque de ideias, da divergência honesta, da conversa entre mundos diferentes — religiosos e seculares, judeus e árabes, orientais e ocidentais.

Essa mistura, essa bela cacofonia, foi o que tornou este lugar único.

E agora, tudo isso corre o risco de se reduzir a um único monólogo, repetido noite após noite, enquanto a vida real acontece fora da câmera.

A verdade é que o povo israelense não precisa de um narrador.

Precisa de um futuro.

E o futuro não se escreve com frases prontas — constrói-se com coragem.

Coragem para admitir erros.

Coragem para entender que força não é parecer invencível, mas permanecer de pé mesmo quando o chão treme sob os pés.

Coragem para aceitar que o mundo mudou — e que a segurança de Israel não pode repousar apenas sobre muros, mas sobre princípios: justiça, empatia e dignidade.

Vocês sabem disso.

Vocês sentem isso todos os dias — quando levam seus filhos à escola, quando vão ao mercado, quando esperam alguém que amam voltar do exército.

No fundo, o que todos desejam é simples: viver em paz, com decência, com verdade.

Mas a verdade exige escuta.

E ninguém pode escutar enquanto ocupa todo o espaço da conversa.

O poder não deveria ser a voz mais alta da sala, e sim aquela capaz de fazer uma pausa — para ouvir o que o povo tem a dizer.

Israel precisa recuperar o “nós”.

O “nós” que sobreviveu a desertos e guerras.

O “nós” que resistiu mesmo quando o mundo virou o rosto.

O “nós” que fez florescer uma democracia frágil em meio ao medo e à dúvida.

Esse “nós” está se perdendo — não porque o inimigo é forte, mas porque esquecemos como ouvir uns aos outros.

Não é a primeira vez que a história tenta se repetir. Mas todas as vezes em que Israel escolheu recomeçar, escolheu a esperança em vez do cinismo. A verdade em vez do medo. O diálogo em vez do grito.

E é disso que este país precisa agora.

Não de um narrador eterno, mas de um novo capítulo escrito por muitas mãos.

Um capítulo em que a força não venha da arrogância, mas da compaixão.

Em que a segurança não seja o silêncio do outro, mas a paz que começa quando dois povos podem respirar o mesmo ar sem medo.

Israel não precisa de um autor.

Precisa de um coro.

Precisa de um povo que se lembre de que a história desta terra sempre foi maior do que qualquer líder.

A verdadeira grandeza de Israel nunca esteve em quem fala, mas em quem ouve.

E é ouvindo que toda nova história começa.