Lula está livre, e agora?

Muitos companheiros se perguntam o que fazer agora que Lula está livre. Nossa maior bandeira da resistência a este governo fascista está de volta entre nós e aponta caminhos, os quais, muita gente está questionando.

A esquerda brasileira nunca governou o país sozinha. Aliás, é bom que se diga, nenhumpartido tem maioria para governar sem alianças, e elas tem um custo. O dilema é sempre o mesmo, se me aliar eu consigo realizar a maioria das propostas pelas quais fui eleito, sem alianças, não consigo governar. Simples assim, se chama efeito colateral de uma democracia.

A ideia de que podemos retornar ao poder na esteira deste desastroso governo, fazendosozinhos maioria na câmara e no senado, é um devaneio irrealizável e sua mera menção um despropósito que não vai nos levar a lugar algum.

Tanto no parlamentarismo, como no presidencialismo, os partidos majoritários precisam sealiar a outros partidos para formarem um governo estável. Isto é bom quando pensamos que estes pequenos partidos representam minorias que assim se veem inseridas na governabilidade. É ruim, quando estes pequenos partidos cobram um preço alto demais para darem seu apoio.

Lula sempre soube costurar boas alianças, inclusive com partidos que todos torcemos osnarizes ao serem mencionados. Podem dizer que foi por conta de uma destas alianças que tivemos o golpe contra a Presidenta Dilma até mesmo com o voto de uma pessoa que agora ele tenta resgatar de volta para o partido. Tudo isso é verdade, mas não é toda a verdade.

O fato é que sem este partido, jamais Lula teria feito o melhor governo da históriademocrática deste país. Todas as suas realizações atribuídas ao governo do PT só foram possíveis com o apoio deste partido e de outros como ele. Se não soubermos reconhecer isso, então temos um sério problema.

Correram rumores de que ele tentou resgatar de volta para o partido uma velha conhecidanossa. Neste caso, talvez, uma pessoa capaz, neste momento, de tirar a prefeitura de São Paulo do PSDB. Alguém acha que isso é pouco? O preço a pagar é alto? Claro que é, mas é o preço a pagar por um bem maior. Se ainda não perceberam, estamos em uma verdadeira guerra, e na guerra medidas excepcionais precisam ser implementadas.

Todos que estamos na resistência, temos tido o prazer de nos encontrar entre iguais, entreamigos na mesma trincheira, fazermos novas amizades e encontrar conforto nas palavras de carinho e apreço de cada um. Isto é o que tem nos mantido unidos e renovados na luta de cada dia. Ninguém solta a mão de ninguém vem sendo repetido a exaustão.

Sabemos que na realidade, esta que está aí fora quando abrimos a porta de casa para sair, ébem outra. Nada do que fomos capazes de fazer até agora mudou o governo que está no poder e sua fome insaciável por causar o maior mal possível a classe trabalhadora. Em sua maleficência diária vai transformando o Brasil em um pária entre as nações.

Lula está livre, e chegou a hora de escutar as lições que ele tem para nos dar. Ele não éperfeito, mas com certeza sua experiência de vida merece nosso respeito e nossa atenção. Precisamos voltar ao poder. O Brasil precisa que estejamos de volta governando o maior número de cidades, de estados e depois o país. Todas nossas ações precisam ser pensadas de maneira pragmática com este objetivo. Hoje o inimigo de nosso inimigo é nosso amigo, simples assim.

Não podemos nos dar ao luxo de escolher quem deve estar do nosso lado. Temos de buscaralianças para varrer esta milícia que está no poder e acabar com sua política neoliberal que trouxe de volta à fome e a miséria para nosso povo. É preciso, repito, ter consciência de que somos incapazes de fazer isso somente com nossas próprias forças ou contando somente com quem está a nossa esquerda.

A perseguição a Lula não terminou com sua libertação e a qualquer momento tudo poderetroceder. Seus algozes continuam soltos, sedentos por vingança, e não se dão por vencidos, pelo contrário, estão procurando a todo momento como calá-lo de uma vez por todas.

Companheiros, é tempo de pensar em aceitar estratégias pragmáticas, aprender comnossos erros e trabalhar juntos para devolver os direitos perdidos ao nosso povo. Trabalhar com um olhar para frente e outro para quem está ao nosso lado. O país precisa de nossa força e disposição para a luta. Nossa militância é imbatível e incansável na resistência.

À luta, com Lula Livre.

Não é o Lula, é o Lula

Não é o Lula, é o Lula

Um julgamento da constitucionalidade de uma lei que começa errado, tem tudo para dar errado. Sim, é a aplicação da lei que está em jogo. Uma pessoa é inocente até que se prove o contrário e seu processo termine, ou ela pode ser condenada quando em segunda instância for confirmada a culpa, mesmo podendo recorrer?

A constituição é claríssima em relação a isto. Ninguém pode ser condenado sem trânsito em julgado. Em outras palavras, um culpado de um crime qualquer, só pode cumprir sua pena, quando tiver sua condenação confirmada e todos os recursos negados confirmando sua culpa.

Uma justiça correta é aquela que pode vir a inocentar 10 culpados, mas nunca condenar um inocente. A teoria é uma, e como se sabe, a prática é outra. Por isso existem mais instâncias, para evitar erros de todo tipo. Ainda assim, escutamos casos de condenações indevidas de gente que passa anos atrás das grades até provar sua inocência.

O que estamos vendo nestes dias é o fascismo clássico instalado no país. A grande mídia em geral, está tentando fazer com que o julgamento seja o de Lula, não da lei. Seja de José Dirceu, não da constituição. Seja de todos os que serão “beneficiados”, supostos culpados de crimes já condenados em duas instâncias. Para eles, a lei pode ser interpretada diante das consequências de uma decisão pelo estado de direito. Neste caso, outros países, onde existem menos recursos e a justiça é muito mais ágil, são usados como exemplo para o Brasil.

Para a grande mídia e até um general, uma decisão pela legalidade poderia trazer consequências imprevisíveis tais como uma convulsão social. Pressionam os juízes do STF a não serem garantistas. Querem que a lei posso ser descumprida dependendo para quem ela se aplica. Fascistas.

O Brasil está sendo governado por lunáticos liderados por um inepto que não tem ideia do cargo que ocupa. Nossa imagem no exterior é a pior possível. Internamente a diferença entre ricos e pobres se tornou assustadora. O sujeito eleito para resolver os problemas do país, passa o dia no Twitter. Comemora até o aumento de empregos temporários de verão!

Se o Brasil fosse um navio, já teria afundado. Se fosse um avião, já teria caído. Um prédio, já teria desmoronado. Um carro, motor fundido. Felizmente o país ainda se aguenta. De joelhos, é verdade, mas ainda se segurando. Até quando, difícil dizer.

Países vizinhos, por muito menos do que isso, foram as ruas. O povo se revoltou e enfrentou as forças de segurança até atingirem seu objetivo. E conseguiram. Os brasileiros ainda são muito benevolentes. Talvez sejam as distâncias, o clima, o desalento. Talvez a falta de esperança em lutar por seus legítimos direitos frente ao abandono do estado. O brasileiro é hoje um covarde.

Temos um prisioneiro político cujo julgamento foi uma bizarrice. Juiz e promotores agindo em conluio para condenar o réu. Transgressões judiciais sendo minimizadas e a defesa sendo totalmente desrespeitada com escutas autorizadas nos telefones dos advogados, inclusive no escritório de trabalho. Ações combinadas, algumas para terem maior impacto midiático, vazamentos de toda ordem, tudo que seria caso de prisão em um estado democrático de direito.

O que vamos assistir nos próximos dias é uma batalha entre a legalidade e igualdade da lei para todos contra a sanha fascista que assola o país. Eles não podem aceitar Lula livre. Não podem suportar um presidente que governa para o povo, pelo povo. Seu Deus é o lucro, para ele vivem e por ele estão dispostos a qualquer coisa, inclusive a volta da ditadura.

Eles não pensam no país e no seu futuro. Tem nojo do povo. Querem somente obter garantias de que possam viver cada vez melhor. Imposto é para pobre pagar. Crime se combate com bala e educação tem que ser para poucos, os que podem pagar por ela. Meritocracia é a palavra de ordem. Socialismo é palavrão.

Acordem brasileiros, basta de tanta tolerância. Seu futuro foi destruído e seu presente é um tormento. Cada dia pior, balas perdidas só atingem crianças pobres. Na favela eles caçam traficantes, nos bairros ricos eles buscam por distribuidores. A vida do trabalhador acabou. Tanto para quem trabalha, perdendo direitos e aposentadoria, como para quem busca trabalho. Agora todos são empreendedores, ciclistas do asfalto entregando comida para os ricos, faça sol, faça chuva, rezando por uma gorjeta.

Chega de tanta humilhação brasileiros. Resistam, levantem, manifestem-se, vão às ruas e lá permaneçam até que suas vozes sejam escutadas e respeitadas. Saiam das trincheiras e lutem por seus direitos.

 

 

O Caso Moro

O que assistimos pela TV durante o depoimento de Sergio Moro, não foi nada mais do que a tentativa de relativizar transgressões graves cometidas por ele quando juiz da Lava Jato.

De acordo com a Wikipédia, o relativismo é o conceito de que os pontos de vista não têm uma verdade absoluta ou validade intrínsecas, mas eles têm apenas um valor relativo, subjetivo, de acordo com diferenças na percepção e consideração.

Devo esclarecer de que este é o comportamento de uma pessoa culpada, aquela que tem plena consciência de que cometeu uma ilicitude. O inocente sabe que não fez nada de errado, de que não cometeu um crime. Ele normalmente vai negar e argumentar com provas. Pode aceitar as razões que o levam a ser um suspeito, mas consegue explicar as razões que o eliminam da suspeição. Não foi o que vimos.

Vamos deixar de lado a questão de como foram obtidas as conversas e o que mais ainda está por vir. Tratemos do que realmente importa.

Moro procurou atacar as provas, segundo ele, obtidas de forma ilegal em dissonância com o interesse público, e que foi uma prática criminosa contra ele e as instituições brasileiras. Depois disse que não poderia se lembrar de conversas acontecidas há dois anos. Também afirmou que tudo poderia estar sendo editado. Explicou se tratar de uma tentativa de desestabilizar a Lava Jato, e que o resultado seria a libertação dos condenados e a devolução do dinheiro recuperado.

Questionado sobre o que de fato estava sendo mostrado, ou seja, o conluio entre ele e o MP, as cobranças sobre a investigação, o desdém com a defesa etc, nada disso tem importância diante do que foi obtido pela sua atuação na Lava Jato. Tudo é sensacionalismo de fatos corriqueiros de quem conhece os meandros da justiça. Em outras palavras, tudo é relativo.

O que ele tentou nos dizer é o seguinte: quem conhece a política sabe que o caixa 2 sempre existiu, era praticado por todos os partidos e por todos os postulantes a cargos eletivos. Então não seria uma prática ilegal, mesmo que a lei dissesse o contrário.

Quem conhece a justiça sabe que juízes conversam com as partes fora do processo. Nem todos, é verdade, mas acontece mais do que deveria. Neste caso, esta prática também não seria ilegal, mesmo que lei diga o contrário.

Acontece que não foram apenas meras conversas, foram diretrizes de comportamento e de atuação. Até quem deveria estar presente durante um depoimento foi tratado. Foi uma parceria para atender um desejo em comum, a condenação do réu a qualquer preço. O que aconteceu escancarou uma verdadeira quadrilha “judicial” com todos os seus elementos devidamente qualificados que agiram de comum acordo para cometer um crime.

Moro pode tentar relativizar seus atos, mas isso não muda os fatos. O que aconteceu provavelmente não encontra precedentes na nossa história. Não foi um descuido, não foi o uso de um meio mais moderno para tratar de assunto corriqueiro. Foram combinações, instruções, comentários jocosos sobre a outra parte. Nada disso encontra previsão legal. E nem poderia, pois não existe sistema jurídico no mundo que aceite este comportamento de parte de um juiz.

Na minha profissão trabalho com a mentira há muitos anos. Já vi muita coisa e ainda não vi tudo. O Caso Moro, como provavelmente virá a ser conhecido, é um marco histórico, isso não tenho dúvidas. Será matéria de estudo em todos os cursos de direito do país, e talvez de muitos outros países. Será uma lição dos limites de atuação de um magistrado.

Aprendi muita coisa e deixo aqui uma lição que costumo passar para meus alunos. Qualquer semelhança com a vida real, não é mera coincidência.

Os 10 mandamentos para se contar uma mentira convincente:

  1. Planeje sua mentira. Faça com que seja plausível demonstrando fluência e conhecimento de sua audiência. Tenha uma segunda mentira pronta.
  2. Mantenha a mentira de tamanho pequeno e simples. Nunca inclua outras pessoas na mentira, a menos que seja estritamente necessário – elas sempre vão estragar tudo. Afinal de contas a mentira é sua e não delas.
  3. Baseie a mentira em fatos remotos, fatos que nunca possam ser checados, como ações realizadas por pessoas imaginárias. Mas complete a mentira com fatos reais em detalhes, especialmente se a audiência souber que eles são verdadeiros ou puder checá-los.
  4. Minta de forma vigorosa e confidente, acredite em si mesmo. Acima de tudo, olhe para eles diretamente nos olhos quando estiver mentindo.
  5. Diga apenas a quantidade de mentira que você necessita. Não se deixe levar pela emoção.
  6. Repita a mentira. Se a audiência for suspeita, mas permitir que você prossiga, volte a mentira no futuro. Lembre-se que você nunca sabe quando irá precisar mentir para a mesma audiência novamente.
  7. Jogue o ônus da prova para eles. Faça com que eles provem que você está mentindo: não permita com que eles façam você provar que está dizendo a verdade.
  8. Apele para o mal-entendido. Explique que eles não compreenderam bem suas palavras, sentimentos, intenções ou maneira de falar. Lembre-se de que a menos que exista um gravador no recinto, ninguém pode provar o que você disse há 5 minutos atrás.
  9. Chute o balde. Se eles estão determinados a provar que você é um mentiroso, faça com que paguem caro por isso. Muitas pessoas irão preferir aceitar quietos uma mentira a enfrentarem o constrangimento social necessário para demonstrar a mentira. Se eles o jogarem para fora da curva, siga o mandamento seis.
  10. Se tudo der errado, admita você tentou mentir, peça desculpas, elogie a audiência por sua percepção – então conte a segunda mentira!

 

Segue o rufar dos tambores da guerra

O que pareceu um alento, um cessar fogo de 72 horas com negociações marcadas para acontecer no Cairo, se dissipou em 2 horas. Os dois lados se acusam de terem violado os termos acertados, o que provavelmente significa que ambos têm razão e ninguém falou sério em parar as hostilidades.
O número de vítimas não para de crescer, principalmente o de civis palestinos. Além da perda de vidas, a destruição material é imensa. Os dados apontam que 25% da população de Gaza não terá para onde voltar quando as armas silenciarem.
Do lado israelense, além de 3 civis, agora já são 61 soldados que perderam a vida e um desaparecido. Israel diz que ele foi aprisionado, mas o Hamas nega.
Eu creio que já estamos assistindo ao fenômeno da revanche. O soldado desaparecido fazia parte de um grupo de três soldados atacados por um suicida. Dois morreram, e o terceiro por não ter sido encontrado, acredita-se que tenha caído em mãos do Hamas. Acontece que não mais somente o Hamas e a Jihad Islâmica que estão combatendo. Pessoas sem filiação a qualquer grupo estão se somando a luta para vingarem seus mortos. Logo vão aparecer mais suicidas. Não é mais o Hamas que defende Gaza, é a sua população que luta pela vida.
Israel vai ganhar esta guerra perdendo. Afirmação estranha, mas é o cenário mais provável. Militarmente a vitória vai ser incontestável ara onde se quiser olhar. A maioria dos túneis, senão em sua totalidade, serão destruídos. O inimigo terá sofrido um número de baixas considerável em combatentes, e a perda de armamento de difícil e lenta reposição.
No mais, a vitória será do Hamas. Com a finalização do número de vítimas civis, principalmente de mulheres e crianças e a destruição de milhares de moradias, os tribunais serão inundados por pedidos de condenação por crime de guerra e indenizações, cujo resultado desta vez, pode ser bastante doloroso para Israel.
Mais ainda. O fim do bloqueio a Gaza, principal demanda do Hamas poderá ter de ser atendida, ou os túneis voltarão a ser construídos um a um. E ainda é preciso lembrar que no cenário político, são poucos os países que ainda apoiam Israel incondicionalmente. Na ONU o quadro é desolador.
Existe também o componente sociológico oriundo desta guerra.  De um lado o aumento formidável do antissemitismo. Todo judeu passou a ser um israelense e como Israel é visto como o agressor, nós judeus estamos recebendo a parte que nos toca. No entanto, nunca se viu antes as comunidades judaicas tão divididas como agora. Se antes qualquer atitude agressiva de Israel era compreendida como um ato de sobrevivência contra um mundo árabe que desejava sua destruição, agora não mais. O número de judeus que declaram “não em meu nome”, cresceu exponencialmente. Não são judeus que passaram a apoiar o Hamas, mas judeus que disseram que não aceitam este massacre desproporcional.
De outro, o fenômeno da xenofobia israelense. Pacifistas, membros de partidos de esquerda e árabes em geral passaram a ser hostilizados e agredidos fisicamente sob o olhar complacente da  polícia. É verdade que foram anunciadas algumas prisões, mas a falta de leis que impeçam o racismo se faz ais do que necessária. Uma lei que impeça além destes grupos fascistas continuarem agindo, que autoridades se pronunciem incitando a sociedade contra as minorias.
Agora nos resta torcer para que as lições das falhas deste cessar fogo tenham sido absorvidas e sirvam para balizar um novo entendimento que proporcione uma nova trégua. Uma parada que permita aos diplomatas fazerem seu trabalho enquanto a população dos dois lados possa ter uns dias de alívio.

A raça humana


Geralmente grandes catástrofes são responsáveis por um número elevado de vítimas humanas. É a natureza que se rebela e de repente um furacão, um tsunami, um vulcão em erupção causa inúmeras mortes.

Como explicar quando os humanos são a causa de catástrofes? Em poucos dias tivemos a derrubada de um avião de passageiros com quase 300 pessoas a bordo por um ser humano. Na Síria, 270 mortes causadas por seres humanos. Em Gaza já estamos próximos de 500 mortes causadas por seres humanos. Nem vou falar do número diário de assassinatos, atentados a bomba etc, ao redor do mundo.


Como é possível que tenhamos feito tanto progresso nas mais variadas tecnologias que nos permitem viver mais e melhor, e ao mesmo tempo não termos criado ainda condições de impedir que humanos matem humanos?


Somos capazes de cometer os atos mais hediondos contra nossos semelhantes, não importa a idade ou o sexo. Matamos indiscriminadamente em nome de Deus, e/ou da pátria, e/ou de uma ideologia e/ou pelo prazer de matar.


Será que a natureza nos criou com tamanho defeito? Será que nunca vamos ser capazes de nos negar a cometer homicídios, sejam eles individuais, coletivos, com ou sem a chancela do estado?

Enaltecemos direitos de uns, sobre os direitos de outros vencendo a lei do mais forte, não a justiça.

Louvamos os gritos de guerra e morte aos outros sobre a voz da paz e da convivência pacífica entre os povos.


Nos solidarizamos com a vingança sobre a razão.


Gratificamos o terror sobre a ternura.


Ainda assim acredito na nossa capacidade de superar tudo isso. De acordo com a tradição judaica 36 justos mantém o mundo. Seja lá onde estiverem, tragam luz sobre esta período de trevas.

Na moral

Todos nós temos necessidade de justificar moralmente nossas
ações quando compreendemos perfeitamente que elas não são justificáveis. tudo
que fazemos de maneira correta, evidentemente que não necessita de nenhuma
justificativa, ou explicação.

Isto é que está ocorrendo com muitos judeus atualmente. Eu
leio postagens e mais postagens com  desenhos, vídeos e todo tipo de arte para
justificar porque estamos matando em Gaza mulheres e crianças, bombardeando
prédios de apartamentos, hospitais e escolas. Todos tentam convencer o leitor
de que o Hamas esconde seu armamento junto com estas pessoas, ou nestes locais,
e que ele o Hamas é o verdadeiro e único responsável por esta destruição e
estas mortes. Esta é portanto a justificativa moral para as atrocidades.

Vamos imaginar, apenas para fins de exercício mental, que um
vizinho de um apartamento do prédio onde você reside, ou do seu condomínio,
seja um dos maiores traficantes do mundo. Um sujeito responsável pelo tráfico
internacional de drogas e junto com as drogas, armas de todo tipo. Vamos imaginar
que na casa dele, ele esconda um verdadeiro laboratório de refino de drogas. Que
ele também esconda armas e possui um verdadeiro exército de homens que o
protegem. Então o estado resolve tomar uma atitude.

Para enfrentá-lo chama a Força Nacional de Segurança. Eles
invadem seu prédio, seu condomínio e atiram em tudo e em todos. Atiram primeiro
e perguntam depois. Tudo que se mexe é alvo de tiros. No final da operação, o
traficante e seus homens foram mortos. Junto com eles você descobre que também
mataram os seus filhos, a sua mulher, os seus pais, os seus amigos e o seu
cachorro que infelizmente lá estavam.

O estado justifica a ação dizendo que retirou das ruas o
inimigo número um da sociedade. Responsável pela morte de milhares de jovens
que tinham suas vidas destruídas pelas drogas e que o preço pago é aceitável.

Você aceitaria isso? Sua vida foi destruída. Seu único crime
foi morar no mesmo lugar que aquele bandido. Então as vidas perdidas para
eliminar um criminoso justificam as mortes colaterais da operação policial?

Esta é a pergunta que me faço todos os dias. A força
empregada para eliminar o Hamas e parar com o disparo de foguetes justifica as
mortes dos civis e a destruição de seus lares porque alguém deste grupo morava
naquele local, ou escondia lá seu armamento? E todos os dias eu continuo
respondendo que não.

A única solução é política. É o fim da ocupação e a criação
de um Estado Palestino.

Não existe, e nunca existirá justificativa moral para estas
mortes. Nós dizemos que quem salva uma vida, salva toda a humanidade. Eu digo
que aqueles que justificam moralmente quem tira uma vida inocente, mata nossa
humanidade.