No filme “O Feitiço do Tempo”, um repórter vai cobrir um festival dedicado à marmota, no interior dos Estados Unidos. Algo inexplicável acontece, e então todas as manhãs ele acorda no mesmo dia, e tudo se repete indefinidamente.
Na vida real, o Brasil se encontra mergulhado em uma situação muito semelhante. Algo aconteceu, e temos que reviver nossa história novamente, uma, e outra, e outra, vez.
A diferença é que no caso do Brasil há uma explicação perfeitamente identificável para o fenômeno. Ela responde pelo nome de covardia.
O poeta e filósofo hispano-americano George Santayana ensinava que o progresso humano decorre principalmente da capacidade de retenção das experiências vividas. É dela que nasce a possibilidade de melhora e aperfeiçoamento de qualquer coisa. Ele escreveu: “Quando a experiência não é retida (…) a infância é perpétua”. E arrematou o raciocínio com a mais célebre de suas frases: “Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo”. (“A Vida da Razão, ou As Fases do Progresso Humano”, 1905, volume I, capítulo XII).
Pois bem. Quando se trata de consolidar um verdadeiro processo democrático, o Brasil jamais consegue ultrapassar os primeiros estágios. A democracia brasileira é uma espécie de Peter Pan: nunca chega à idade adulta.
E a razão é bem aquela apontada pelo filósofo: não aprendemos a lição das más experiências vividas, para evoluir evitando que se repitam.
Nosso País sofre de um desvio renitente, que é o vício incontrolável dos militares em se imiscuir nos assuntos políticos. Isso é assim desde a própria proclamação da República, que não passou de uma quartelada.
Não é um desvio inédito. Durante milênios a cultura humana foi balizada pela lei do mais forte. Quem tinha armas mais eficientes mandava. Só que a civilização evoluiu. Nos dias atuais a relação força/poder está longe de ser automática.
Mas esse estágio específico ainda não chegou a estas plagas.
Nos 133 anos que se passaram desde o 15 de novembro de 1889, são inúmeros os episódios em que os homens cuja função deveria ser zelar pela segurança e soberania da Pátria em face de ameaças externas se julgaram no direito de interferir nos destinos domésticos da mesma, partindo do princípio absurdo de que sabem mais do que o resto da sociedade o que é melhor para todos.
Seja porque ameaças externas hostis não há, seja porque com as outras, que consideram “amigáveis” (mas não são!), eles preferem colaborar, o fato é que por aqui, ainda hoje, quem tem armas pensa poder tutelar quem não tem.
O grande problema é que, provavelmente por medo dessas armas, em nenhuma dessas ocasiões o corpo da sociedade brasileira teve a coragem de enfrentá-los e colocá-los no seu devido lugar. Dessa imunidade/impunidade resulta a persistência do vício e, com ele, do desvio.
Estamos, hoje, vivendo um novo recomeço. Agora bastante mais dolorido, porque entre 1985 e 2016 o Brasil desfrutou do mais longo e estável período contínuo de democracia da história. Pode-se até dizer que desta vez quase conseguimos chegar à adolescência.
Mas, parafraseando a profecia do imortal Drummond, no meio do caminho havia um quartel.
Nas décadas de 60 a 80 do século passado todo o cone sul da América do Sul esteve sob o jugo de ditaduras militares. Brasil, Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia, todos experimentaram a selvageria insana de tiranos nascidos nos quarteis.
Nos anos 80 esses regimes, um a um, foram caindo. Com a restauração de suas democracias, cada um dos países responsabilizou, de uma forma ou de outra, os criminosos fardados. Menos o Brasil, que os anistiou e os manteve, mais uma vez, impunes.
Aqui foi necessária a formação de uma enorme frente política, reunindo forças das mais variadas vertentes, para conseguir uma transição democrática que, mesmo assim, só foi possível após negociações que implicaram em concessões enormes às exigências que, graças às fraquezas dos democratas, os tiranos ainda tinham força para fazer.
Hoje, com a possível exceção da Bolívia, que sofreu um solavanco logo superado, todos os demais são democracias consolidadas, nas quais os militares não interferem, limitando-se conscientemente a seu papel constitucional. Inclusive os da Bolívia. Enquanto isso nós, por aqui, nos vemos novamente às voltas com as tropelias da milicada.
Ou seja, voltamos à primeira infância democrática. De novo.
Já se sabe que os militares brasileiros tiveram ativa e efetiva participação no golpe que destituiu a presidente constitucional do País, Dilma Roussef, em 2016. Naquela ocasião eles já estavam em plena e aberta – e ilegal – campanha para tomar o poder através de Jair Bolsonaro, desprezando, inclusive, em prol de seu interesse, o fato de que décadas antes este cidadão havia sido expulso do exército por terrorismo, e que foi classificado como “mau militar” até mesmo por um dos líderes da ditadura, o General Ernesto Geisel.
A raiz desse “revival” em particular foi o ressentimento estúpido dos generais porque o governo federal, sob Dilma, “ousou” instituir uma Comissão da Verdade, unicamente com o objetivo de restaurar a memória da ditadura. Nunca houve intenção de punir ninguém. Tratou-se, tão somente, de uma iniciativa absolutamente necessária a qualquer Nação que deseje fazer as pazes consigo mesma após um trauma daquela magnitude, no sentido de jogar luz sobre seu passado.
Aqui nem isso podia. Era um “ultraje” sequer insinuar que os milicos que sequestraram, torturaram e mataram haviam feito qualquer coisa errada, os pobrezinhos.
O resto é história. Intimidaram abertamente o STF para não deixar Lula concorrer em 2018, e apadrinharam a construção de um governo de extrema-direita responsável por um período de verdadeiro terror fascista.
Então, foi necessária a formação de uma nova frente amplíssima para, a duríssimas penas, tirá-los do poder. E começar tudo de novo. Do zero.
Pois bem. Se, ainda por esta vez, formos covardes, não dando ao passado a devida atenção, é quase certo que o repetiremos e viveremos outra vez o mesmo ciclo. Já estão expostos à luz do dia, para quem quiser ver, inúmeros elementos mostrando isso.
O próprio processo eleitoral recém-findo foi fortemente contaminado pela esdrúxula pressão vinda dos quarteis, a qual, diga-se de passagem, enfrentou quase nenhuma resistência oficial.
Proclamado o resultado, os derrotados passaram a tentar sabotar a vida do país através de manifestações golpistas, ilegais e, mesmo, criminosas, sob a omissão e o beneplácito cúmplices do governo, que ainda comanda as instituições que deveriam combatê-las.
Dias atrás os três comandantes das Forças Armadas se deram ao desfrute de emitir uma nota claramente política, total e descaradamente violadora dos limites legais aos quais deveriam estar obrigatoriamente circunscritos. Nela, velada mas afrontosamente, fazem críticas ao Poder Judiciário, apoiam abertamente as manifestações criminosas, ancorados em uma interpretação no mínimo cínica (e no máximo mal-intencionada) do conceito de liberdade de expressão e, pior de tudo, sem meias palavras, reafirmam expressamente a perigosíssima mentira de que seriam titulares de um poder moderador, figura jurídica inexistente no Brasil desde, justamente, a proclamação da República.
Os “veneráveis” Valdemar da Costa Neto e Marco Feliciano, porta-vozes de tudo o que há de mais desprezível na sociedade brasileira, e donos de duas das mais tenebrosas folhas-corridas da República, já lançaram e trabalham freneticamente pela candidatura de Bolsonaro para 2026, campanha para a qual não serão poucos os seus potenciais aliados.
Resulta de tudo isso que, se quiser evitar novos retrocessos democráticos que os canalhas de toda laia já tentam colocar no horizonte, a grande frente que conseguiu derrubar do poder, por enquanto, essa quadrilha de facínoras, tem um caminho dificílimo pela frente.
O ovo da serpente há muito já foi chocado, sem encontrar obstáculos significativos. Hoje o réptil se encontra à solta, agindo incessantemente para sabotar o avanço do Brasil rumo a uma democracia minimamente séria e madura.
Por isso não é possível mais contemporizar. Ou se lhe corta a cabeça de uma vez por todas, ou em breve estaremos às voltas com grande possibilidade de novo retrocesso.
Dito de outro modo, agora será necessário agir com rigor contra todos os criminosos, fardados ou não. Os militares golpistas deverão ser severamente responsabilizados, e as Forças Armadas além de expurgadas de todos os desvios e vícios que as têm caracterizado precisam, de uma vez por todas, ser enquadradas pelo poder civil, conforme prega a nossa Constituição e, a propósito, a de todos os países civilizados do mundo.
Bolsonaro, por outro lado, sequer poderá se candidatar na próxima, ou quiçá em qualquer outra eleição, pois os crimes que cometeu deverão levá-lo à cadeia, e por muito tempo. O mesmo quanto a inúmeros de seus asseclas, ocupem ou não qualquer cargo público.
O desafio consiste em dotar as forças do novo governo da vontade política necessária que, para tanto, não pode ser menos do que férrea, radical e irredutível.
A dúvida que surge, inevitável, é se, dada sua evidente heterogeneidade, essas forças poderão manter-se unidas diante dessa tarefa, unidade sem a qual, mais do que difícil, ela se configurará impossível.
O conhecido site de esquerda 247 outra coisa não é do que uma Rede Globo com sinal trocado. Infinitamente menor e menos influente, mas igualmente mal-intencionado.
Trata-se de pura manipulação disfarçada de jornalismo. O veículo é instrumento de militância política em prol das convicções de seu comandante, Leonardo Attuch. Não permite qualquer contraditório. Se a pessoa for vinculada ao canal e discordar, rua, sumariamente. Se não for, é inimigo.
Há exemplos de todo tipo. Mas vou focar em um específico.
O antissemitismo é um dos mais antigos e resilientes racismos que mancham a espécie humana. Expulso da Judeia pelos romanos no ano 70 d.C., o povo judeu se espalhou pelo mundo. Mas jamais abriu mão de sua identidade.
Não há nenhum outro exemplo, na História, de um grupo humano desprovido de território que tenha se mantido unido por cultura, religião e tradição. E isso por dois milênios.
A contradição, privativa do judeu, entre nacionalidade e etnia, eternizou-o como “estrangeiro dos estrangeiros”, em todo e qualquer lugar que habitasse. Isso o tornou alvo preferencial dos ódios chauvinistas irracionais. Porém, explicar esse fenômeno não é meu objetivo aqui.
Em 1948 a humanidade tentou solucionar a questão, e deu aos judeus uma pátria nacional. Isso gerou um dos mais longos e cruéis confrontos bélicos de todos os tempos. Tampouco, e pela mesma razão, me deterei nessa questão.
Não faltam historiadores e cientistas sociais que abordam ambos os pontos com propriedade.
Minha intenção é tentar demonstrar que a simples existência do Estado de Israel constitui um divisor de águas histórico sobre a natureza do antissemitismo.
Esse país nasce quase que simultaneamente com a Guerra Fria. O mundo se resumia a dois polos. Ou se estava com o lado socialista, chefiado pela União Soviética, ou com o capitalista, sob a liderança dos Estados Unidos. Era impossível ser neutro.
Com o tempo, Israel tornou-se aliado preferencial dos EUA, e peça-chave da estratégia ocidental para a Ásia e o Oriente Médio.
Paralelamente, recrudescia o conflito árabe-israelense. Como tudo era preto ou branco, se o ocidente apoiava Israel, carregando consigo toda a direita do mundo, então o bloco socialista e a esquerda mundial passaram a estar ao lado dos árabes.
Mas a equação ainda se complicou mais. Em determinado momento a direita radical tomou o poder em Israel, para não mais deixá-lo – pelo menos até hoje.
Ocorre que a sociedade israelense está dividida rigorosamente ao meio. Para manter o controle, os fascistas necessitam do apoio dos religiosos fanáticos, os quais julgam possuir uma escritura divina que lhes confere propriedade sobre todo o território.
A aliança do ódio de uns com a cegueira dos outros, determina uma política de desprezo às resoluções internacionais que conferem ao povo palestino o mesmo direito que possuem os judeus, a um Estado Soberano. O resultado é a ocupação crescente, implacável e ilegal, dos espaços físicos nos quais esse ente nacional deveria ser construído.
Ora, e o 247 com isso?
Explico. Há que se considerar a existência de três elementos.
O primeiro se chama sionismo. Trata-se do movimento político-ideológico, surgido no século XIX, que defendia a criação, na então Palestina, de um estado nacional para o povo judeu.
Em segundo lugar, o contexto histórico e geopolítico já mencionado. Desde o início da Guerra Fria a esquerda se colocou a favor do Estado Palestino e contra as posições israelenses, sempre fiéis aos EUA. Isso só piorou, posteriormente, quando a extrema direita se apossou do governo israelense e acirrou sem peias as políticas de agressão ao povo palestino. Necessário observar que muito recentemente foi empossada no governo uma composição esdrúxula, mas um pouco mais moderada, composta de representantes de várias tendências. Eventuais alterações nas políticas referentes aos palestinos ainda são uma incógnita.
Por fim, temos a esquerda judia, com suas várias facetas (como, aliás, ocorre com todas as esquerdas do mundo), inclusive uma que é sionista. Ela atua tanto dentro quanto fora de Israel e, embora esteja alijada da capacidade de tomar decisões que influenciem as políticas expansionistas e irracionais adotadas por ele, desenvolve uma luta diária, hercúlea e incessante, pela reversão deste cenário.
A esquerda judia sionista é defensora da resolução da ONU que, em 1948, partilhou o território do então mandato britânico, a fim de que nele se constituíssem dois estados: um para abrigar o povo judeu, e outro para abrigar o povo palestino.
Ou seja, o sionismo da esquerda se resume a defender a existência do Estado de Israel, e o direito do povo judeu a um lar nacional soberano, tal como, desde o início, pretendia o movimento sionista. Ele não sustenta, e jamais sustentará, a ideia de que este direito extrapole os limites territoriais traçados originariamente. É, portanto, e será sempre, contrário à ocupação de todo e qualquer pedaço de terra que se localize além de tais limites.
A combinação desses três elementos gerou um quarto, que eu resolvi denominar como esquerda bitolada. São todos aqueles esquerdistas que abriram mão do mais básico dentre todos os atributos característicos de quem é progressista: o de pensar criticamente.
É que existem sionistas para preencher todos os campos do espectro ideológico. A única coisa que o sionista de centro ou de direita possui em comum com o sionista de esquerda é que todos defendem a existência de Israel. E só. Todo o resto é divergência. Como já se viu, e por incrível que possa parecer a contradição, há até mesmo judeu sionista que se posiciona com a extrema direita fascista!
Não precisamos ir longe: há judeus brasileiros que apoiaram e ainda apoiam Bolsonaro, não há? Então!
O pecado da esquerda bitolada é colocar todo e qualquer sionista debaixo do mesmo guarda-chuva. De novo: ser sionista é apenas e exclusivamente defender o direito do povo judeu a um lar nacional. A partir daí, é necessária uma qualificação específica para cada um. Há sionista para condenar energicamente a política israelense em relação ao conflito com os palestinos, assim como há sionista para apoiá-la incondicionalmente. E há sionista em todos os pontos que ficam no meio entre essas duas posições.
Mas, para os bitolados, é tudo igual. Ser sionista implica em apoiar as ocupações ilegais, o apartheid, a violência, a intransigência, a intolerância e o ódio.
Com isso, colocam os sionistas de esquerda em um limbo não apenas equivocado como, pior, contraproducente. A invés de tê-los como os preciosos aliados que de fato são, praticam em relação a eles uma discriminação tão odiosa quanto estúpida.
Sabe-se que a raiz do preconceito é a generalização. Ou seja, entender que qualquer grupo de pessoas possui pensamento, comportamento ou caráter uniforme, e então classificar automaticamente todos os integrantes desse grupo dentro de tal compartimento [1].
“O negro é isso”; “o nordestino é aquilo”; “a mulher é inferior”; o judeu é sovina”; “o gay é doente” são algumas das manifestações desse conceito. É exatamente aí que se encaixa a expressão “o sionista é favorável à opressão dos palestinos”.
Os limites entre antissionismo (entendido como crítica à política israelense) e antissemitismo são tênues e difusos. Mas existem.
Você ser contrário às práticas perversas do governo do Estado de Israel em relação ao povo palestino é perfeitamente legítimo, porque se trata de uma posição política.
Contudo, você ignorar que é possível ostentar esta posição mesmo sendo judeu e sionista, é preconceito. E o nome dele é antissemitismo.
Nesta forma, ele difere daquele outro, verificado ao redor do mundo desde antes da criação de Israel. Mas possui a mesma genealogia, e não é nem um pouco menos detestável e/ou deletério.
E é aí, então, que, finalmente, entra o site 247. Ufa!
José Reinaldo Carvalho é um comunista ortodoxo, daqueles estr(e)itamente dogmáticos. Remanescente do velho PCdoB ferrenhamente stalinista, Reinaldo morou e trabalhou na Albânia durante o governo de Enver Hodja, de quem é admirador e era amigo pessoal. Para quem não lembra – ou não sabe –, sob Hodja a Albânia foi o único país comunista do mundo que permaneceu fiel ao sanguinário ditador soviético após a revelação de seus terríveis crimes. Na teoria e também na prática. Quer saber mais? Dê um google. É de arrepiar!
José Reinaldo é o atual editor internacional do 247. Semanas atrás, a pretexto de celebrar o “Dia da Terra Palestina”, afirmou, em programa televisionado do canal, que “os sionistas” brasileiros se infiltram nas organizações de esquerda a fim de, ali, sabotar tanto o movimento palestino em busca de seu direito inalienável, quanto o de solidariedade ao mesmo.
A rigor, tal posição é previsível. De estranhar, partindo de alguém ideologicamente bitolado como o comentarista, seria o contrário. Nuances nunca foram o forte de nenhum stalinista empedernido.
Nem por isso, contudo, o pronunciamento deixa de ser gravíssimo. A par de odiosamente preconceituosa e racista, a acusação é tosca, grotesca, mentirosa e, sobretudo, insultuosa. Incorre de maneira escancarada em todos os crimes acima elencados.
Mas isso nem é o pior. De certo modo, e como já explicado, José Reinaldo Carvalho pode ser considerado quase um inimputável, dadas as limitações impostas pelo reflexo condicionado de que sofre, juntamente com seus pares ideológicos.
O pior é o comportamento autoritário subsequente, da direção do site que o abriga, e que, paradoxalmente, se diz plural e democrático.
Como não poderia deixar de ser, o episódio mencionado gerou forte e enérgica reação, com destaque especial para denúncia pública formulada contra o citado editor pelo coletivo “Judias e Judeus Sionistas de Esquerda”, do qual faz parte o jornalista Milton Blay, então colunista fixo do 247.
Este último, ao invés de examinar o tema à luz do contraditório aberto, e, no mínimo, instaurar um debate, como seria coerente com o que o veículo se reivindica, simplesmente demitiu Blay dos seus quadros, sumariamente, sem qualquer explicação ou justificativa.
E, a não bastar, afundou-se ainda mais em suas próprias arbitrariedade e parcialidade, ao chamar, para comentar o assunto, ninguém menos do que Breno Altman. Para quem não sabe, Breno é judeu, comunista e – surpresa! – também ferrenhamente stalinista. Possui histórico até familiar de militância radicalmente antissionista. Este último predicado, em si, nada tem de condenável, até porque é uma posição política não apenas legítima como até bastante comum.
Mas a outra posição, essa é determinante. Ao chamar Altman, Leonardo Attuch manipulou seus ouvintes duplamente. Em primeiro lugar, porque era um jogo de cartas marcadas. Attuch sabia, previamente, qual partido seu convidado tomaria na querela. Sendo camarada ideológico de Reinaldo, e adversário do sionismo adotado por seus oponentes, não era mistério algum o teor do que diria.
E em segundo, por tal convidado ser judeu. A mensagem, de um teor de má-fé altíssimo, é clara. Endossado por um militante da própria etnia dos acusadores, o delinquente virtual faz pose de imparcial e probo, quando, em verdade, é exatamente o contrário.
Quanto a Breno Altman, prestou-se de bom grado ao papel patético que a ele se solicitou. Formulou raciocínios claramente sofísticos e, pior que tudo, utilizou um método criado por ninguém menos do que o nazista Joseph Goebbels. Acusou os oponentes de Reinaldo exatamente do que ele próprio, Altman, estava a fazer. Disse que eles se refugiam em uma generalização típica do sionista: quando se lhe aponta qualquer erro, imediatamente assaca contra quem o faz a pecha de antissemita.
Na verdade, não é isso o que fez o coletivo sionista. Mostrou com argumentos lógicos e articulados a raiz racista do pronunciamento de José Reinaldo; apontou, de forma clara e fundamentada, a diferença entre o conteúdo do mesmo, preconceituoso porque generalizador, e uma posição contrária ao expansionismo e à violência praticados pelo Estado de Israel sob o domínio de extremistas de direita, com o apoio de sionistas da mesma tendência.
Altman ignorou solenemente tudo isso. Não rebateu um único argumento. Não abordou um único fato. Pior, tampouco forneceu, de seu lado, uma única linha que sustentasse sua afirmativa. Pelo contrário. Limitou-se a dizer, sem oferecer qualquer fundamentação, que “sionista de esquerda é algo tão impossível quanto um boi voador”. Com isso, enveredou pelo mesmo caminho de seu correligionário e protegido: englobou todos “os sionistas” em um mesmo rótulo e, assim, cometeu, ele sim, o pecado de que acusou seus oponentes: basta que se aponte um comportamento antissemita, mesmo que se o faça com argumentos irrefutáveis, e lá vêm os antissionistas recorrer ao surrado, fácil e imbecil argumento generalizador.
[1] Devo essa noção a Tânia Maria Baibich, pesquisadora e professora do tema, reconhecida internacionalmente.
Mês que vem completo 70 anos. Vivi todo o período da ditadura militar brasileira. Em 1964, quando ela começou, eu estava na pré-adolescência, e pouco compreendi do que ocorria. Mas dois anos depois já estava na rua, combatendo-a. Fiz isso de muitas maneiras, com variados graus de consciência e informação, e em diversos graus de intensidade, durante todo o tempo em que ela durou.
Seu fim coincidiu com o nascimento de meu filho caçula, a quem dei, em hebraico, o nome equivalente a “amanhecer”.
Minha militância – que permanece até hoje, e na mesma direção ideológica – não incluiu, sequer em cogitação, pegar em armas. A uma porque pouca luta armada se deu no Paraná, onde sempre atuei. E a duas porque, desde que pude refletir a respeito, alinhei-me entre aqueles que a consideravam equivocada.
Não me entendam mal. Não houve, jamais, qualquer tipo de avaliação moral. Naquela época eu me considerava um revolucionário, e como tal, jamais descartei, em teoria, a violência revolucionária como instrumento de luta pelo fim da opressão. O julgamento era, e sempre foi, político. Ou seja, relativo à adequação e eficácia dessa ferramenta dentro da conjuntura real na qual se situava concretamente nossa luta. Nós a julgávamos, naquele tempo e contexto, inadequada e ineficaz.
Ontem, após dois anos, voltei a uma sala de cinema. Fui assistir “Marighella”.
Tive três camadas de reação, todas muito fortes.
Não restou em meu corpo um único pelo em repouso. Senti-me dentro do filme. Sou parte –pequena, talvez insignificante mesmo, mas ainda assim, parte – daquela história. Vivi aquele tempo, debati aqueles temas no calor dos próprios momentos. Ainda que em outra trincheira, travei o mesmo combate, e, o que é mais importante, do mesmo lado em que estavam os personagens da obra.
Carlos Marighella foi, sem dúvida, um herói do Brasil, e a História já está lhe fazendo a merecida justiça. Como ele, foram heróis todos aqueles brasileiros que colocaram a própria vida na linha de tiro, em defesa da liberdade e contra a tirania. Admiro-os a todos, e a cada um.
Ao nível da emoção, portanto, “Marighella” foi uma redenção catártica. Saí do cinema impactado, abalado e, principalmente, consolado. Convencido de ter estado sempre no lado certo da História.
Em segundo lugar, o filme como tal. Cinema no estado da arte. Não sou técnico no assunto, mas, como espectador experiente e exigente, fui excepcionalmente bem servido. Já li o livro que baseou o roteiro, e entendo que um está à altura do outro. É uma obra audiovisual belíssima, em forma e conteúdo. Cada detalhe se sobressai.
Acho relevante destacar, nesta parte, dois deles. Refiro-me à pertinência, a meu ver, de duas peculiaridades do filme que ouso classificar como licenças poéticas. Marighella não era negro, mas mulato, filho de pai italiano de pele branca, e mãe negra, filha de escravos. Se, porém, sua pele era clara e seus traços amplamente caucasianos, o fato é que, como bem frisou sua neta Maria Marighella (que é branca), preta era a cor de sua luta!
Por isso, a escalação de um negro retinto para representá-lo na telona não poderia ter sido mais feliz, não apenas do ponto de vista artístico (Seu Jorge, aliás, está soberbo no papel), mas também do simbólico.
A segunda licença poética está no antagonista. O policial Lúcio (Bruno Gagliasso, igualmente magistral) na verdade se chamava Sérgio. Por que a mudança? Não sei, mas minha opinião é a de que Wagner Moura, o diretor, não quis dar ibope para um dos mais execráveis brasileiros que já viveu. Se é assim, acertou também.
Por fim a terceira camada, a histórica. Nela, minha identificação fica com Jorge Sales, o do Partidão, personagem de Herson Capri, outro destaque.
A primeira cena dele com Marighella me representa por completo. A luta armada, naquele contexto, era não apenas uma aventura, mas uma aventura suicida. A realidade é a medida da razão. E a História é a juíza dos juízes.
São inúmeros os exemplos. Se a revolução cubana tivesse fracassado, Fidel e Che não passariam de vilões. Outros que tentaram o mesmo, mas sem sucesso, terminaram como notas de rodapé históricas.
É impossível prever quem vai ganhar ou perder. Mas a vida é implacável. Quem aposta e ganha, se consagra. Quem perde, paga caro. Um ótimo exemplo é a campanha de Galípoli, na Primeira Guerra Mundial, que só não custou a carreira política de Winston Churchill porque ele era realmente um gigante, e ainda porque, em 1940, ficou no centro de uma combinação anormal e extraordinária de fatores. Mas na ocasião viu-se frente a frente com o opróbio.
No Brasil de 1968 havia abundantes indícios, todos calcados em análises abalizadas e desapaixonadas, de que a aposta na resistência armada era um erro. Tanto que muitos guerreiros incontestes do povo brasileiro (como, por exemplo, Salomão Malina, herói da Segunda Guerra Mundial, Giocondo Dias, combatente na Revolução Constitucionalista, Dinarco Reis e Roberto Morena, heróis da Guerra Civil Espanhola, e tantos outros, que poderiam ser acusados de tudo, menos de covardia) se posicionaram contra essa orientação. A discussão, então, nada tinha de romântica. Era pura política.
Portanto, Marighella apostou errado. E não apenas ele. Lamarca e o PCdoB (no Araguaia), também. E outros. A realidade crua é a de que, malgrado o heroísmo pessoal, a intenção virtuosa, e, mais que tudo, o desperdício de inúmeras vidas, a resistência armada foi ampla e completamente derrotada pelo regime. O fato, duro mas real, é que fracassou. Do ponto de vista histórico, sua influência no sucesso da luta democrática foi nula. Sob um ângulo de abordagem não totalmente inválido, pode-se inclusive entender que a atrasou, ao acirrar a linha-dura militar.
Ao final, revelou-se correta a linha traçada desde o início pelo Partido que Marighella acusou de covarde. A ditadura foi posta de joelhos e derrotada pela luta política (muitas vezes traduzida no embate eleitoral, mesmo dentro dos limites arbitrários por ela impostos), travada em conjunto por todas as forças que a ela se opunham. A democracia foi conquistada através da conscientização, mobilização e organização das massas, feita com paciência de formiguinha, nas ruas, nos debates, no enfrentamento realizado dia-a-dia, todos os dias.
E a pior de todas as consequências foi que Marighella e tantos outros heróis de nosso povo não viveram para conquistá-la, desfrutá-la e, mais que tudo, melhorá-la. Quanto seríamos, hoje, um país mais civilizado, se todos eles pudessem ter contribuído com o aperfeiçoamento da nossa vida, quando a liberdade chegou? O quanto teríamos um Brasil mais próximo da justiça, fraternidade, e solidariedade, se a serviço dessas causas generosas tivessem estado corpos, almas e mentes dessas pessoas excepcionais, que nelas tanto acreditavam, e por elas pereceram inutilmente?
Infelizmente, não sabemos. E não saberemos. Mas que fizeram – e fazem – falta, isso não se discute.
Há alguns anos, já bem entrado nos 60, encontrei a mulher que me fez eu.
Dona de uma inteligência fulgurante e de uma carreira acadêmica esplêndida sob todos os aspectos, confesso que, a princípio, ela me intimidou significativamente.
Ocorre que além desses dois atributos, Tânia Maria Baibich possui também níveis anormais de lucidez, generosidade e maturidade que, combinados, produzem efeitos espantosos.
Foi com eles que, ao longo de um tempo nada pequeno, ela, laboriosa, cuidadosa e delicadamente, foi me mostrando que titulações e reconhecimentos acadêmicos não passam de acessórios cujo valor está atrelado inapelavelmente ao caráter da pessoa que os detém. E que essas coisas, em si, nada significam, dada a enorme quantidade de pessoas medíocres que, mesmo assim, as alcançam.
Paralelamente dedicou-se a outra tarefa não menos árdua, que foi a de convencer-me de que, Inteligência por Inteligência, eu não lhe ficava atrás.
O resultado de tudo isso foi a mais completa demonstração de feminismo que eu jamais pude presenciar: a mulher não quer ser melhor que o homem, mas igual.
É preciso ser muito “macha” (antes que me acusem de machismo, a palavra é dela própria) para, partindo de uma posição de tão nítida superioridade, renunciar a ela batalhando pela igualdade. E é preciso ter muita sabedoria, e uma capacidade totalmente incomum de leitura abrangente da realidade, para perceber que, a longo prazo, este era o caminho para um relacionamento feliz e de alto nível. Se a balança pende para um lado, seja qual for, o risco é bem maior.
Pois deu certo. Hoje, vencidos meu complexo de inferioridade e minhas crises de baixa auto-estima, encontro-me envolvido em um turbilhão amoroso encantador, emoldurado e enfeitado pelo desafio diuturno, permanente e estimulante, de uma vida cultural e intelectual riquíssima, na qual o intercâmbio de ideias, experiências, posições, saberes e olhares renova e reproduz o encantamento, todos os dias.
Bem. Mas este não é um texto de amor. A introdução que fiz se destina a contextualizar o fato de que nossa experiência comporta também muitíssimas divergências, cuja lida é igualmente desafiadora.
Ideologicamente, somos ambos de esquerda. Eu, porém, mais radical. Judeus que somos, abrangemos naturalmente nesse debate o Brasil, no qual vivemos, e Israel. E, nas duas situações, de vez em quando a coisa esquenta. Na última, mais. Para ela, avó de três israelenses, sou sionista de menos.
Pois bem. Tânia nasceu e viveu em Porto Alegre até a idade adulta, quando mudou com a família para Curitiba. Conserva até hoje enorme quantidade de amigos na terra natal.
Dia desses pedi a ela que fizesse propaganda entre eles de uma candidata a vereadora na capital gaúcha, do campo progressista, sobre a qual recebi indicação positiva, de fonte muito confiável. Nos tempos infelizes que vivemos, sob um retrocesso gigantesco e a ameaça fascista sobre nossos pescoços, considero que cada milímetro de espaço que se possa conquistar, em qualquer lugar do Brasil, é valioso para acumular forças para a guerra que travamos.
Ela pergunta o partido. Eu respondo: PSOL. Ela nega me atender, sob a justificativa de que o programa do PSOL não reconhece o direito de Israel a existir. Sabe que divirjo dessa posição, mas a respeito. Portanto, aceitei tranquilamente a negativa.
Contudo, não sou exatamente fácil de jogar a toalha. Há uma linha tênue entre antissionismo e antissemitismo. Tão tênue que às vezes parece imperceptível. Contudo, ela inegavelmente existe. Os termos não são sinônimos, mas muita gente, principalmente na comunidade judaica, tende a afirmar o contrário.
Pois bem. Minha opinião é a de que toda generalização é equivocada. Tenho certeza absoluta de que a ilegitimidade da existência do Estado de Israel não consta no programa do PSOL. O que há é um número importante de militantes extremistas, naquele partido que, por conta das inegáveis atrocidades cometidas pela extrema direita israelense que nas últimas décadas empalma o poder ali, confundem povo com Governo e, ao criticar este com exagero desmedido, declara-se meramente antissionista mas flerta abertamente com o antissemitismo.
Do meu ponto de vista, isso não deslegitima todo o partido, de forma que é possível detectar, ali, possibilidades variadas de fazer andar a recuperação democrática do Brasil. Quando se trata de ilustrar essa contradição, o mais veemente exemplo é exatamente do mais proeminente psolista até hoje, Jean Willis, cuja posição sobre Israel, após verificação pessoal in loco, é amplamente elogiada por sionistas dos mais variados matizes.
Vai daí que, sem contestar minha musa, mergulhei na pesquisa. E, até onde pude verificar no Dr. Google, realmente a questão não aparece no programa do PSOL. O que ali se vê é uma ardente defesa da autonomia palestina e do respeito aos direitos deste povo. Coisa tão diferente de atacar o direito de Israel existir, que é posição comum a uma enorme quantidade de sionistas espalhados pelo mundo – inclusive Israel.
E isso nos traz – finalmente – à minha conclusão.
Antes, porém, quero conceituar sionismo, segundo minha concepção. Trata-se de movimento político criado com a finalidade única de garantir um espaço territorial a ser habitado pelo povo judeu. Só. Todo o resto (e haja resto!!!) é interpretação de cada um.
Tendo esse conceito em mente, eu sou sionista. Defendo, sim, o direito do indivíduo judeu deixar de ser – quando quiser, claro – parte de um segmento incrustrado em nações de outra formação, como ocorreu durante dois milênios, e poder ter um território, a fim de, como qualquer outro, constituir uma Nação.
Contudo, sempre fui um homem de princípios e posições. A fim de ser honesto comigo mesmo, isso significa situar-se à esquerda do processo político, local, regional e mundial. Nessas condições, mesmo defendendo a existência de Israel, condeno com veemência doutrinária, estrutural, todas as atitudes tomad as pela direita troglodita que manda naquele país em prejuízo dos mais elementares princípios civilizatórios. Posições que, aliás, Tânia compartilha comigo totalmente.
Somos pela soberania do povo palestino. Se nós temos direito a um Estado, também o têm eles. Se nós temos direito à dignidade, também o têm eles. Defendemos, desde sempre, o fim total da ocupação do território palestino e a solução de dois Estados para dois povos, nas fronteiras territoriais de 1967.
De minha parte, condeno a violência sob qualquer formato e método, mas me repugna com vigor a indignação seletiva que faz muitos setores sionistas distorcerem a realidade, descaracterizando a resistência palestina a uma inegável agressão, para classificá-la como terrorismo puro e simples. Não é demais lembrar que muitos desses indignados justificam sem remorso algum a resistência judaica contra o mandato britânico, frequentemente exercida exatamente através dos mesmos métodos.
E isso não significa que aprovo a guerrilha intransigente que nega o direito legítimo à existência de Israel. Ao contrário. Repudio-a igualmente.
Toda essa explicação se destina a informar ao distinto público que me considero, assim como à Tânia e a milhares de outros mundo afora, convictamente, um sionista de esquerda.
Ora, e o que diabos tem tudo isso a ver com o PSOL e minha divergência com a Tânia?
Simples. Na pesquisa que fiz, confirmei meu ponto de vista. Dentro desse partido, além do que já enunciei existe uma pluralidade de posições acerca de Israel. Contudo, é dominante aquela que, ainda que por outro caminho, dá razão à minha esposa.
O presidente do partido, o historiador Juliano Medeiros declarou de público, anteontem (26/09/2020 – link abaixo), que eu não existo! Respondendo à pergunta “E o PSOL acredita que é possível um sionismo de esquerda?”, disse textualmente: “O PSOL não tem uma resolução aprovada sobre esse tema em particular; havia até recentemente filiados do nosso partido que consideravam que sim, que seria possível. Há muitos de nós, no entanto, que acham uma contradição. Existem as duas posições: certamente, há pessoas que acham que sim que é possível e há pessoas que acham que é uma contradição, como é o meu caso.”
Ora, senhoras e senhores, se o cara preside o partido, ele certamente é quem o representa. Até porque outra coisa não é do que o porta-voz de sua corrente majoritária.
Então, de certa forma, tenho que jogar a toalha. Fui a campo para mostrar à minha companheira que o programa do PSOL não diz o que ela diz que ele diz, e, com isso, voltar à carga no pedido de recomendação da candidatura gaúcha.
E assim é. O programa não diz tal coisa.
Todavia o PSOL, por seu representante máximo, declara com todas as letras que quem defende a existência do estado judeu é obrigatoriamente uma pessoa de direita. O que, na prática, significa exatamente a mesma coisa. Um Estado e seu povo são, obrigatoriamente, sinônimos de seu governo.
Na prática, Juliano está dizendo que ele mesmo, e eu, somos bolsonaristas.
E isso é mentira.
Continuo achando que é possível isolar membros deste ou daquele agrupamento político do pensamento equivocado de sua maioria. Portanto posso pedir voto para alguém do PSOL.
Mas, do ponto de vista conceitual, quem tem razão não sou eu, mas Tânia. É totalmente coerente e correta sua decisão de não pedir tal voto.
Fui estudar para voltar à carga, e descobri que devo, ao contrário, recolher os betes.
Desse tipo de respeito é feita a nossa vida.
Foi a este ponto de integridade intelectual que minha esposa me conduziu.
Marcelo Jugend é advogado e consultor em segurança pública. Foi Chefe de Gabinete e Assessor Especial na Secretaria de Segurança Pública do Paraná, e Secretário Municipal de Segurança em São José dos Pinhais, no mesmo Estado. É Autor de “A Morte do Super-Homem – Propostas para o Enfrentamento Democrático da Violência e da Criminalidade” (Editora DPB – 2008) e “O Que Você Pensa que Você Pensa Não é Você Quem Pensa – A Guerra Híbrida no Brasil” (Editora MouraSA – 2021).