Escrevo-lhe hoje para abordar a sua recente declaração sobre nunca ter escutado da morte de mulheres e crianças em guerras. “O Brasil foi um país que condenou de forma veemente a posição do Hamas no ataque à Israel, mas não tem nenhuma explicação o comportamento de Israel, a pretexto de derrotar o Hamas, estar matando mulheres e crianças, coisas jamais vista em qualquer guerra que eu tenha conhecimento”, foram suas palavras. Acredito que essa declaração, embora compreensível em termos de experiência pessoal, não reflete a realidade brutal dos conflitos armados.
É verdade que ninguém é obrigado a ser especialista em todos os assuntos, mas a cautela e o bom senso são essenciais para evitar equívocos e declarações que podem ser interpretadas como desinformação ou falta de sensibilidade.
A guerra, em qualquer forma, não é bela. Mesmo em uma “guerra de travesseiros”, existe o potencial de causar danos, ainda que leves. No entanto, quando falamos de guerras reais, as consequências são infinitamente mais graves.
Infelizmente, a história demonstra que os civis são sempre as maiores vítimas em qualquer conflito. Dados de guerras recentes comprovam essa triste realidade:
- Guerra do Iraque (2003-2011): 1 militar para 15 civis mortos.
- Guerra do Afeganistão (2001-presente): 1 militar para 24 civis mortos.
- Guerra Civil Síria (2011-presente): 1 militar para 9 civis mortos.
As grandes guerras mundiais também evidenciam essa disparidade:
- Primeira Guerra Mundial (1914-1918):
- Militares: Entre 9 e 10 milhões de mortos (aproximadamente 60% do total).
- Civis: Entre 6 e 12 milhões de mortos (aproximadamente 40% do total).
- Segunda Guerra Mundial (1939-1945):
- Militares: Entre 20 e 25 milhões de mortos (aproximadamente 30% do total).
- Civis: Entre 50 e 60 milhões de mortos (aproximadamente 70% do total).
É importante salientar que estas proporções podem variar de acordo com a fonte consultada, mas a mensagem central é clara: os civis pagam o preço mais alto em qualquer guerra.
Quando falamos em civis, incluímos, com pesar, mulheres e crianças – seres humanos indefesos que sofrem as consequências cruéis da violência armada.
Com base em tais dados, torna-se questionável a utilização do termo “genocídio” para descrever a situação em Gaza. Segundo informações das mortes fornecidas pelo grupo terrorista Hamas, o número de mortes seria de 1 terrorista para menos de 3 civis.
É importante lembrar que a guerra é uma tragédia humana que causa sofrimento imenso a todos os envolvidos. As estatísticas de mortes servem apenas como um retrato frio e numérico da devastação, cada vida perdida representa uma história individual e irreparável.
Dando seguimento ao seu contrassenso, você acusou Israel de cometer genocídio contra civis palestinos na Faixa de Gaza e comparou as suas ações em Gaza à campanha de Hitler para exterminar os judeus. “O que está a acontecer em Gaza não é uma guerra, é um genocídio”, disse Lula aos jornalistas em Adis Abeba, onde participa na cimeira da União Africana. “Esta não é uma guerra de soldados contra soldados. É uma guerra entre um exército altamente preparado e mulheres e crianças.”
“O que está acontecendo na Faixa de Gaza com o povo palestino não aconteceu em nenhum outro momento da história. Na verdade, aconteceu: quando Hitler decidiu assassinar judeus”, disse o presidente brasileiro.
Sua comparação é um insulto a memória dos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas por serem judeus. É uma infâmia, só usada por antissemitas com a clara intenção de despertar antissemitismo. É de uma irresponsabilidade que não condiz com a postura de um estadista e afasta em definitivo o Brasil de qualquer chance de um dia mediar as partes.
Gostaria de salientar alguns pontos adicionais:
- A guerra em Gaza não é um conflito isolado. Ela faz parte de um contexto histórico mais amplo de conflito entre Israel e Palestina, que já dura décadas.
- A situação em Gaza é complexa e multifacetada. Há diversos fatores que contribuem para a violência, incluindo questões políticas, religiosas e sociais.
- É importante buscar soluções justas e duradouras para o conflito. A violência apenas gera mais violência e sofrimento para ambos os lados.
A guerra em Gaza poderia ter um fim rápido se o grupo terrorista Hamas depusesse as armas e libertasse os reféns. A paz é sempre a melhor solução, e a responsabilidade por evitá-la recai sobre os ombros de todos os envolvidos.
Acredito que a sua posição como líder de uma grande nação como o Brasil lhe confere a responsabilidade de defender a paz e o respeito à vida humana. Espero que reflita sobre as informações aqui apresentadas e reconsidere suas declarações sobre a guerra em Gaza.
Atenciosamente,
Mauro Nadvorny