Autor: Charles Schaffer

Excelentíssimo Senhor Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, permita-me, apresentar. Sou brasileiro nato, judeu e multiétnico. Compõe minha ascendência judeus pardos originários de países árabes, brancos da Europa Oriental e negros oriundos da Etiópia.

Não sou nem faço parte de um grupo lobista com tentáculos no poder globalista e supremacista branco como nos acusam.

Agradeço Vossa Excelência, presidente Lula, por ter tirado o Brasil da barbárie que se trilhava em nome de um nacionalismo com traços fascistas e do preconceito que se estendia às minorias e aos mais fracos. Os movimentos nazifascistas recrudesceram imensamente durante os anos que o antecederam.

O senhor livrou-se, são e salvo, das maiores calúnias, tendo conquistado os corações de muitos brasileiros e supostamente teria voltado para redirecionar o país no rumo da civilização.

Como Vossa Excelência diz, na melhor das expressões, o Brasil está de volta, o Brasil voltou. A Educação voltou, a Saúde voltou com as vacinas, os direitos das dos indígenas também estão de volta.

Infelizmente o antissemitismo também voltou!

O ANTISSEMITISMO VOLTOU E ESTÁ SE INSTITUCIONALIZANDO NO SEU GOVERNO.

Vamos, portanto, falar aqui de uma enorme mancha que toma forma sob o seu nome – eu iria dizer sob seu governo – que é esse abominável crescimento do antissemitismo no Brasil durante a sua gestão, mormente entre alas ligadas a esquerda brasileira, ditas progressistas sem sê-los. Não experimentávamos tal infâmia e perseguição desde o Estado Novo. Esta mancha certamente marcará seu legado.

E Vossa Excelência, Presidente, ainda que inadvertidamente venha estimulando o ódio, seja por suas falas, seja por sua omissão, e tem permitindo, sem qualquer objeção, que este antissemitismo já estrutural no nosso país, seja disseminado com mais ênfase e força entre os seus pares.

Este governo Lula já está sendo manchado para todo sempre, como nunca antes neste país, por uma das mais odiosas ofensas contra os direitos humanos e a humanidade: O antissemitismo.

Quem achava que com a saída de Bolsonaro escaparíamos do antissemitismo e das propostas nazistas mimetizadas da Alemanha dos anos 1930 se equivocou.

Bolsonaro ameaçou com um golpe de Estado argumentando ser “liberdade de expressão”, verdade. Mas este seu Governo não fica atrás, ao se alinhar a pessoas e grupos que recrudescem a prática do antissemitismo e do discurso de ódio para chamá-la de “liberdade de expressão.

Não há dúvidas que boa parte dos seus aliados não hesitariam em propor e implantar leis raciais no Brasil, antissemitas, tais como as leis de Nuremberg da Alemanha de Hitler. Já fazem isto nas redes sociais e nas publicações ditas “progressistas”. Já perseguem as instituições judaicas e judeus brasileiros que defendem sua coletividade do antissemitismo, o que falta?

Quando a Sra. Gleisi Hoffman, entre outros, infere em uma lealdade externa dos judeus brasileiros, nós lembramos das Leis Racistas de Nuremberg e do seu capítulo que apontava para a “Lei da Cidadania do Reich”, decretada por Adolf Hitler em de 15 de setembro de 1935.

Quando o sr. Genoíno propõe o boicote a empresas de judeus brasileiros, está se alinhando de forma inconteste as teses do nazismo. Afinal, em primeiro de abril de 1933, no intuito de isolar e prejudicar economicamente os judeus, Hitler em ascensão decretou boicote às empresas de judeus. No que foi denominado de ““Judenboykott” no alemão, membros do partido nazista ficaram em frente a lojas e empresas de judeus, fazendo piquetes, intimidando clientes e impedindo-os de entrar.

Quando Sr. Breno Altman faz apologia ao terrorismo, ao comemorar o massacre do Hamas, com meninas judias sofrendo estupros coletivos, crianças judias queimadas vivas, bebê arrancado a faca do útero de uma mulher grávida, além de centenas de reféns, parte deles, meninos e meninas, sofrendo estupros diários no cativeiro. Afinal, disse em um post, “os militantes do Hamas devem agir como gatos e caçar os judeus sionistas e israelenses como se rato fossem, afinal”, e em outro post, “eles merecem”.

É por estas falas e condutas que José Genoíno e Breno Altman estão sendo investigados, não por críticas ao Governo ou ao Estado de Israel ou qualquer outra “crítica” legítima.

Entendo que os desagravantes deveriam ter ciência, ao menos em parte, sob pena de podermos induzir que estão sendo coniventes com estas práticas.

Ou assinaram sem pesquisar ou ler os processos e investigações em andamento? Isto apenas traz à memória Hannah Arendt e seus escritos, cada vez mais atuais.

Dos apoiadores que fizeram um abaixo assinado de desagravo temos uma longa lista de autoridades, jornalistas, cientistas que, em consonância ao que chamamos de banalidade do mal, inerente a todo aquele ser pacato, aparentemente correto, cumpridor de ordens, mas que unido ao uma turba antissemita, ganha forças em forma de onda para destilar seu ódio.

Sim, gente culta, temos os nossos Johannes Dietrich e Julius Streicher, o primeiro foi editor-chefe do jornal nazista “Das Reich”; e o segundo fundador e editor do jornal antissemita “Der Stürmer”.

Sim, temos nossos Martin Heidegger e Carl Schmitt, o primeiro filósofo existencialista e acadêmico que se juntou ao partido nazista; e o segundo jurista e teórico político aliado de Hitler.

Temos também, não poderiam faltar os nossos cientistas, gente como Werner Heisenberg e Philipp Lenard, o primeiro inclusive ganhador do Prêmio Nobel em 1932 e contribuiu para pesquisas na Alemanha Nazista; e o segundo físico experimental reconhecido pelo seu antissemitismo e apoio ao nazismo.

Certamente os desagravantes dirão que isto não é antissemitismo, que os alvos do Sr. Genoíno e do Sr. Altman não são todos os judeus, mas apenas alguns judeus, somente os judeus brasileiros sionistas.

Importa destacar que praticamente todos os judeus do mundo, em maior ou menor grau, acreditam no direito à autodeterminação nacional, o direito legítimo de Israel existir. E assim são os judeus brasileiros, de esquerda e de direita, liberais e conservadores, todos sionistas, salvo exceções.

Ao subscreverem desagravo aos Senhores José Genoíno em sua fala de discriminar judeus brasileiros, boicotando suas empresas; e ao Sr. Breno Altman, que comemorou e apoia os ataques do Hamas aos civis israelenses e judeus, sem esquecer que já chamou judeus brasileiros de “Ratazanas Sionistas”, os desagravantes parecem entender que isto se insere na legalidade e no legítimo direito de expressão e que tais práticas não seriam incompatíveis com o Estado de Direito.

Quando o Secretário de Cultura do governo Bolsonaro mimetizou Goebbels em uma fala na televisão as organizações judaicas repudiaram. Ele foi demitido.

Quando o ministro das relações Exteriores do governo Bolsonaro afirmou que o Nazismo era de esquerda, as organizações judaicas repudiaram: O Nazismo foi de extrema direita.

Quando as organizações judaicas repudiam falas antissemitas de líderes partidários de partidos de esquerda, de ministros e autoridades deste governo, a reação tem sido outra.

Fecham-se ao diálogo e não apenas não se retrataram, insistem nas calúnias.

Passam a defender a fala e o discurso antissemita com ainda mais ímpeto.

O que falta ao Governo Lula, seus ministros, aliados e partidários para institucionalizar a discriminação contra judeus brasileiros?

Proibir casamentos mistos e relações sexuais com brasileiros que tenham uma gota de sangue judaico?  Ou só daqueles judeus brasileiros que entendem que Israel tem o direito de existir?

Proibir que judeus de participarem de concursos públicos? Ou somente os judeus sionistas?

Os concursos públicos irão ter uma etapa onde os concurseiros homens deverão baixar suas calças para ver se são circuncidados e, com isto, sumariamente eliminados?

O mesmo para poder participar do Enem? Afinal judeus que sejam sionistas e acreditam no direito de Israel existir não deveriam entrar em Universidades Federais, certo?

Que tal estimular as empresas para não contratarem empregados judeus? Ou mesmo proibirem caçando benefícios fiscais?

O que mais virá neste Brasil que está institucionalizando como lícitas as práticas e condutas do antissemitismo?

No que se refere a Tolerância Racial e combate ao antissemitismo o Brasil não está de volta. Retrocedeu e regrediu.

Vivemos tempos sombrios no Brasil do governo Lula.

Autor convidado: Charles Schaffer