א

a Mulher Amada nesse verde-azul, feito tudo:

vinho, sangue, uva, mel, choro e palavrão,

abria os braços, o peito, a boca – e eu mudo!

deixando nos seios o beijo, a lágrima, a unção…

ב

a Mulher Amada na brisa, lua, vento, tempestade,

à mesa, elevador, corredor, biblioteca, cozinha,

varanda, cama, chão, sofá, escada, por toda tarde

vestida, seminua, nua: ei-la, plena, quando vinha

ג

de alma entregue, chocolates e branca espuma

entre os dedos, rosto, língua, face sorridente,

rindo-vermelha-rosa-chorando-branca-leve-pluma

de música, gozo, asas, esperança: Mulher gente!

ד

e

eu

poeta

feito de letras

urros

e porta aberta

giros tresloucados

mil teses

fugindo aos murros

pisando em fezes

lendo fezes

do boi errante, minguante,

feito de ausência

escondido

sumido

entre os meus versos

inclementes versos

cegos versos

cegos inclementes

que negam a água

entre fios dourados

e a boca imensa

voando pelos céus

de barro e fogo

(é um jogo)

e esbarro na tumba:

céus diversos

fugido-ingrato-sem-rosto-sem-manhã-para-o-amanhã!

AH, MEU AMOR,

deixe-me em paz

feche o seu jardim

eis-me, nu e vendido,

fendido

aqui jaz!

(vou comer rapadura)

*

© Pietro Nardella-Dellova

Pausa para a Mulher Amada, entre Quatro Letras Hebraicas

in Alguma Poesia no Umbigo da Mulher Amada