Há muito que procuro um termo que possa definir judeus antissemitas. São como as bruxas, não acredito que um judeu possa ser antissemita e antissionista, mas que eles existem, existem.

Passo a utilizar o termo “neo-judeu” para me referir a estes judeus Eles geralmente não são religiosos (sim, existe a seita Naturei Karta, um caso à parte), assumem uma estranha identidade judaica, e acreditam que os sionistas são uma ameaça para o mundo.

Existem várias razões pelas quais os judeus podem se tornar neo-judeus. Alguns são influenciados por ideologias antissemitas, como o nazismo, o comunismo, o fascismo ou até mesmo o islamismo radical. Outros são desiludidos com o Estado de Israel e acreditam que ele é uma força maligna no mundo. Ainda outros simplesmente se sentem alienados da comunidade judaica e procuram um novo lugar para pertencer. Neste caso, encontram geralmente grupos de esquerda onde podem se expressar mais facilmente e onde recebem abrigo fácil quando se identificam como judeus que odeiam outros judeus.

Os neo-judeus são uma minoria dentro da comunidade judaica, mas eles têm sido cada vez mais vocal nos últimos anos. Eles têm publicado livros e artigos atacando o judaísmo e o sionismo, e têm participado de protestos contra o Estado de Israel. Vários deles usam o fato de terem perdido parentes no Holocausto para terem mais visibilidade.

A ascensão do neo-judaísmo é uma preocupação para a comunidade judaica. Apesar de que os neo-judeus não representarem uma ameaça à continuidade da identidade judaica, eles contribuem para o aumento do antissemitismo na sociedade.

Os neo-judeus geralmente apresentam as seguintes características:

  • Em sua grande maioria, eles rejeitam a religião judaica (raramente são religiosos). Eles podem ser ateus, agnósticos ou descendentes de famílias mistas ou convertidas a outra religião.
  • Eles assumem uma identidade judaica própria. Se identificam como judeus conforme a conveniência.
  • Eles são antissemitas. Não participam da comunidade judaica onde vivem, e geralmente atacam as entidades judaicas constituídas.
  • Eles são antissionistas. Eles acreditam que o Estado de Israel é um estado colonialista fruto do imperialismo com um regime de Apartheid.
  • Eles consomem e divulgam com avidez todo tipo de teoria conspiratória que elenque atitudes judaicas ou sionistas com supostos fins espúrios.
  • Eles acreditam que entidades judaicas os perseguem e se colocam como vítimas dos sionistas.

As motivações para o neo-judaísmo são variadas. Alguns se tornam neo-judeus por causa de suas crenças políticas. Outros por causa de suas experiências pessoais, por terem sofrido algúm tipo de bullying na infância e/ou adolescência, e ainda por terem experimentado antissemitismo. Alguns neo-judeus simplesmente se tornam alienados da comunidade judaica. Eles podem sentir que não pertencem à ela ou que a comunidade judaica não os aceita.

O neo-judaísmo tem várias consequências negativas. Ele contribui para o aumento do antissemitismo, pois fortalece as ideologias antissemitas e seus divulgadores. Ele também mina a continuidade da identidade judaica, pois de certa forma, desencoraja judeus de se identificarem como tal.

Por outro lado, o neo-judaísmo é prejudicial para os próprios neo-judeus. Eles acabam sendo isolados da comunidade judaica, e ficam sem um lugar para pertencer. Eles também sofrem de ansiedade e depressão, pois estão constantemente lutando contra sua identidade judaica. São obsessivos quando se trata de condenar Israel, buscando diariamente se associar a tudo e a todos que pregam o fim do estado judeu. Nada mais do que acontece no mundo tem muita importância, nenhum outro conflito, massacres, genocídios, apenas o que acontece em Israel.

Eles são uma minoria dentro das comunidades judaicas, mas tem seu ódio amplificado por antissemitas em geral, sejam ideológicamente identificados como de esquerda ou de direita.

Na história

Ao longo da história, houve judeus que se opuseram ao judaísmo e ao sionismo. Essas pessoas foram motivadas por uma variedade de fatores, incluindo ideologia, religião, política e experiência pessoal.

Alguns exemplos de judeus antissemitas incluem:

  • Judeus convertidos ao cristianismo: Quando se trata de judeus antissemitas, alguns exemplos notáveis incluem convertidos ao cristianismo durante a Inquisição Espanhola ou em outras épocas de perseguição religiosa na Europa. Alguns desses convertidos, chamados de “conversos” ou “marranos”, por vezes adotaram atitudes antissemitas como uma maneira de se integrar à sociedade dominante e evitar perseguições. Durante a Idade Média, muitos judeus convertidos ao cristianismo adotaram as crenças antissemitas de sua nova religião. Por exemplo, o padre judeu convertido Johannes Pfefferkorn foi um dos principais defensores da perseguição aos judeus na Alemanha do século XV.
  • Judeus assimilados: No século XIX, muitos judeus começaram a se assimilar às sociedades não-judaicas. Alguns desses judeus adotaram as atitudes antissemitas de suas sociedades anfitriãs. Por exemplo, o filósofo judeu francês Émile Durkheim foi um dos principais defensores do antissemitismo científico.

Alguns exemplos de judeus que se dizem apenas antissionistas:

  • Lazar Kaganovich: Após a Segunda Guerra Mundial, muitos judeus se opuseram à criação do Estado de Israel. Eles acreditavam que a criação de um Estado judeu seria prejudicial para os judeus em todo o mundo. Por exemplo, o líder judeu soviético Lazar Kaganovich foi um dos principais oponentes do sionismo. Lazar Kaganovich desempenhou um papel importante no estabelecimento do território autônomo judeu de Birobidjan na União Soviética. Birobidjan foi fundado em 1934 como uma resposta oficial do governo soviético ao movimento sionista judaico. O objetivo era criar uma região autônoma judaica na União Soviética como uma alternativa à criação de um Estado judeu independente na Palestina.
  • Norman Finkelstein: É um autor e cientista político conhecido por suas críticas ao sionismo e às políticas de Israel em relação aos palestinos. Ele é filho de sobreviventes do Holocausto e se tornou uma figura proeminente nas discussões sobre Israel e o conflito na região.
  • Rabino Brant Rosen: É um rabino americano que se identifica como antissionista. Ele é conhecido por seu ativismo em questões relacionadas à justiça social e pelos direitos dos palestinos.
  • Sara Roy: É uma acadêmica e pesquisadora conhecida por seus estudos sobre a economia política de Gaza. Ela é filha de sobreviventes do Holocausto e expressou críticas às políticas israelenses em relação aos palestinos.
  • Ilan Pappé: É um historiador israelense conhecido por seu trabalho crítico sobre a história de Israel e o conflito com os palestinos. Embora não seja descendente direto de sobreviventes do Holocausto, ele é filho de pais judeus que fugiram da Alemanha nazista.

No Brasil temos alguns expoentes, assim como em outros países.

Contextualização Histórica:

Ao longo da história, a comunidade judaica tem sido caracterizada por uma diversidade de opiniões e correntes de pensamento. Discordâncias ideológicas, políticas e religiosas sempre foram parte integrante da rica tapeçaria cultural do judaísmo. Desde debates teológicos até dissensões sobre sionismo e política, a pluralidade de vozes sempre foi uma marca distintiva.

Diversidade de Opiniões:

É vital reconhecer que a comunidade judaica abriga uma multiplicidade de opiniões sobre o judaísmo, o sionismo e as políticas israelenses. Em meio a essa diversidade, é crucial cultivar um ambiente que promova o diálogo construtivo e respeitoso, onde diferentes perspectivas possam coexistir, enriquecendo a comunidade como um todo e dando um sentido de pertencimento a cada indivíduo.

Abordagem Sensível ao Holocausto:

Os neo-judeus fazem uso enfático do Holocausto, como judeus que tiveram familiares mortos pelos nazistas. Desta maneira, tentam provar especialmente para sim mesmos de que s’ao aut”enticos judeus. É imperativo abordar com cautela o uso do Holocausto por parte de alguns neo-judeus para fundamentar suas opiniões. O Holocausto é uma tragédia inegável e sensível, e seu uso em debates contemporâneos merece uma reflexão cuidadosa para evitar interpretações equivocadas e garantir um ambiente de respeito histórico.

Diálogo Construtivo:

Incentivar um diálogo construtivo entre membros da comunidade judaica com opiniões diversas é fundamental. Esse diálogo pode servir como uma ferramenta valiosa para compreender preocupações individuais, construir pontes e fortalecer a coesão com base na diversidade de pensamento. No entanto, é imperativo que a comunidade combata este tipo pernicioso de neo-judaísmo.

Enfrentamento do Antissemitismo:

É crucial distinguir entre críticas legítimas a políticas específicas e discursos antissemitas. Ao fazê-lo, podemos promover discussões construtivas, abordando preocupações específicas sem recorrer a generalizações prejudiciais que possam minar a unidade da comunidade.

Como lidar com o neo-judaísmo

Não há uma solução fácil para o problema do neo-judaísmo. No entanto, existem algumas coisas que podem ser feitas para lidar com esse problema.

Não vamos mudar o que já deu errado, mas podemos tentar evitar ao máximo o surgimento de novos neo-judeus.

Empoderamento da Identidade Judaica:

Iniciativas que fortaleçam positivamente a identidade judaica, destacando a diversidade de tradições culturais, históricas e religiosas, podem contribuir para uma comunidade mais robusta e coesa.

Recursos Educacionais:

Recomendar recursos educacionais equilibrados que abordem questões relacionadas ao sionismo, judaísmo e conflitos no Oriente Médio pode promover uma compreensão mais completa e informada, capacitando os membros da comunidade a formar suas próprias opiniões bem embasadas.

Incentivo à Aceitação e Compreensão:

Fomentar uma cultura de aceitação e compreensão dentro da comunidade judaica, onde as diferenças são respeitadas e debatidas saudavelmente, é fundamental para construir pontes e fortalecer a coesão interna.

É importante apoiar todos os judeus que estão questionando sua identidade judaica. Isso pode ajudar essas pessoas a superar suas dúvidas e a se aceitarem como judeus.

Como judeus, temos um passado, um presente e um futuro comum. Não somos diferentes de nenhum outro povo que habita o planeta, temos nossos bons e maus elementos.

Entre todas as nações, existe apenas um Estado Judeu e ele tem que ser respeitado e preservado. Os governos passam, o estado permanece.

Aos neo-judeus, lhes resta o mesmo fim de todos os seres similares de outros povos na história, a solidão e o esquecimento.