Numa terra marcada por narrativas tão profundas quanto suas raízes milenares, os nomes carregam ecos de uma história que desafia o tempo. Majd, Mohammad Khaled e Abu Hassan, palestinos de Wadi as-Seeq, trazem à tona uma verdade que se estende para além do que se vê — uma verdade que Israel deve encarar com olhos abertos e coração disposto.
A imagem dos três homens, algemados e vendados, é uma representação crua de um conflito que não pode ser simplificado ou ignorado. É aqui que o conceito do aparente do aparente se revela; uma ideia explorada por filósofos como Sartre, que nos convida a olhar além das aparências imediatas para descobrir as estruturas subjacentes que moldam a realidade.
Neste quadro, o aparente é a imagem capturada — a violência, a subjugação, a opressão. Mas o aparente do aparente é a história por trás da imagem, as forças políticas, sociais e históricas que levaram a essa realidade. É a narrativa não contada, a dinâmica do poder, o legado de uma terra disputada e o custo humano de um conflito prolongado.
Israel, ao se confrontar com esta imagem, não pode se limitar a interpretá-la como um episódio isolado. Deve reconhecer que cada ação tomada em seu nome carrega o peso de um passado que não pode ser desenredado do presente. Os atos de violência perpetrados em nome da segurança nacional ecoam a complexidade de uma luta que é ao mesmo tempo atual e ancestral.
Essa luta, contudo, não deve ser um pretexto para a desumanização. O aparente do aparente nos ensina que a verdadeira luta é contra a indiferença, contra a normalização da injustiça e contra a resignação à violência como status quo.
A sociedade israelense, portanto, é chamada a uma responsabilidade que vai além do reconhecimento superficial dos eventos. É um chamado para desvendar as camadas de significado e agir com base em uma compreensão mais profunda da realidade compartilhada.
Cada israelense deve agora olhar para dentro e fora, enfrentar a multiplicidade de narrativas e escolher a que defende a vida e a dignidade acima de tudo. A história de Majd, Mohammad Khaled e Abu Hassan é um ponto de inflexão, uma oportunidade para rejeitar a indiferença e abraçar a empatia.
Os eventos de Wadi as-Seeq não são meros pontos de dados na cronologia de um conflito; são reflexos da alma de uma nação. Eles questionam a integridade de uma sociedade e seu compromisso com os valores que professa.
A segurança, um direito inalienável, quando construída sobre o sofrimento dos outros, torna-se uma fortaleza de areia, destinada a desmoronar sob o peso da justiça. O aparente do aparente nos mostra que a segurança verdadeira é inseparável da justiça e da equidade.
É o momento para a sociedade israelense de se tornar a autora de uma nova narrativa, uma que honre tanto a segurança quanto a humanidade. Uma narrativa que reconheça que as ações tomadas hoje escrevem o roteiro do amanhã.
A responsabilidade de mudar o curso da história é grande, mas começa com o reconhecimento de que o aparente do aparente é um reflexo da nossa própria condição. É um desafio para olhar além das imagens e perceber as vidas que são afetadas, as histórias que são interrompidas e os sonhos que são adiados.
Cada ato de violência contra um palestino é uma cicatriz na consciência coletiva de Israel, uma lembrança de que a guerra e a ocupação têm rostos humanos, têm consequências que se estendem muito além dos campos de batalha.
A foto de Majd, Mohammad Khaled e Abu Hassan, com seus olhos cobertos, não deve ser vista apenas como o retrato de um momento de subjugação, mas como um convite a refletir sobre o que não é visto — sobre as histórias, as esperanças e as dores que permanecem ocultas.
A socIedade israelense tem a oportunidade de responder a esse convite com ação, de mostrar que é capaz de transcender o ciclo de violência e retribuição, de construir uma realidade baseada no respeito mútuo e na compreensão.
O aparente do aparente é um lembrete de que a verdadeira paz não é uma trégua temporária, mas uma transformação profunda que começa no coração de cada indivíduo e se estende pela sociedade inteira.
Israel deve, portanto, escolher o caminho da empatia e da coragem, o caminho que reconhece a humanidade em cada pessoa, independentemente das linhas traçadas no mapa ou das narrativas construídas ao redor de antigos conflitos.
Neste ponto da história, a sociedade israelense deve escrever um novo capítulo, um onde o aparente do aparente se torne um guia para ações que honrem a vida e a liberdade, que criem pontes em vez de muros, que curam em vez de ferir.
A escolha é clara e o momento é agora. Majd, Mohammad Khaled e Abu Hassan não são apenas nomes; são um chamado à consciência, um apelo à ação, um teste da nossa vontade de sermos verdadeiramente humanos.
Certamente, muitos apontarão para os ataques perpetrados pelo Hamas como uma justificativa para as ações de Israel; a realidade de uma guerra não pode ser negada. A dor e o sofrimento causados pelos ataques no Sul de Israel são reais e geram uma resposta visceral e imediata. A guerra, com sua cruel lógica de ação e reação, de ataque e defesa, é uma realidade que Israel enfrenta com coragem e determinação.
Mas a questão que permanece é a seguinte: qual a verdadeira conexão entre os três palestinos amordaçados em Wadi as-Seeq e os combates em Gaza? Não é uma questão de simples identificação de inimigo, mas de entender as complexas dinâmicas que governam as interações humanas em tempos de conflito. O tratamento dispensado a Majd, Mohammad Khaled e Abu Hassan, afastado dos campos de batalha em Gaza, levanta questões profundas sobre a natureza da justiça e da humanidade.
O vínculo entre as ações no front de Gaza e as experiências desses três homens em territórios ocupados é tênue e, para muitos, inexistente. Os que lutam em Gaza enfrentam o inimigo em combate direto, enquanto a situação em Wadi as-Seeq fala de um conflito diferente, um conflito de direitos, identidades e a busca por dignidade.
Reconhecer essa distinção é vital. É um reconhecimento de que, enquanto Israel tem o direito de se defender, também tem a responsabilidade de garantir que a justiça e a humanidade prevaleçam em todas as suas ações. Os que conhecem a diferença e escolhem fechar os olhos tornam-se coniventes com atos que não refletem os valores sobre os quais uma sociedade justa deve ser construída.
Portanto, enquanto a guerra contra o Hamas em Gaza é uma realidade amarga, não pode ser usada para desviar a atenção das violações dos direitos humanos que ocorrem fora daquele contexto imediato de combate. Israel, como sociedade, deve manter-se firme não apenas contra os ataques externos, mas também contra as injustiças internas que ameaçam seu tecido moral.
No final das contas, a história julgará as ações de hoje não apenas pelas batalhas ganhas ou perdidas, mas pelo compromisso inabalável com a justiça e a humanidade. Este é o desafio que Israel enfrenta — ser um bastião de força e segurança, ao mesmo tempo em que mantém a integridade e a compaixão que formam o núcleo de sua identidade.