A corrente stalinista, que não hesita em criticar as alianças de Lula com o centro, mesmo sob pena de colocar em risco a eleição do ex-presidente e a permanência do fascismo no Brasil, que não hesita em defender a liberdade plena de expressão quando o que está em jogo é a criação de um partido nazista, que aceita compromissos com o criminoso do Planalto, que defende o antiamericano Vladimir Putin e finge não ver o autocrata de extrema-direita que chefia o Kremlin, pois bem essa facção é incapaz de defender os direitos humanos quando as violações envolvem um país dito comunista, no caso a China. Silencia.
Uma certa mídia que se auto-denomina independente, chamada Brasil 247, que diariamente ataca (com razão) a grande imprensa por falsear a verdade em nome de interesses particulares, foi incapaz de trazer uma palavra sobre a divulgação de dezenas de milhares de documentos secretos chineses expondo a violação de direitos humanos contra a comunidade Uigur. Escamoteia, portanto, os fatos, da mesma maneira que os Marinhos, Saads, Santos e companhia.
Arquivos policiais, fotografias e documentos oficiais de altos funcionários do PCC, Partido Comunista da China, chegaram às mãos da BBC e de outros dezesseis meios de comunicação internacionais, oferecendo um painel da magnitude do sistema prisional e do tratamento desumano imposto por Pequim à minoria Uigur, na região de Xinjiang.
Essa corrente stalinista abandonou, esperemos que não definitivamente, os valores humanistas, a ponto de fechar os olhos para os crimes contra a humanidade cometidos por aqueles que utilizam em vão a palavra comunismo.
Os documentos publicados na imprensa internacional fornecem provas cabais da política repressiva chinesa dirigida contra qualquer expressão da identidade, cultura e fé islâmica Uigur, e citam uma cadeia de comando que chega ao presidente chinês, Xi Jinping, em pessoa. Os ficheiros hackeados contém mais de 5 mil fotografias de uigurs sendo maltratados, tiradas pela polícia entre janeiro e julho de 2018, além de outros 2.884 documentos e também discursos confidenciais de altos funcionários chineses, manuais internos da polícia e informações pessoais, com detalhes do internamento de mais de 20 mil uigurs.
O PCC é acusado de prender mais de um milhão de uigurs e membros de outras minorias muçulmanas na região do extremo oeste da China como medida de repressão, que dura há vários anos e que muitos rotulam de “genocídio”.
Com base nesses documentos da polícia de Xinjiang, defensores dos direitos humanos acusam as autoridades chinesas de realizarem campanhas de trabalho forçado, tortura física e psicológica, a que dão o nome de “reeducação”, esterilização forçada para baixar os níveis de natalidade de mulheres de religião islâmica e destruição do seu patrimônio cultural. Os documentos publicados falam em práticas como ablações do útero, abortos forçados, colocação de stérilets, sem falar em estupros. Muitas mulheres seriam forçadas a virar escravas sexuais.
São no total 150 “Escolas de Reeducação”, que, como mostram os documentos publicados, não passam de campos de reeducação, no melhor estilo da época do Grande Timoneiro. Ali, os uigurs são submetidos a técnicas que visam “retirar de suas cabeças o vírus que os fazem pensar de forma diferente ». No total, haveria 1 milhão de detidos.
Apesar das provas contidas nas publicações, a China reage qualificando as acusações de “mentira do século ». Segundo o Partido, Pequim está preocupada exclusivamente com a desradicalização e o combate ao terrorismo, uma vez que nos últimos anos vários ataques terroristas foram reivindicados pela minoria Uigur.
A afirmação do governo chinês de que os campos de reeducação construídos em Xinjiang desde 2017 nada mais são do que “escolas” é contrariada por instruções internas da polícia, listas de guardas e imagens nunca antes vistas de detidos. Quanto ao uso generalizado das acusações de terrorismo, sob as quais muitos milhares foram condenados à prisão, tudo não passaria de um pretexto para um método paralelo de internamento, através de “sentenças arbitrárias e draconianas”, como se refere a BBC. Muitos uigurs foram detidos apenas por sinais externos comuns da sua fé islâmica, a começar pelas barbas compridas dos homens e o uso de hijab pelas mulheres, ou por visitarem países com população majoritariamente muçulmana, ou fazerem a viagem à Meca. Os cemitérios e lugares de culto são sistematicamente destruídos, a prática religiosa, condenada.
Embora utilize o termo de formação profissional, Pequim reconhece que o objetivo das « escolas » é a reeducação dos uigurs, que teriam aí a oportunidade de sair da pobreza e se preservar do islã radical. Assim, centenas de milhares de prisioneiros são obrigados a renegar as suas convicções religiosas e jurar fidelidade ao PCC. Ex-detidos, reconvertidos em operários a serviço das empresas locais, são frequentemente apresentados nos canais oficiais de televisão como modelos de reinserção social, que hoje vivem felizes.
A televisão estatal afirma que a admissão nesses campos é facultativa. As reportagens mostram imagens de estudantes aprendendo o mandarim e profissões nos setores da alimentação e têxtil. Muito embora as iumagens divulgadas pela imprensa internacional mostrem que os campos têm muros altos, cercas de arame farpado e miradouros como nas prisões.
Para o Estado chinês, o controle de Xinjiang é um elemento econômico primordial. As rotas comerciais entre a Europa e a Ásia se cruzam na região, que está no coração do projeto da nova Rota da Seda, além do que seu subsolo é rico em recursos naturais como petróleo, carvão, gás natural, urânio, cobre, zinco, ouro, prata, e terras raras (compostas de 17 substâncias químicas cujas propriedades são utilizadas em uma grande variedade de aplicações tecnológicas e estão incorporadas em supercondutores, magnetes, catalisadores, entre outros. Essas substâncias também foram muito usadas em tubos de raios catódicos para televisores e computadores.)
Entre 2017 e 2019, segundo o Instituto australiano de Estratégia Política, que depende do Ministério da Defesa, mais de 80 mil uigures foram requisicionados pelo Estado chinês para trabalhar em 83 multinacionais, dentre as quais BMW, Volkswagen, Gap, Adidas, Nike, Uniqlo, H&M, Apple, Samsung, Sony, Microsoft, Huawei, Haier, Oppo, em condições de semi-escravidão, ganhando salários miseráveis por mais de doze horas de trabalho diário.
Os documentos agora publicados mostram ainda que as condições de vida dos uigurs internados nos campos de reeducação são extremamente duras: acordam antes do nascer do sol, cantam o hino chinês e celebram o hasteamento da bandeira às 7h30; em seguida têm duas horas e meia de curso de chinês, onde aprendem história e cantos comunistas. Ao meio-dia tomam uma sopa rala de legumes com um pouco de arroz e um pedaço de pão. Os banhos são raros, para evitar que lavem as mãos e os pés como ditam as regras muçulmanas. Diariamente ouvem discursos sobre os perigos do fundamentalismo religioso e do separatismo e passam testes sobre os perigos da religião islâmica. As respostas “erradas » são sancionadas com castigos corporais. Os detidos são obrigados a comer carne de porco e tomar bebidas alcoólicas, a substituir as rezas antes das refeições por agradecimentos a Xi Jinping. Com frequência dormem a dois em uma cama, quando não são obrigados a dormir em turnos para limitar o número de leitos.
Segundo uma diretiva de 2017, os prisioneiros devem passar o dia a gritar slogans e entoar cantos revolucionários; precisam conhecer de cor o Clássico dos Três Caracteres, comumente conhecido como San Zi Jing ou Clássico Trimétrico , um dos textos clássicos chineses que resume o pensamento de Confúcio .
A tortura é constantemente utilizada.
Em junho do ano passado, a ONU recebeu informações consideradas críveis sobre a extração forçada de órgãos de prisioneiros nos campo, para transplante.
Às acusações, Xi Jinping, que soma mais poderes que todos os seus predecessores, responde pelo sarcasmo. Ao conversar com a alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, em visita à China, afirmou que “nenhuma nação se encaixa no ideal de direitos humanos e que não há necessidade de um professor dando lições a outros países. Afinal, a proteção dos direitos humanos é uma tarefa para toda a humanidade”.
Apesar das provas contundentes, esta corrente stalinista, que se diz de esquerda, limita-se a responder que tudo não passa de propaganda ocidental e opta pela pose do avestruz, enterra a cabeça na areia e assim nada vê.