A morte de uma menina indígena yanomami não me deixou dormir. Ela foi estuprada por garimpeiros que invadiram seu território. Roubaram terras, adoeceram sua família, usaram seu corpo e a mataram.
Isso aconteceu ontem. Vésperas de Yom HaShoa. Não consegui dormir ao lembrar que isso aconteceu com as vítimas do nazismo ontem. Mulheres e meninas foram estupradas e mortas. Aos milhares, às centenas de milhares.
O presidente da República defende garimpo em terras indígenas. Deslinde os garimpeiros, mas silencia diante do estupro da menina.
O presidente da República falou dos indígenas antes das eleições. Na Hebraica do Rio foi aplaudido quando disse que não daria um centímetro de terra aos indígenas. Aplaudido. Ele estava preparando a terra para o genocídio indígena. E para o estupro da menina yanomami.
Como judeu me senti assustado. Como descendente das vítimas do genocídio nazista, sei que se não pararmos isso a tempo, haverá mais. Muito mais. Haverá leis, expulsão e assassinatos em massa. Sei que Auschwitz só existiu por causa do silêncio dos que deveriam gritar. Tal qual sei que a menina estuprada e morta só existe pelo nosso silêncio. E pelos aplausos que começaram na Hebraica.