No dia 20 de janeiro de 2022, no Programa Um Tom de Resistência, da TV247, a senhora Lúcia Helena Issa manifestou seu profundo ódio aos Judeus e Judias, divulgando inverdades e absurdidades contra o Povo Judeu. Enfim, abriu sua maleta de monstruosidades e, sem qualquer pudor ou vergonha, e sequer critério, manifestou ao mundo o seu antissemitismo.

A senhora Issa confunde, entre outros aspectos, Judeus com Israelenses, Israel com Povo Judeu, Governo de Israel com Israel e um conflito que, de início era Israel-Árabe (ela desconhece isso, aliás, ela e outros antissemitas) e que se tornou, por variados motivos, um conflito Israel-Palestina. O antissemita, e a senhora Lúcia Helena Issa é antissemita, comumente cria uma situação externa, fakerizada, rasa, sem fundamento, a fim de legitimar seu ataque antissemita. Foi assim com os primeiros antissemitas medievais, foi assim com o mussolinismo, foi assim com o hitlerismo e, hoje, é assim com o conflito (ou causa) Israel-Palestina. Não se trata, da parte dela, de uma análise lógica, histórica, geopolítica, econômica, jurídica, imparcial, religiosa etc. Não, trata-se de escandaloso antissemitismo que começa, e termina, em ódio aos Judeus e Judias.

Nesse sentido, pouco importa, digo, nada importa, que a mesma senhora Lúcia Helena Issa diga que “tem amigos Judeus”. É, comumente, um método de dizer: sou antissemita, mas tem algum Judeu que me apoia. Já ouvi isso, inclusive, em encontros Inter-religiosos (que promovo e apoio). Certa vez, ouvi: “você é um Judeu diferente, muito simpático e humanista”. Fosse um desavisado, raso e sem critério para ouvir, pensaria orgulhosamente: “sou foda”. Mas, não, a fala “você é um Judeu diferente, muito simpático e humanista” não é um elogio a mim, ou a outro Judeu e Judia, mas um ataque, claro e inescondível, antissemita. O mesmo fez a senhora Issa ao dizer que “tem amigos Judeus”. Ela quer dizer, com isso, que mesmo tendo algum amigo Judeu, está autorizada a ser antissemita.

Sobre Israel e Palestina, a senhora Issa demonstra não apenas ignorância, e uma visão osmótica, acrítica, irresponsável e militante do baixo clero, como sói acontecer nesse tema, mas uma ignorância perigosa, violenta, propagadora de ódio e, por fim, de uma “autorização legítima” (pois ela se considera uma autoridade sobre o tema) para que todos que a ouvem, seguem e defendem, possam, também, odiar os Judeus e Judias pelo mundo. É um discurso que conhecemos desde muitas décadas: a normalização do ódio aos Judeus e Judias.

Não há em sua fala, no referido programa (com algum atraso, retirado do ar pela TV 247) qualquer demonstração de conhecimento. É o discurso oportunista aparentemente a favor de um povo, o Palestino, mas, insincero, demagógico e hipócrita, que não prevê sequer a composição dialógica entre Israelenses e Palestinos. Não há em sua fala qualquer demonstração de conhecimento histórico e sequer conhecimento das muitas facetas que levaram ao conflito. É oportunismo barato, em nome de uma “esquedopatia” que não se constrói no conhecimento, mas no discurso lançado sem responsabilidade. Aliás, é a esquerdopatia que envergonha a própria Esquerda – séria e combativa.

Não sabe a senhora Issa que Israel é, sim, um país legítimo, assim como deve ser a Palestina. Não sabe a senhora Issa que Israel nasce, não do imperialismo estadunidense (discursinho vagabundo!) , mas da melhor Esquerda existente naquelas terras: o socialismo buberiano, o anarquismo de Landauer, os valores libertários do proudhonismo, enfim, o movimento kibutziano, cuja organização foi, desde 1870, explicitamente socialista, anarquista, progressista, construtiva, pluralista.  Não sabe a senhora Issa que, diferente do discursinho raso de “imperialismo” regional, os Estados Unidos não apoiaram a criação de Israel, mas, sim, a comunista União Soviética.

Não sabe a senhora Issa que há, sim, grupos judaicos e Israelenses (e não é pequeno nem inexpressivo) que defendem, dentro e fora de Israel, a criação do Estado da Palestina ao lado do Estado de Israel, como conclusão óbvia, jurídica, nacional e internacional. Não sabe a senhora Issa que há, sim, muitos Palestinos, que defendem a existência de Israel, assim como a criação de seu próprio Estado – Palestina. Não sabe a senhora Issa que há não um, nem dois, mais muitos grupos Palestinos, entre os quais, Hamás e Fatah, que não se confundem. Não sabe a senhora Issa que o discurso do Hamás, alinhado a um interesse geopolítico iraniano, é de destruição completa de Israel, enquanto o do Fatah é de composição e diálogo com Israel. Não sabe a senhora Issa que em Gaza há um governo do Hamás, e na Cisjordânia, um governo do Fatah.

Pouco, aliás, nada, sabe a senhora Issa sobre Israel e Palestina, e como toda voz sem conhecimento, e muita saliva, torna-se vazia, destrutiva, odiosa ao disseminar incontido ódio antissemita.

Apesar da fala, mais uma fala, da senhora Lúcia Helena Issa, aberta e desavergonhadamente antissemita, continuamos, nós, Judeus e Judias progressistas, na defesa da criação de um Estado palestino, na integridade e desenvolvimento do povo Palestino, na defesa de seus direitos, e, não menos, na defesa dos direitos dos Israelenses. Continuamos defendendo a coexistência de dois Estados, de dois Povos – Israel e Palestina. Em que pese sermos parte dessa luta, não estamos desatentos do antissemitismo, em suas muitas faces, sendo uma, comumente utilizada, o antissionismo.

Não, ser antissionista não é, por si só, um antissemitismo, até porque não há um único sionismo. O que ocorre é que, assim como outras maquiagens do antissemitismo, por exemplo, as citadas mussolinista e hitlerista (tratando falsamente de raça e economia), o antissionismo (geralmente utilizado por quem, assim como pela senhora Issa, nada entende de sionismo) é a atual máscara, pintura política, colorido, que tenta esconder o antissemitismo. Nesse sentido, o antissionismo é, não poucas vezes, um antissemitismo mascarado. No caso das falas da senhora Lúcia Helena Issa ficou claro que, embora valha-se dessa máscara “antissionista”, no mais, e em quase tudo, mostra um aberto e desavergonhado antissemitismo que deve ser, sem reservas, combatido.

Nós, Judeus e Judias progressistas, lutamos contra o antissemitismo assim como lutamos contra a islamofobia, homofobia, misoginia, machismo, racismo, exploração do trabalhador, destruição do meio ambiente, trumpismo, salvinismo, bolsonarismo e neopetencostalismo político. Lutamos, também, contra os discursos de ódio anti-Palestina e anti-Israel. E lutamos contra a mentira, o falseamento das pautas, a esquerdopatia (sempre rasa e acrítica) que, no mais das vezes, revela a osmose, a repetição, a falta de substância argumentativa, enfim, como escreveu Theodor Adorno, a burrice (Dialética do Esclarecimento). No caso da senhora Issa, não apenas burrice, mas uma burrice perigosa e destrutiva – o antissemitismo.

© Pietro Nardella-Dellova