Não quero um país, mas o mundo. Não quero uma língua, mas várias (de carne, letras e fogos). Não quero uma bandeira nacional (e, muito menos, um hino nacional), mas a mente aberta para compreender as dores da humanidade. Não quero fronteiras, mas jardins imensos. Os  jardins são prazerosos; as fronteiras, destrutivas.

Não quero a teologização do mundo, mas a sua espiritualidade. E a espiritualidade não se encontra na Teologia, mas na Poesia, na Música, na Pluralidade, na Diversidade.

Não quero esses políticos tacanhos, mas Política, grandiosa e eloquente.

Não quero comer ou ser comido por alguém, mas amar intensamente ao ponto de aproximar almas e corpos e despertar prazeres diversos em todo percurso. Eu quero o prazer do encontro de almas e corpos libertos, libertos pelo amor, libertos para o amar. Não quero a tristeza das Academias, mas a alegria da simplicidade. 

Não quero falar ou ouvir sobre pessoas que não estejam presentes, mas apenas com pessoas sentadas para o café – um demorado café, com as quais eu possa rir, chorar, avançar, mergulhar, aprofundar, verticalizar ou simplesmente falar e ouvir de poesia, música, dança e de amores libertários.

Eu preciso de muito mais verduras e frutas, e menos – ou nada, de animais assassinados e seu sangue sobre a mesa. Não quero a financeirização do mundo, mas os valores que norteiam a economia. Não quero a escravização da terra, e sua exploração, mas a libertação da terra e seu uso familiar, solidário, comunitário, mutualista, inteligente, inclusivo. Quero a terra que produz o pão; não a especulação financeira.

Não quero o Ensino à Distância, mas Presencial, de encontros circulares, dialógicos, alegres. Não quero uma foto diante de mim, mas faces verdadeiras, que riem e choram. Não quero matriculados diante de mim (com seus celulares fiscalizadores ou emburrecedores), mas Estudantes, Estudantes profundos, com sua liberdade para ouvir, falar, ler, debater e compreender um mundo plural.

Não quero um Deus acima de tudo e de todos (esse Deus não presta!), mas quero a Alma humana e seus Atos de bondade, praticando, diuturnamente, a justiça, a igualdade e a solidariedade! Quero espaço para todos os Deuses e Deusas criados pela sensibilidade humana (e nenhum deles maior ou menor!).

Enfim, eu quero Poesia, não Poema!

Pietro Nardella-Dellova

imagem: Over the Town 1918 Marc Chagall