Quando eu era criança tinha muito medo, pois elas vinham com muitos raios e trovões, me escondia em baixo da cama. O barulho das goteiras me deixavam preocupa com mamãe, pois ela percebia que o telhado precisava de reparos, e isso podia demorar, fazendo-a espalhar vasilhas pela casa toda. O barulho repetitivo do pingar (pic pic), me causava angústia. Mas após a chuva, o terreiro lavado e imaginativo, dava-me a permissão para sonhar… Ali, desenhava tudo e criava histórias com personagens ricos e pobres. Os trabalhadores e os Lócios ( os donos da cidade, que se avizinhava do Sítio Chico Lopes). Percebia entre o diálogo de papai e mamãe, o tanto que eles exploravam os pequenos agricultores e pecuaristas.

Quando fiquei mocinha e fui morar em Recife, tive outros medos que se juntaram aos da minha infância, só que lá não tinha terreiros, mas ruas alagadas e gente desabrigada. Aquelas cenas mordiam o meu coração de desespero e impotência.

Mudei aos 18 anos para o NORTE apenas por uma temporada, mas fui ficando, ficando e as chuvas torrenciais, sem as goteiras de minha infância, me deixavam deslumbrada pelo vigor e rapidez. Quase não se demoravam. Eram fortes, rápidas e a velocidade da correnteza que descia para os corrégos e depois para os rios, tinha uma beleza selvagem. Tinha medo, mas sabia me controlar. Tinha que ter coragem. Estava na floresta longe de todos que amava.

Hoje, há dois anos, exatamente os anos pandêmicos, voltei a ter vontade de me esconder em baixo da cama. Não tem goteiras, mas tenho a sensação que os raios e trovões vão me atravessar e nunca mais poderei desenhar, tem terreiro, tem ideias, mas as mãos assustadas então paralisadas. Escrevo apenas na tela do celular.