A mulher
que vem pelo corredor
no vento, fogo, carne e ardor,
me leva pelos céus do seu rosto
e me beija com beijo de carne e gosto
voando nos azuis dos maiores cantos:
mulher de amar entre livros e aos cantos
atrás da porta, no pátio e sob escadas:
esta mulher, a mais branca das fadas,
a mais ungida de saliva, urros e vinho,
do umbigo mais ébrio e do maior carinho,
do maior sorriso, do gozo mais vermelho,
da beleza jamais vista em qualquer espelho
esta mulher
sem véu nem túnica
da boca mais lúbrica,
é tudo, é louca,
é céu e inferno: é única!
diante de quem,
largo o mundo, vírgulas e pontos,
assim, sem freios, sem Éden e, tontos,
no mergulho de frase livre, libertária,
sem fim ao fundo do seu mundo,
e
desde o seu desavergonhado rosto
beijo com beijo de carne e gosto
e
beija com beijo de carne e gosto
no gozo multifacetado sem receios
gozo de música sem partitura
gozo de ruptura
gozo de dança de corpo colado
que avança insano
dos
pés pernas jardim flor
braços umbigo cabelos e seios:
gozo de gozo integral de gozo humano!
© Pietro Nardella-Dellova
in “A Mulher Feita de Tudo Azul” (traduzido em português do meu poema italiano “La Donna D’Amore Blue“, 2001
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imagem: pintura de Iza Borgonovi Tauil, Rio de Janeiro