Já antecipo: não se trata de justificativa, legitimação ou concordância. O que aconteceu na Itália, onde jornalistas que foram agredidos na cobertura do evento onde para a nossa desgraça o delinquente da República nos representa, é inaceitável e digno do mais veemente repúdio. Estaca fincada.
Mas, da mesma forma que o TSE “não consegue estabelecer uma relação causal” entre os disparos em massa de fake news, mentiras e ofensas e a vitória eleitoral do delinquente, a nossa “grande imprensa” parece também deliberar pela cegueira sobre o que fizeram nos verões passados, onde funcionaram de forma eficientíssima como caixa de ressonância para todo o tipo de discurso de ódio, discriminação política, criminalização da política e o fascismo contra os governos do PT e a esquerda em geral.
Não sairemos desse atoleiro enquanto a sociedade não elaborar uma visão sólida sobre o que são os fenômenos de escolhas e consequências sob a ótica da história e das ciências sociais e políticas em particular.
Se as mídias sociais podem ser acusadas de, através de seus algoritmos, promover o dissenso, ódio e falsas polarizações em nome do lucro imediato, o que fez a mídia tradicional brasileira nos últimos 20 anos? O que foi aquele infindável pano de fundo do Jornal Nacional (e de outros programas da Globo) onde tubulações da Petrobrás eram representadas como “propinodutos”, dos quais borbotões de dinheiro era derramado? O que foi a máquina de destruir reputações construída pela Lava-a-Jato em conluio criminoso com a imprensa?
A eleição de um governo criminoso, ignorante, brutal, fascista, mentiroso e assassino é mera consequência de tantos anos de destrato com a verdade e da irrresponsabilidade social e cultural da grande imprensa. As verdades que hoje aparecem sobre o que foi o “mensalão”, a Lava-a-Jato e sua gangue, e outras ações partidárias do MP e do judiciário eram muito evidentes já nas origens e objetivos dessas operações, tanto que foram exaustivamente denunciadas por cientistas políticos, historiadores, e pelas valentes defesas dos acusados, e claro, por setores da imprensa não comprometidos com essa máquina de destruição.
Infelizmente muitos inocentes pagarão pelos pecados dos seus patrões, assim como mais de 600.000 brasileiros e suas famílias já pagaram, no último ano e meio pelos pecados de outros, e claro, em muitos casos, pelos seus próprios. O bolsonarismo (e o trumpismo) guardam uma escandalosa relação direta com a mortalidade por COVID-19 entre os seus. A imprensa, por sua vez, apanha pelas suas escolhas imediatistas e inconsequentes. Não por que eu queira ou ache correto. Mas por que a história nos ensina assim.