Gay não é gente!  Lésbica não é gente! Travesti não é Gente! Transexual não é gente! Mulher não é gente!

Estuprada não é gente! Mulher que pratica o aborto não é gente! Adotado não é gente! Filho mestiço, adulterino, incestuoso, ilegítimo, não é gente! Divorciado não é gente! Adúltera não é gente! (adúltero é!). Mulher sem companhia de pai, irmão e marido é Desonesta – não é gente! Prostituta não é gente! Mulher deflorada não é gente! Concubina não é gente!

Morador de rua não é gente! Empregada doméstica não é gente! Corintiano não é gente (para o palmeirense idiotizado)! Palmeirense não é gente (para o corintiano idiotizado)! Favelado não é gente!

Ocupador de moradias não é gente! Estudante das Privadas não é gente! Formado em Supletivo não é gente! Analfabeto não é gente! Despossuído não é gente! Sem-terra não é gente! Palestino não é gente (para o evangélico esquizofrênico e de direita que mora no Brasil e ora para Israel explodir a Palestina). Israelense não é gente (para a esquerda esquizofrênica e burra que mora no Brasil e torce para os palestinos exterminarem os israelenses).

Estrangeiro não é gente! Drogado não é gente! Não correntista não é gente! Nordestino não é gente! Morador da periferia não é gente! Morador de cortiço não é gente! Inquilino não é gente! Usuário de ônibus coletivo não é gente! Degredado não é gente! Preso não é gente! Gordo não é gente! Deficiente não é gente!

Comunista não é gente! Anarquista não é gente! Empresário (para o comunista anencéfalo) não é gente! Imigrante não é gente! Preto (tido como maldito de Noé) não é gente! Índio (tido como sem alma) não é gente! Ateu não é gente! Endemoninhado não é gente! Não-dizimista não é gente – é ladrão! Ladrão não é gente!

Infiel não é gente! Herege não é gente! Judeu não é gente! Não batizado não é gente! Muçulmano não é gente! Evangélico (para católico) não é gente! Católico (para evangélico) não é gente! Macumbeiro não é gente!

Só é gente quem tiver herança de sesmeiro. Só é gente quem for branco, proprietário, “votador” da direita, dizimista, batizado, casado e fiel, heterossexual, filho legítimo de casamento legítimo, católico apostólico romano, nacional e nacionalista, dogmático, usador de gravata e usadora de tailleur…

É a mesma história, sempre, recontada e institucionalizada, por via direta ou indireta, no texto da lei ou na omissão da lei. É a mesma patifaria dos mesmos patifes! É a mesma injustiça! É a mesma perseguição! É a mesma coisificação! É o mesmo abuso! É a mesma iniquidade! É a mesma intolerância! É o mesmo nojo! É a mesma pequenez!

É a mesma Vera Cruz! É a mesma Colônia! É o mesmo Império! É a mesma República! É o mesmo Estado Novo! É a mesma Ditadura Militar! E, por desgraça, é ainda o mesmo “Estado Democrático de Direito”!

Enfim, é a mesma morte, a morte das baratas!

© Pietro Nardella-Dellova, 2015