No próximo sábado, 3/10/2020 acontecerá a primeira edição do Festival da Canção de Protesto, evento do qual tenho o prazer e a honra de fazer parte desde sua gênese. Mauro Nadvorny, também criador deste blog, é o idealizador e responsável principal pelo belíssimo projeto. A seguir divido com vocês sucintamente algumas histórias e reflexões sobre o evento.

Em abril de 2020 Mauro (lá de Israel) me procurou (aqui na Alemanha) dizendo que cultivava havia certo tempo a ideia de criar este Festival. Por eu ser músico e ele não, ele me perguntou se eu considerava que tal ideia seria realizável, ainda mais em tempos de pandemia. E me explicou a ideia central do evento: dar voz a pessoas anônimas do Brasil que tenham não somente criatividade e talento musical, mas também o ímpeto de protestar contra o governo fascista que tomou o país.

Bem, Mauro abordou a pessoa certa para tal atividade, e eu disse a ele que musicalmente a ideia era sem dúvida factível e em termos de protesto, era ideal e necessária. Prontamente aceitei seu convite para ser um dos organizadores. Confesso que se fosse somente um festival de música, sem o tema do Protesto, eu teria declinado. Quem conhece meu trabalho sabe que em minha carreira musical as questões políticas e sociais são inerentes à minha obra. Para mim não há real arte se não houver por parte do artista a intencionalidade de transformar o ser humano e as sociedades para melhor. Conscientização, reflexão, autoconhecimento são alguns dos atributos potenciais que a Arte carrega em si. Mas quem quiser saber mais sobre o assunto e sobre minha concepção enquanto artista, anuncio que em breve lançarei a 2ª edição de meu livro, que traz tudo isto detalhado. Voltemos ao Festival:

Pois bem, começamos o trabalho. Logo vimos que seria necessário agregar mais pessoas para que o projeto de fato engrenasse. Tivemos a alegria de conseguir envolver diversas pessoas que, de forma inteiramente voluntária (assim como nós), se dispuseram a trabalhar para que o evento se concretizasse. Aproveitamos para agradecer a todas e todos: Alexandre Lopes, Antônio Filho, Clarisse Goldberg, Isabella Lopes, Marco Paulo Ferreira e Raíssa Ruschel.

Assumi a presidência do Júri, formado por mais quatro pessoas além de mim: Andrea Cavalheiro, Lúcia Rodrigues, Luiz Felipe Carneiro e Thiago Suman. Obrigado, companheiras e companheiros!

E começamos a divulgar. Para nossa agradável surpresa, no fim de agosto, quando o prazo de inscrição se encerrou, tínhamos cerca de 200 canções enviadas. E assim os jurados tiveram dez dias para ouvir cada uma delas e escolher as dez finalistas, que participarão do Festival no próximo sábado. Foi uma tarefa trabalhosa, mas muito agradável. Havia muitas canções realmente boas.

Dentro deste trabalho de meses que se consagrará no dia 3 de outubro, aquilo que para mim é o mais importante é saber que há realmente muitos e muitas artistas no Brasil se expressando contra o Fascismo no país. A Arte precisa ser – como historicamente sempre foi – uma arma que dispara flores contra os monstros que estão a destruir a cultura e a sociedade brasileiras. E esperamos que estas flores tragam mais união e mais força à luta da Resistência. Como diz o ditado latino, “ars longa, vita brevis”, a arte é longa e a vida é breve. Nossos dias passarão. Mas todas as 200 canções que fazem parte deste acervo de resistência ficarão registradas como o retrato da luta política neste momento ímpar e triste no Brasil.

Assistam no dia 3/10, votem em sua canção preferida, continuem a apoiar os e as artistas que vocês forem conhecer e fiquem atentos, pois enquanto houver necessidade de protesto, estaremos protestando. E as próximas edições do Festival da Canção de Protesto serão ainda maiores e ainda mais resistentes. Abraços.

#ForaBolsonaro #ArteContraOFascismo #EleNunca