São madrugadas tão longas

Que precedem esses dias intermináveis

São emoções sufocadas

Que eu gostaria de expressar

Mas nada descrevo como desejo

Não passam de suspiros

Quiçá um esboço,

De tudo que eu preciso falar

É tanta quarentena para amargar

São tantos sonhos para retardar

E o tempo se faz lento no exilio

E não há sol de primavera

Que dissipe essa solidão

Há uma profusão de cores em tantas flores

Que podia ser sonho, mas parece desamor

São portas fechadas

Asas quebradas

Silencio que ecoa

Enquanto eu preciso voar…

Há emoções em turbilhão

E um amor para encontrar

Tudo se faz em urgência de chegar

Mas a realidade me diz

Que ainda estou cá

Presa nessa madrugada sem fim

Que tenta suprimir os meus anseios

Mas eu insisto

Pulo, danço, e rodopio

Escrevo outras palavras

Construo outra rima

Que mesmo sendo pobre

Ainda consegue traduzir um tanto de liberdade

Quando contemplo o por de sol, nas margens do Tejo.

Flutuo nas asas da imaginação

Sinto-me numa tela de Rembrandt

Mas tenho traços da mulher descartada por Picasso

Se lá existe uma cama tão quente

Por aqui, as noites costumam ser frias

Já não sei se quero ser essa gaivota que sobrevoa o rio

Ou apenas a musa de tua poesia.