Quando garotos chegavam à puberdade, depois de passarem pela introdução visual e manual trancados no quarto ou no banheiro, seguiam a tradição de serem iniciados no sexo ou por uma doméstica ou por uma profissional. De uma hora para outra, parecia que todos já haviam transado menos eu e os amigos mais chegados. Como nenhum de nós tinha empregadas gostosas e disponíveis, o jeito seria recorrer às profissionais. Dada a nossa limitação orçamentária, todos os dedos apontavam para a mesma direção: a famosa Casa Rosa.
Em famílias locais tradicionais, os pais levavam os filhos para o evento ou pelo menos patrocinavam a excursão. Esse certamente não seria o meu caso. Com Rafael já na casa dos 75 anos, sexo não era provavelmente praticado muito menos discutido em casa, nem mesmo em piadas. Para ele, a libertinagem era uma coisa para domésticas e favelados promíscuos. Nunca aceitei isso, mas não pude deixar de assimilar parte da ideia de que o sexo era algo intrinsecamente sujo e que deveria ser ocultado da sociedade educada. Mesmo assim, já enjoado da minha mão, não via a hora de ser iniciado. Com isso em mente, eu e meus amigos ficamos meses juntando dinheiro para uma ida à Casa Rosa.
Finalmente o grande dia chegou. Numa tarde de sábado, marcamos de nos encontrar após o almoço para ir a nossa expedição erótica. Só que na última hora, quando estava preparando para sair recebi um telefonema do Maurício, meu melhor amigo e comparsa mor nessa aventura. “O Roberto me ligou dizendo que vai ao cinema hoje à tarde.”
“Para o cinema?! Como?! Já não tava tudo marcado!?”
“Pois é, ele disse que tinha esquecido. Que babaca né?”
“Esqueceu o caralho!! O veadinho amarelou!”, respondi com raiva. “E agora? Estou com a grana aqui. Como é que a gente faz? Vamo lá de qualquer maneira!”
“Olha, falei com meu pai e ele disse que só me deixa ir se for com o Roberto.” Maurício era medroso.
“Foda-se teu pai, Maurício! A gente pega um táxi e vai lá. Como é que ele vai saber? Se perguntar sobre a grana, fala que a gente foi no cinema e depois você me emprestou também. Sei lá, inventa!”
“Não dá, Rique. Já falei com o Jaime, com o Mário e com o Leo e ninguém vai. Se você está com tanta vontade, vai sozinho.”
A resposta mesquinha matou o papo. Não tinha coragem para ir pela primeira vez a uma zona sozinho. Mais tarde fiquei sabendo que até o pai do Roberto tinha ficado zangado com ele.
Algumas semanas mais tarde, consegui convencer os outros a ir sem um “guia”. Os pais deles liberaram e partimos para a Casa Rosa. Pegamos um táxi da casa do Léo em Copacabana sem saber ao certo como chegar lá, mas quando o motorista escutou “Rua Alice”, sabia exatamente onde era e o propósito daquela corrida.
Na ida, ficamos discutindo se deveríamos mentir sobre a nossa idade. Jaime, um cara mais ajuizado, porém cagão, falou: “Não sei se vão deixar menores de idade entrar lá, é melhor a gente dizer que tem dezoito anos.”
“Está maluco?! Você acha que a gente tem cara de dezoito anos? Olha só para a cara do Léo? Dezoito anos nem fodendo!”
“Tá bom, a gente diz que tem dezessete.”
Maurício, que gostava de ser o conciliador da turma, concordou. “Dezessete é um bom número, é quase dezoito e vai trazer mais respeito com as putas.”
Eu, que já estava me perguntando o que é que estava fazendo no táxi com aqueles panacas, intercedi. “Cara, se a gente falar que tem dezessete anos, a vamos parecer mais retardados do que a gente já parece. Vamos fazer o seguinte, cada um fala a idade que quiser.”
“Mas e se não deixarem a gente entrar?”
“Você já viu puteiro recusar cliente?”
A gente já estava em Laranjeiras. O motorista, que tinha ficado quieto durante a discussão mas que devia estar rindo por dentro, subiu uma ladeira e parou em frente a um casarão.
“É aqui.”
Depois de fazer a “vaquinha” para pagar o taxista, a gente saiu. A Rua Alice era bonita, arborizada e tranquila. O casarão chamava atenção com seu glamour desbotado de épocas gloriosas de um prostibulo de luxo e ficava atrás de um muro. Os dois eram de fato pintados de rosa. Assim que o táxi partiu, percebemos um carro de polícia estacionado logo depois da curva, o que fez com que o Jaime quisesse desistir.
“Quer ficar calmo, Jaime? Puta não morde!”
Quando estávamos para tocar a campainha, a porta se abriu e um grupo de policiais, uns ainda ajeitando o uniforme, saiu e nos cumprimentou com sorrisos cúmplices. Uma velhinha com cara de mafiosa apareceu logo atrás, deu boas vindas, nos levou até a recepção e desapareceu para dentro do casarão. Fomos sentar ao redor de uma mesa de madeira perto de uma pista de dança vazia e ficamos esperando. O silêncio nervoso era quebrado pelo show de samba que estava passando numa TV preto e branco. Ao lado havia luzes piscantes que subiam uma escadaria em cima de um balcão. Nele havia duas tabelas de preços penduradas: uma para bebidas e outra para programas.
Uma a uma, as garotas vieram descendo para a matinê. Nem de longe elas lembravam as beldades inacessíveis que enchiam nossa boca de água nas praias e nas revistas, mas pelo menos eram mais jovens e mais bonitas que nossas empregadas. A madame veio logo atrás, apontou para nós e disse:
“Está na hora do leite das crianças.”
Estavamos tão apavorados que elas nos escolheram, não o inverso. Quase sem dizer nada, nos levaram de volta para seus quartos. Quando a ação estava para começar, ouvi alguém bater o joelho contra a cama. A julgar pela reação, dava para sentir que tinha doído. Deu para ouvir a voz do Maurício gemendo através da parede fina de madeira e ele pulando de dor. Deu vontade de rir, mas, como todos, estava tenso demais para saber o que fazer.
Minha garota era mais bonita, branca, magra e nova que as outras e tentou me acalmar. “É a tua primeira vez aqui?”
Pensei em mentir, mas respondi que sim com o coração disparado.
Ela continuou. “Você me lembra um menino que esteve aqui na semana passada.”
Enquanto falava ela foi tirando a blusa e depois o sutiã e exibindo seus seios. Talvez pela minha cara hipnotizada ela deu uma risada. “Fica calmo, pode tirar a roupa também.”
Meio desconfortável, fui me despindo enquanto admirava seu corpo já nu. A situação me fez lembrar as cenas de abertura desengonçadas dos filmes pornôs. Quando estava pronto, me recostei no travesseiro e ela veio se deitar do meu lado. O colchão era duro e áspero.
“Meu nome é Lu e o teu”
“Rique.”
“Que nome bonito. É Rique de Henrique?”
“Não, de Richard.”
“Nossa, nome de lorde!” Ela deu outra risada e, vendo que ainda estava sem jeito, olhou para os seios depois para mim e me convidou: “Pode tocar se quiser.”
Nunca tinha visto peitos nus ao vivo antes, muito menos tocado. Coloquei as mãos e gostei. Depois, tomei coragem e comecei a explorar seu corpo, sem fazer a festa que tinha planejado, mas curtindo mais do que tinha imaginado. Sua pele nua era macia, morna e muito gostosa. Me sentindo ousado, coloquei minha boca nos bicos, ela pareceu gostar e depois de uma sessão mais intensa de bolinagem, já estava pronto. Ela se posicionou, me olhou nos olhos e disse.
“Vem, menino!”
O ato foi rápido e decepcionante, mas pelo menos contou como minha iniciação de “amante latino”. Não fui o primeiro a aparecer no andar de baixo, o que me fez sentir melhor. Depois de todos pagarem, descemos a ladeira tirando sarro do joelho e do orgulho dolorido do Maurício.
“E aí Mauricio? Qual era o tamanho do pau com que ela te bateu? “
…