Talvez esteja nascendo a “Geração 20”, uma geração de jovens antifascistas e antirracistas. Dia 7 de junho houve manifestações em pelo menos vinte capitais brasileiras, é a sétima manifestação seguida, e a cada semana se ampliam. Creio que a divulgação é ainda pequena, afinal, pode estar nascendo o mais importante movimento contra o conservadorismo do século XXI. Interessante como os jovens começaram a se organizar em plena pandemia com capacidade de ir à luta por eles e por nós. Vão à luta nas ruas com máscaras, cuidando-se, porque entenderam que as ruas não podem ser dominadas pelos automóveis que apoiam o desgoverno. Esses são os indiferentes a morte de mais de quarenta e um mil brasileiros pelo covid 19, porque falta um Ministério de Saúde competente. É chocante ver Trumpete e seu pai Trump dizerem que os jovens defensores da democracia são terroristas. Eles odeiam as lutas desta geração, que fortalece o frágil humanismo em tempos mortíferos.
Lembro a geração de 68 que em 2018 foi motivo de recordações pela passagem dos seus cinquenta anos. Aqui em Porto Alegre, essa geração não tinha mais do que centenas de jovens, sem apoio das mídias, pelo contrário. Portanto, a vanguarda de uma geração faz história, são os que sonham, não se adaptam à vida como ela é. Nas passeatas daqueles tempos não era fácil reunir gente. A reunião era na frente da velha faculdade de Filosofia, liderada pelo “DCE Livre”, e a caminhada era para o centro da cidade com cânticos como: “Povo unido jamais será vencido”. Numa das passeatas gritamos: “É pacífica, “É pacífica”, mas a Brigada não escutou, estava condicionada a bater e terminar com as manifestações de qualquer forma. Foram tempos de luta, poesia e amor; valeu a pena viver a vibração daqueles dias, mais sonhadora que hoje, mas mais distante da realidade.
Já são sete semanas seguidas de manifestações, cresce o entusiasmo dos jovens que caminham com bandeiras e máscaras na defesa de uma sociedade mais justa. Ao mesmo tempo nos Estados Unidos, o assassinato de George Floyd desencadeou um intenso movimento antirracista. Lá também nasce a Geração 20, que aos poucos se acorda e vai à luta. Talvez ainda sejam escritos livros dessa geração cuja energia de frente ampla com grupos democráticos está marcando a História. Os jovens lutam por uma sociedade mais justa e mais humana porque senão o amanhã será mais sombrio. São grupos das torcidas de futebol, de universitários, jovens de esquerda, de centro. Alguns dos cartazes estampam: “Todos pela Democracia”, “Bolsonaro terrorista é você”, “Preto unido Preto vivo” vão às ruas todos domingos.
Aplaudo a rebeldia da “Geração 20”. Essa juventude segue uma velha tradição histórica da rebeldia dos profetas bíblicos que lutaram pela justiça e pelo amor do “Cântico dos Cânticos”. São os que não atacam a natureza, defendem a educação, a saúde para todos, e são contra o racismo e o autoritarismo crescente. Têm lado, não estão do lado das milícias, nem dos que dão condecorações a elas. São contra o terror, por isso são atacados pelas Forças Desalmadas, mas sonham em recuperar o Brasil que vem sendo destruído. São sonhadores sim, pois sem imaginar o amanhã, sem sonhar que outro país é possível, não haverá chances de um futuro melhor. Tinha concluído a Geração 20, mas faltava um relato fidedigno do que vem ocorrendo exatamente nas ruas. Felizmente encontrei no site e no face do “Psicanalistas pela Democracia”, um artigo sobre o dia sete de junho de 2020 em São Paulo. Foi escrito pelo amigo Psicanalista Paulo Endo professor da USP:
“Estive em muitos cenários que levaram ao ato do último domingo e, para mim, em nenhum momento tal ato pareceu suicida, intempestivo e inventor de mártires. Foi um ato espontâneo que começou com trinta pessoas e, semanas depois, tomou o Brasil”.