Nós judeus temos uma longa história no mundo. Somos talvez o único povo mencionado na Bíblia que chegou até os dias de hoje. Muitos povos descendem de inúmeros outros lá mencionados, mas nós judeus estamos aqui atravessando 3.000 anos de história.

Como todo povo, tivemos momentos de grande prosperidade e outros nem tanto. Tivemos uma nação, perdemos e a recuperamos depois de dispersos pelo mundo. Sofremos perseguições, ódios e ainda assim sobrevivemos. Como costumamos dizer aos nossos algozes, “Am Israel Chai”, o Povo Judeu Vive.

Antes da dispersão pelo mundo, Israel foi ocupada pelos Romanos. Na verdade, todas as terras do Mediterrâneo foram conquistadas por eles e sua lei foi imposta. Basicamente, o que importava aos romanos era o recolhimento de impostos para sustentar o império.

Nem todos os povos submetidos a eles aceitavam a ocupação e o pagamento dos impostos. Inúmeras rebeliões aconteciam e eram feroz e cruelmente combatidas sem dó, nem piedade. Execuções de prisioneiros, com as famosas crucificações, eram medidas comuns para causar o maior impacto possível na população.

A ocupação romana de Israel é digna de comentários, não apenas por ter neste período nascido o Cristianismo, mas também pelas Rebeliões Judaicas. Uma delas em especial, foi a de Bar Kochba que deu origem a festa de Lag Baomer, comemorada nesta semana que passou.

Conhecida como a festa das fogueiras, era forma como os rebeldes se comunicavam uns com os outros para avisarem da aproximação das forças romanas. Existem outras explicações para isto, mas esta é a mais conhecida.

O resumo desta revolta pode ser visto de duas maneiras. Uma é de que os judeus expulsaram os romanos e retomaram Israel por alguns anos. Outra, é de que ao retomarem Israel, eles destruíram Jerusalém e o Templo, mataram algo em torno de 500 mil habitantes (entre combatentes e civis), escravizaram outro tanto e dispersaram os judeus pelo mundo.

De toda maneira, esta não foi a única vez em que judeus se rebelaram contra a opressão. Estivemos presentes em inúmeros outros momentos históricos, como na Revolução Russa, por exemplo. Inúmeros judeus lutaram ao lado dos Bolcheviques para derrubar o Czar e levar o proletariado ao poder. A família de meu avô paterno foi uma das que participou ativamente da revolução. Ao seu término, voltaram os Pogroms (perseguições aos judeus). Alguns familiares foram mortos, e outros, como meu avô, fugiram para o Brasil, mas isto é outra história.

Somos um povo como qualquer outro. Temos diferentes formas de pensar e podemos ser encontrados em todo espectro ideológico, da direita a esquerda. Não somos uma unidade política de pensamento.

De uma certa maneira, é certo de que onde existir uma luta contra injustiças, sempre haverá um judeu presente. Está no DNA de muitos de nós. Somos incapazes de assistir a opressão de um povo sem nos manifestarmos, mesmo quando isto acontece por outros membros do nosso próprio povo. Existem centenas de milhares de judeus e de israelenses na luta pelo reconhecimento do Estado Palestino.

No Brasil, não foi diferente, temos nossa própria cota de companheiros assassinados pela ditadura militar. Muitos deles mortos por sendo chamados de judeus comunistas .

Diante do que está acontecendo hoje no país, não poderíamos ficar indiferentes. A pouco mais de um mês, no dia 3 de abril de 2017, nós judeus fizemos a primeira manifestação popular contra Bolsonaro. Ela aconteceu na porta da Hebraica do Rio de Janeiro onde ele foi palestrar.

Nos organizamos desde o início contra a candidatura dele. Nos empenhamos de todas as formas para evitar sua eleição. Hoje, somos parte ativa da resistência contra seu governo, seja nas redes sociais, seja em manifestações ou na organização de atividades contra suas políticas.

Nós do campo progressista de esquerda, temos muito orgulho de nos manifestarmos contra Bolsonaro ao lado de todos os brasileiros presentes combatendo este governo fascista e sua política genocida de morte e desamparo.