Apenas a lógica. Se é cruel é porque é resposta.

A imprensa brasileira está apavorada com a quantidade de ataques que vem sofrendo por parte de diversos representantes de todos os escalões do atual governo.

A questão é que o cenário atual foi construído por ela mesma, ressalvando-se, claro, uma respeitável quantidade de profissionais e veículos da área que não venderam suas consciências, ou, que pelo menos, tinham consciência de seus compromissos éticos e sociais. Mas não é deste estrato que falo. Falo do estrato que alcança 70% da população brasileira, estrato este dominado por pouquíssimas famílias e que passou mais de uma década deseducando sua audiência e envenenando o país com manipulações, sensacionalismos, e corrompendo o senso democrático pela corrupção dos significados das palavras e coisas.

Como bem disse Reinaldo Azevedo ontem em seu programa “O é da coisa”, veiculado diariamente às 18:00h na rádio BandNews, rosa não é merda e merda não é rosa.

O exagero de Reinaldo tem uma razão. O debate que está pautado pelo governo atualmente usa uma língua completamente diferente do português falado até poucos anos atrás. Tudo parece ter mudado de significado. Toda a história escrita está sendo negada. Toda a jurisprudência, exegese e hermenêutica do judiciário está desfeita. Cada um de nós, criados no sistema de conhecimento próprio das democracias fundadas no debate científico, sente-se hoje sequestrado a um universo paralelo, ou talvez mais de um. A linguagem simplesmente não funciona por que tudo perdeu o sentido.

Tudo isto só pode ser resultado de construção projetada, planejada e executada diligentemente. Você não muda a língua de um país continental em uma década. Mas parece que aqui fizeram até mais que isso.

O governo sabe que só existe graças a essa grande obra de nossa “grande imprensa”. E não é por outra razão que ataca-a impiedosamente com metralhadora giratória. Isto por que sabe o poder da imprensa, e mais que isso, tendo o conhecimento das pesquisas que dão atualmente como certa a presença de Bozo no segundo turno, não pode arredar o pé de suas posições, as quais somente ela pode ameaçar, se depender da capacidade atual de articulação da sociedade e dos partidos.

O problema é saber se dá tempo, até 2022, de a grande imprensa fazer o caminho reverso, restabelecendo a “língua portuguesa” com todos os seus significados, e reverter todos os negacionismos históricos e científicos. Ou, em um cenário ainda mais surreal, se dá tempo de construir a terceira língua sem esfacelar de vez o tecido social já bem rasgado que deixou na última década.

Enquanto observamos tudo isso, presenciando a lógica da história acontecendo candidamente, resta-nos a esperança de que pelo menos os engenheiros deste cenário entendam bem o que fizeram. Pois como pretensos engenheiros, deveriam ser melhores de cálculo e lógica. Erraram a mão. Se conseguirão fazer com que rosa volte a ser rosa e merda volte a ser merda, ainda não sabemos.