Finalmente chegou o dia tão esperado aqui em israel. Ontem a tarde (28/02). O Procurador Geral de Israel, Avichai Mandelblit, indiciou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu por crimes em todos os três inquéritos de corrupção contra ele.

Cada caso recebeu um número, 1000, 2000 e 4000, como ficaram conhecidos. No caso 1000, Netanyahu é acusado do recebimento de benefícios de amigos bilionários em troca de favores políticos. No caso 2000 a acusação envolve um suposto acordo dele com Arnon Mozes, editor do jornal Yedioth Hachronot, para reduzir a circulação do jornal rival, chamado Israel Hayom, em troca de uma cobertura mais favorável no Yedioth Hachronot. No caso 4000, considerado o mais sério dos três, Netanyahu é acusado de suborno. Ele é suspeito de ter tomado decisões regulatórias que beneficiaram o empresário israelense Shaul Elovitch, acionista controlador da Bezek, maior empresa de telecomunicações de Israel, e dono do site de notícias Walla, também em troca de coberturas  positivas.

Logo após o anúncio, um Netanyahu arrogante e prepotente, como lhe é característico, foi a TV e fez um pronunciamento atacando a esquerda em geral, a polícia, o procurador e seus oponentes políticos. Na sua visão, tudo isso é um complô para afastá-lo do poder e substituí-lo por partidos de esquerda aliados aos partidos árabes.

Diferentemente dos processos contra o presidente Lula, as acusações contra ele estão bem documentadas e comprovadas com áudios, documentos e testemunhas do estado. Foram dois anos de investigações que culminaram pela primeira vez na história de Israel, em indiciamento de um primeiro ministro por crimes cometidos durante seu mandato.

Ele sabia o que estava por vir. Talvez não imaginasse que fosse tão grave. Foram 57 páginas onde estão detalhados todos os malfeitos. Tudo muito bem explicado para que não houvessem dúvidas.

Seu principal oponente político que aparece a frente das pesquisas também foi a TV. Beni Gantz pediu que Netanyahu renuncie e vá cuidar da sua defesa. Foi elegante o chamando de um patriota, mas disse que é preciso pensar no país e não em si mesmo. Todos os líderes de partidos de oposição seguiram pelo mesmo caminho pedindo a sua renúncia.

Do bloco da atual coalizão se escutou o contrário. Todos os partidos da direita foram solidários e seus líderes apelaram para o clichê de que uma pessoa só é culpada depois de condenada sem mais recursos apelatórios judiciais. Aqui uma curiosidade. Netanyahu em uma entrevista dada alguns anos atrás disse que todo primeiro ministro acusado de crime deveria renunciar pelo bem do país.

Em sua defesa Bibi, como é mais conhecido, diz que tudo não passa de fumaça. Que ele nunca recebeu dinheiro de ninguém e qualquer um pode receber presentes de amigos. Que os meios de comunicação antes e depois dos supostos encontros dele com seus dirigentes, publicaram muito mais notícias contra do que favoráveis ao seu governo. Segundo ele, estes indiciamentos deveriam ter sido divulgados somente depois das eleições. É o famoso “júris esperneantes”.

Todos aguardamos pelas pesquisas que devem sair a qualquer momento. Qual será o efeito das acusações sobre o Likud? Provavelmente vão sofrer um baque, tanto assim que apelaram a Suprema Corte momentos antes da divulgação dos indiciamentos, para que ela fosse transferida para depois das eleições. Não tiveram sucesso.

Os fatos são muito claros e Bibi, se condenado, pode ter de cumprir pena de prisão. Ele se apega ao poder de uma maneira quase doentia, obsessiva e obstinada. Não existe outro lugar para ele no mundo se não for na cadeira de primeiro ministro. Diz que ele, e somente ele, pode cuidar de Israel, da segurança de seus cidadãos, da economia, dos assuntos externos e do nosso futuro. Praticamente um Rei.

Para continuar reinando ele fez com que pequenos partidos de direita, que não teriam votos suficientes para entrar no parlamento, se unissem. Entre eles o partido do Poder Judeu, que sucedeu ao partido do Rabino Kahane que foi impedido de concorrer nas eleições de Israel por sua plataforma racista e obrigado a se dissolver.

Como forma de enfraquecer a Europa ele tentou criar um bloco dos países governados pela direita. Assim, ele se aliou, entre outros, ao líder húngaro Viktor Orban, notório antissemita e ao líder polonês Mateusz Morawiecki, que passou uma lei no parlamento polonês que ameaça com prisão quem disser que poloneses apoiaram nazistas na segunda guerra.

As eleições em Israel estão marcadas para o dia 9 de Abril. Nada está decidido ainda. Os votos que o Likud pode vir a perder com o indiciamento de Bibi podem ser transferidos para outros partidos de direita mantendo na soma geral um número maior de parlamentares, o que daria a eles a maioria para formarem o governo.

Talvez parte dos votos seja transferido para o centro e neste caso, os partidos de centro esquerda somados aos votos dos partidos árabes, possam finalmente tirar a direita do poder.

O problema, por enquanto, é que nenhum bloco terá uma maioria confortável. Estas eleições foram convocadas depois que o governo ficou com apenas 62 apoios no parlamento. Um número que praticamente impede a tomada de grandes e importantes decisões. As pesquisas, por enquanto, apontam para algo muito parecido. Somente depois de abertas as urnas vamos saber o que elas disseram e o real tamanho de cada bloco. Enquanto isso, tudo continua sendo especulação.