Vamos pacificar os ânimos

Tenho percebido que para muita gente a ficha ainda não caiu. O fato de que bandeiras de Israel foram utilizadas abertamente em favor do candidato que ganhou as eleições é um fato nunca antes acontecido. Não lembro em todos os anos de vida no Brasil de uma unica eleição onde bandeiras de Israel fossem utilizadas politicamente.

Este fato traz consigo o que pode vir de bom, mas principalmente o que vem de ruim. A superexposição de judeus como apoiadores dele e de Israel como suporte a sua candidatura e política de governo já está trazendo consequências.

Na minha opinião, por enquanto os ataques se fazem contra Israel, logo mais vão começar contra os judeus e não deve demorar muito.

As charges que atacam Israel, não tem cunho antissemita, ainda, e quem está fazendo esta conexão serve aos propósitos do atual governo de extrema-direita de Israel. Foi este governo quem criou a conexão antissionismo com antissemitismo da mesma maneira que os árabes fizeram com racismo e sionismo na ONU.

Eu como israelense, me sinto muito mal com charges que atacam Israel. No entanto não posso tapar o sol com a peneira e fingir que não mostram a dura realidade dos anos de ocupação dos territórios. Posso dizer que são inapropriadas ao momento, que são de mau gosto etc. A realidade continua a mesma.

Na minha opinião, não são os chargistas os nossos inimigos. Nossos inimigos continuam sendo aqueles que apoiaram este fascista e não se importando, e até incentivando o uso político da bandeira de Israel para atrair votos de judeus e evangélicos.

Sempre estivemos presentes nas eleições brasileiras como brasileiros judeus. Desta vez acharam que nossa participação deveria ser como judeus brasileiros e o preço começa a ser cobrado. E vai sair caro.

As críticas feitas em nada diferem das críticas feitas por organizações judaicas e israelenses que são a favor de uma solução de dois estados. Seriam todas elas antissemitas?

Várias organizações também são a favor do BDS como forma de pressão para alcançar um acordo de paz. Seriam todas antissemitas?

O   instituto Simon Wiesenthal é um antro de direita. Não me surpreende que coloquem o Latuf como um dos 10 maiores antissemitas do mundo. Me surpreende alguém acreditar nisso. Para eles até o Soros é um antissemita.

Israel perdeu apoio internacional há muitos anos. Os crimes que são cometidos diariamente nos territórios com a ocupação de terras palestinas é o combustível que alimenta esta onda antissionista e não o antissemitismo como eles querem que acreditemos. É isso que eles querem que seja verdade para encobrir o que acontece lá.

Juntem isso com a superexposição que tivemos nos últimos meses e o resultado não podia ser outro. Lamentável, porém previsível.

Acho que é hora de baixar os ânimos e a discussão passional. Precisamos de mais bom senso, pé no chão e pensar em saídas para este clima que só vai se acirrar sob pena de ficarmos totalmente isolados pela direita e pela esquerda. Muita calma nesta hora.