A Ocupação

A ocupação dos territórios por Israel em 1967 depois da
Guerra dos Seis dias tornou-se uma doença altamente contagiosa. Uma geração
inteira de israelenses e de palestinos já nasceram com ela.
Falando de Israel esta doença solapou os pilares da criação
do Estado. Derrubou por terra o sonho dos que pensaram em uma lar judaico democrático
para um povo tão perseguido durante milênios e que deixou na Europa dominada
pelos nazistas seis milhões de seus filhos.
Existem os que desconhecem os fatos e aqueles que são mal
intencionados mesmo. A “saída” de Gaza nunca aconteceu. Israel mantém
o território fechado e jogou as chaves fora. Nada entra, ou sai de Gaza sem o
consentimento de Israel. Nada mesmo, seja por terra ou pelo mar. Nenhum
alimento, nenhum produto, nenhuma pessoa, nada está permitido. É com esta
realidade que 1,5 milhão de pessoas acordam todos os dias em busca de trabalho
e alimento. Parece ruim, calma que fica pior. Eles são governados pelo Hamas.
Um grupo terrorista como chama Israel, um partido político como se definem.
Eleições, o que é isto?
Do outro lado de Israel estão os chamados territórios
ocupados. Sim, estes estão literalmente ocupados por colonos que acreditam que
Deus nos deu toda a terra de Israel (o que englobaria a Jordânia, mas ela pode
esperar que sua hora vai chegar). Ocupam terras palestinas roubadas, ocupam
casas em Hebrom, uma das maiores cidades palestinas, tudo com uma única intenção:
tornar a vida deles tão difícil, infernal a ponto de fazê-los desistir e se
mudarem. A ocupação no que depende deles veio para ficar.
Imaginem que hoje o famoso Exército de Defesa de Israel,
aquele mesmo que lutou pela sobrevivência do país quando atacado no dia de sua
independência em 1948, em 1956, em 1967 (tudo bem atacou antes, mas foi perto)
e em 1973. Venceu todas aquelas guerras e é hoje a maior força policial dos
territórios ocupados. Sua presença se faz necessária para proteger os colonos e
para prevenir ataques terroristas. Para cumprir sua função não hesita em usar
de toda força necessária. Quando se trata de força isso inclui destruir casas
de suspeitos (eu disse suspeitos), prender crianças e qualquer um que interfira
em suas ações. Imaginem o que é dar este poder a jovens de 18 anos. Estes que
em breve vão voltar para casa e serem cidadãos, ou tentar ser. Fica mais fácil
de entender quem são estes cidadãos que não respeitam filas, pessoas mais
velhas, batem nas esposas e nos filhos depois de saírem do serviço militar,
entre outros problemas contraídos no serviço militar.
E a Palestina. Bem a Palestina ainda é um sonho que só vai
acontecer quando a doença da ocupação for vencida. Divididos politicamente
entre rivais eles tentam a todo custo manter uma certa unidade. O Hamas em Gaza
através da  força ainda delirando com
todo o território do mar ao rio Jordão como sendo a futura Palestina. E o Fatah
que é mais realista compreende que pode-se conviver com o vizinho dentro das
fronteiras de 1967.
Se a doença é conhecida, como tratá-la ainda não é. Existem remédios
paliativos. Tentativas de negociações de paz que terminam muito antes de
começar. Placebos para um paciente terminal.
Somente um ambiente destes pode fazer com que dois jovens
palestinos (é o que dizem por enquanto) sequestrem três jovens colonos
israelenses que residem nos territórios ocupados e os matem a sangue frio. E
neste mesmo ambiente, outros três jovens israelenses residentes em Jerusalém,
sequestram e matam um jovem árabe queimando ainda em vida.
Com o sequestro dos jovens israelenses, forças do exército,
aquelas que servem de policiais, rumaram para os territórios ocupados invadindo
centenas de casas, agredindo pessoas, destruindo móveis e utensílios na busca
de informações, detendo mais de 400 suspeitos de todas as idades, mas sobretudo,
matando civis inocentes, entre eles crianças.
De Gaza começam a chegar foguetes. Israel os chama de
mísseis. De toda maneira, artefatos explosivos que caem quando acaba o
combustível e explodem quando tocam o solo. Neste caso pode ser em terras
vazias como acontece na maioria das vezes, ma também sobre casas, carros,
escolas etc. E neste caso pode haver vítimas inocentes.
Israel começou a revidar, mais foguetes foram chegando, mais
ataques de Israel, mais foguetes e o saldo já passa de mais de 90 pessoas
mortas de um lado só: de Gaza. A maioria de civis, entre eles mulheres e
crianças.
Israel está preparada para abrigar toda sua população, mas
em Gaza não existem abrigos. Isto explica a diferença de 90 X 0 no número de
mortos até agora e estamos só começando. A invasão por terra vai fazer a festa
dos coveiros. Neste caso dos dois lados.
Tudo isso poderia ser evitado? Evidentemente que sim. Com
negociação, com decisões difíceis de serem tomadas, mas necessárias pode-se
chegar a um acordo de paz, convivência, coexistência com dois estados para os
dois povos. Parece simples, no entanto vai ficando cada vez mais difícil.
Aquela doença da qual eu falava sobrepõe a paixão sobre a
razão, cega os que enxergam longe, cria ouvidos mocos e alegra os corações dos
belicistas. Como vencer esta doença?
Não existe uma cura com uma única dose de remédios. Não
existe uma solução que satisfaça  a todos.
Não existe uma maneira de trazer de volta as vidas que se foram.
Para começar é preciso acabar com a violência. É preciso ser
forte o bastante para suportar as provocações e provações que surgem no
caminho. Tem que haver líderes dispostos a sacrificar seu futuro político em
nome do bem maior. Pessoas com visão para o futuro das próximas gerações sem
olhar para trás. Capaz de sobrepujar as diferenças, contentar-se com o que é
possível e ater-se ao que realmente importa: terminar com o ciclo de mortes e
começar a valorizar a vida. Todas elas.
Estes líderes existem. Só não aceitam a tarefa ainda.Cabe a
sociedade, aos dois povos exigir isso deles. Mostrar que não suportam mais
seguir por este caminho, dizendo não a guerra e sim a paz com justiça.
Esta é a cura: o fim da ocupação!

Eu faço a minha parte. Participo de grupos pacifistas,
compartilho suas ideias e ofereço as minhas para as pessoas do bem. Assim, de
um em um, vamos somando forças e mostrando que somos a maioria.