Sou brasileiro, sionista-socialista e fui contra esta guerra, por princípios pacifistas. No entanto, sou obrigado a responder à sua mensagem dirigida ao Paz Agora – Brasil porque me sinto ultrajado diante de tantas inverdades.

O ato público “contra o massacre no Líbano e na Palestina”, realizado na Cidade Universitária (USP), Campus do Butantã, foi sim um ato racista e desrespeitoso para com a vida humana. Não foram apenas libanesas as vítimas deste conflito. Existiram vítimas israelenses também.

Sua mensagem esconde o que realmente aconteceu. O conflito teve inicio devido a um ataque de extremistas libaneses contra o Estado de Israel. As primeiras vítimas desta guerra foram 8 soldados israelenses, e dois sobreviventes do ataque encontram-se ainda desaparecidos, supostamente em mãos destes extremistas.

Eu só posso compreender as razões para a realização de um ato, que levou em conta apenas as vítimas humanas de um lado, como sendo a prática desonesta hedionda de atribuir pesos e valores diferentes às vidas humanas. Atitude incompatível para uma Universidade, e, mais ainda, quando parte de setores ditos progressistas.

O ato convocado por sua pessoa como tendo um “sentido humanitário” (protestar contra o massacre da população civil do Líbano e da Palestina, especialmente crianças e idosos ), continha também um sentido político: o de condenar o ataque injustificado a um Estado soberano, reconhecido pela comunidade internacional, pelo exército israelense – infinitamente mais poderoso que seus adversários – apoiado pelos Estados Unidos da América. “, Os termos propostos neste Ato recebem o meu total repúdio e confirmam a natureza racista do mesmo. Todo estado soberano tem direito a defender sua população, não tendo sido o ataque ao Líbano um ato injustificado.

A intenção de misturar deliberadamente o conflito palestino com o que aconteceu no Líbano, demonstra sua total falta de conhecimento sobre o que ocorre naquela região. Ela tem como única razão de existir a deliberada intenção de trazer à tona uma grande tragédia histórica, para justificar seu ato racista.

O Exército de Defesa de Israel é reconhecido como um dos melhores exércitos do mundo. Isto não serve de glória e nem de consolo para os que ficaram nos campos de batalha. Israel foi obrigado a se defender desde o dia da sua Independência.

A operação no Líbano foi uma estupidez. Coisa de generais que enxergam apenas mapas. Pessoalmente, fui contra a forma escolhida para responder ao ataque de extremistas libaneses contra Israel. O uso excessivo da força trouxe como conseqüência o que os milicos chamam de “efeitos colaterais” e nós , pacifistas, de perdas humanas injustificáveis. Eu, diferente do senhor, lamento por todas as vidas humanas perdidas, israelenses e libanesas.

A resposta dos extremistas libaneses não foi menos cruel. O despejo diário de centenas de mísseis sobre a população civil israelense é da mesma forma, condenável. As perdas em vidas civis dentro de Israel foram minoradas graças à existência de abrigos antiaéreos construídos para proteger a população devido as guerras em que o país foi atacado. Entretanto, não encontrei, em sua missiva, uma única menção ao bombardeio diário, com foguetes que poucos exércitos do mundo têm, contra civis, e as perdas humanas decorrentes dele. Civis dos dois lados morreram. A guerra foi conscientemente criminosa pelos dois lados. Lembre-se, Professor, de que as vidas humanas são todas preciosas. As lágrimas das mães libanesas são as mesmas das mães israelenses.

Sua retórica relativa ao Hezbollah, “organização de profissão islâmica – que não é considerada uma organização terrorista pelo Brasil ” demonstra bem o caráter manipulador dos fatos aos quais, intencionalmente, o senhor lança mão ao longo de sua missiva.

– Por que não disse que em nenhum estado democrático do mundo existe uma força militar que não seja o exército constitucional?

– Por que não disse que esta organização tem como princípio a destruição do Estado de Israel?

– Por que não disse que o método encontrado por eles para libertarem presos foi à invasão do território israelense e que esta não foi à primeira vez?

– Por que não disse que este grupo armado é um Estado dentro do Estado libanês, com leis e órgãos próprios?

– Por que não disse que este grupo de resistência resiste, acima de tudo, a se submeter às leis do Estado libanês e depor as armas?

– Por que não disse que eles são apoiados pela Síria, uma ditadura de pai para filho, que assassinou o ex – primeiro ministro Hariri , e pelo Irã, uma ditadura de Aitolás, que está desafiando a ordem mundial para construir armas atômicas?

– Por que não disse que Israel se retirou até o último centímetro do Líbano em 2000, conforme resolução da ONU, e que o minúsculo território conhecido como “Fazendas de Shebaa” nunca pertenceu ao Líbano e fazem parte do território sírio ocupado?

O panfleto do SINTUSP foi sim uma publicação racista. Apregoar a destruição do Estado de Israel é uma afirmativa que atinge a todos os defensores da liberdade e setores progressistas judaicos ou não, sionistas ou não.

O Estado de Israel é um fato. Trazer a baila se deveria ou não ter sido criado é uma discussão inócua que mascara, unicamente, o racismo de sua missiva. Atribuir sua criação como uma forma do mundo se desculpar pelo Holocausto é uma ofensa ao povo judeu, em geral, e às vítimas, em particular. A luta pelo restabelecimento do Lar Nacional Judaico nunca deixou de existir durante toda a diáspora judaica. Este lar só poderia ser estabelecido onde ele sempre existiu.

Quando o senhor afirma que “Desde então, as fronteiras desse Estado – dito democrático, mas na verdade confessional, e atualmente dirigido por uma casta religiosa e militar reacionária; dotado de um exército e de um poder de fogo (incluídas centenas de ogivas nucleares) totalmente desproporcionais ao seu tamanho geográfico, demográfico ou econômico, isto devido ao apoio institucional e multifacetado dos EUA – essas fronteiras se expandiram constantemente, em relação àquelas da resolução original da ONU, que legitimou a sua criação. ” omite, propositadamente, que esta nação é a única democracia da região. Esquece de dizer que todas as eleições em Israel são livres, e delas participam todos os cidadão israelenses de todas as etnias que se fazem representar no parlamento em partidos livres. Esquece, também, que Gaza e Cisjordânia estiveram nas mãos do Egito e da Jordânia, respectivamente, até 1967, territórios que então poderiam ter sido oferecidos aos palestinos para a criação de seu Estado.

Quando menciona que “O balanço histórico é que o Estado sionista, em todas as suas versões políticas (de direita, de esquerda, de centro ou, como hoje, de coalizão esquerda-direita-centro) só sobreviveu e sobrevive com base no massacre permanente dos povos da região “, não conta que em todas as guerras em que Israel se viu envolvido, foi atacado primeiro por seus vizinhos. Esquece convenientemente de mencionar quais os massacres e a que povos da região.

Sim, caro professor, é um crime contra a verdade constatar “que o Estado sionista só conseguiu e consegue se viabilizar como um ghetto militarizado, odiado por todos os povos da região?”, se não for mencionado o fato de que já existem relações diplomáticas entre Israel e Egito e Israel e Jordânia, e que o próprio povo palestino em sua maioria aceita o Estado de Israel e é favorável a um acordo de paz que crie um Estado Palestino ao seu lado..

“Será crime defender o direito de todos os palestinos retornarem às suas terras e lares, das quais foram violentamente expropriados de 1948 em diante? ” Sim, será, se não mencionar que centenas de milhares de judeus foram expulsos dos países árabes e tiveram suas propriedades confiscadas. Sim, se não contar que esta população de refugiados palestinos, em sua imensa maioria foi chamada a abandonar seus lares para que os exércitos árabes pudessem jogar os judeus ao mar. Sim, será crime, se não contar que em todos os países árabes onde esta população palestina se estabeleceu, foi e é tratada, até os dias de hoje, como refugiados por seus irmãos árabes. Sim será crime se não observar que esta opção de defender este retorno é totalmente inexeqüível.

“Será crime, será anti-semitismo, pensar e defender a opinião de que, nessas condições, somente um Estado único, laico e democrático, em que coexistam populações árabes e judaicas, em todo o território da Palestina histórica, ofereceria uma saída de fundo ao drama histórico desses povos? Não, isto não é crime. Isto é apenas uma opinião sem fundamento e sem amparo na realidade. É uma proposta que nenhuma liderança do povo palestino e nem do povo israelense sequer mencionam.

Em contrapartida ao seu devaneio, defendido por um punhado de desconhecidos, sem apoio algum de qualquer liderança representativa séria, entendo, assim como a maioria dos dois povos , que a única alternativa na região é o estabelecimento de um Estado Palestino nas fronteiras de 1967. Um Estado democrático que conviva em paz com o Estado de Israel.

O senhor tem razão quando afirma que esta sua opinião, apenas, não pode servir para qualificá-lo como “racista, anti-semita ou, pior ainda, de constituir um chamado ao extermínio do povo judeu. ” É o conjunto de suas afirmações e, principalmente, o conjunto de suas omissões, que nos permitem qualificá-lo como tal.

Veja bem: é verdade que “Foi uma Assembléia Geral da ONU, com presença de mais de 150 Estados soberanos, que condenou o sionismo (não o judaísmo, claro) como “uma forma de racismo”. Sim, mas seria importante que tivesse mencionado que aquela Assembléia se deu sob a avassaladora pressão de dezenas de países árabes exportadores de petróleo tirando proveito do poder econômico dos petrodólares por eles acumulados no primeiro choque do petróleo que deixou o mundo aos seus pés. É também verdade, mas o senhor esqueceu de completar, que a mesma Assembléia geral da ONU revogou mais tarde esta resolução. Mas isto o senhor precisa omitir.

É fato que “uma minoria da esquerda judia lutou e luta bravamente em Israel contra a guerra: organizou manifestações importantes em Tel Aviv e até em Haifa, no próprio decorrer das hostilidades.”, da qual tenho orgulho em fazer parte. No entanto, ela não é uma minoria judia, ela é uma minoria israelense, composta de cidadãos israelenses, judeus e não judeus.

Por fim, caro professor, quero esclarecer que a luta contra a injustiça é uma luta de todos os setores progressistas de todos os países do mundo. E nela diferentemente da sua pessoa, nos solidarizamos tanto ao povo israelense, quanto aos povos palestinos e libanês nos seus anseios pela liberdade, independência e respeito aos direitos humanos.

Da mesma forma a luta contra todo tipo de racismo e discriminação é uma luta de toda humanidade em respeito à raça humana.

De fato “Só haverá paz se houver justiça e respeito aos direitos de todos os povos, no Médio Oriente e no mundo todo”. Comece, portanto, a respeitar o meu povo.