Direita Cega e Raivosa

Ontem em uma lista de discussões na Internet fui chamado, entre outras coisas de: ter dois pesos e duas medidas, ser parcial, ser injusto, mentiroso, ter falta de caráter, ser excessivamente canalha, entreguista, conformista, covarde e ter vergonha de ser judeu.

Não eu não participo de listas nazistas, anti-semitas, islâmicas fundamentalistas. Esta é uma lista de interessados em assuntos judaicos, e tudo o que está acima foi proferido por um bom judeu.

Tudo teve inicio quando fiz referências à biografia de Ariel Sharon. Enviei de uma fonte escolar (poderia ser qualquer outra) um texto que dizia entre outras coisas que em 1953, ele se tornou líder da Unidade 101, criada para combater os exércitos árabes, comandando uma operação que massacrou civis na aldeia de Kibya na Cisjordânia. Em 1956 foi acusado por seus superiores de insubordinação e desonestidade na campanha do Canal de Suez. Segundo o historiador militar israelense Martin Van Cheveld, da Universidade de Hebraica de Jerusalém, os soldados de Sharon avançaram “da forma mais incompetente possível, resultando em uma batalha totalmente desnecessária que se tornou a mais sangrenta da guerra”. Em 1973 cruzou o Canal do Suez desobedecendo a ordens, cercando o 3º exército egípcio. Partiu rumo ao Cairo mas teve de parar no km 101, onde seria assinado o acordo de armistício. Também fiz referência a Sabra e Shatila onde ele foi condenado por uma comissão do governo israelense a renunciar ao cargo de Ministro da Defesa devido a sua omissão no massacre perpetrado pela Falange Libanesa.

Muito mais poderia ser escrito para mostrar que se trata de um homem que não mede conseqüências para atingir seus objetivos. No entanto, o simples fato de que um judeu (e israelense) fale o que todos já sabem sobre ele, causa uma celeuma na mente de alguns “bons judeus”. Uns exigem retratações, outros lançam todo tipo de impropérios e buscam desesperadamente formas de me desqualificar como articulista, homem e judeu.

A primeira vez que isto aconteceu foi logo após a publicação de um artigo intitulado “Não Somos Sharon”, publicado pelo jornal gaúcho Zero Hora, após o lançamento de uma bomba sobre um edifício em Gaza que vitimou inocentes juntamente com o “alvo”. Naquela ocasião eu dizia que nem todos os judeus concordavam com a política de assassinatos seletivos e seus conseqüentes “efeitos colaterais”.

Para a direita judaica, que a despeito de qualquer atrocidade que possa ser cometida pelo lendário exército de Israel, tudo se justifica em se tratando de combater o terror. Para ela a ocupação dos territórios, a destruição de casas como punição coletiva, o aprisionamento de suspeitos sem acusação ou julgamento, o impedimento de deslocamento pela população civil palestina, os toques de recolher por dias seguidos, a manutenção de colônias que ocupam mais terras etc, são conseqüências do terror e não a causa. Por isso, a forma de se acabar com o terrorismo seria eliminando o seu fato gerador, ou seja o povo palestino (que para muitos sequer existe, ou já possui seu estado, a Jordânia).

Muitos exigem que todo artigo deve lembrar as ações criminosas dos grupos fundamentalistas. Acham que é uma forma de ser imparcial. Pois bem, eu acredito que não possa existir um ser mais desprezível e covarde, do que um terrorista que deixa uma bomba num local público ou que seja a própria bomba num ato suicida. Isto no entanto não muda meu discernimento entre o certo e o errado. Não altera meu juízo sobre a forma como se deve combater esta gente sem que nos transformemos nelas.

Toda a minha preocupação reside nisso. Não posso admitir que um povo com 3000 anos de história, que chegou até os dias de hoje devido aos seus preceitos de ética, moral e respeito pela vida, acabe agindo em contra tudo isso. Fazendo-o estaríamos nos comparando aos povos nossos contemporâneos que já desapareceram. Seria admitir o inicio de nosso fim. É como admitir que é preciso se tornar um terrorista para se combater o terror.

O lar pelo qual tanto lutamos em retornar nos foi devolvido pela comunidade internacional em respeito ao nosso passado e sofrimento (principalmente o Holocausto). No entanto lá estavam outros moradores que também tem o direito a um lar nacional. Quis o destino, com a ajuda dos futuros vizinhos, e ao custo de uma guerra, que apenas nosso estado fosse estabelecido. O problema continua atual. Este povo que lá está despedaçado em campos de refugiados por mais de uma geração, espalhados como parias em outras nações, deseja reparar o erro histórico. Cabe a nós ajudá-los nesta reparação.

Por qualquer ângulo que se olhe, sabemos que a única solução são dois estados lado a lado. Cada dia sem que se concretize esta situação, significa mais mortes e desgraças de todo tipo. Economias arrasadas, desemprego em alta e um sentimento de incerteza que acaba com qualquer desejo de investimentos.

Ao chegar ao poder, Ariel Sharon trouxe a esperança de paz e segurança que seus antecessores não foram capazes de alcançar. A sociedade israelense deu a este homem um voto de confiança imaginando que para combater o terror somente um entendido nesta prática. Passados 3 anos de Intifada, nem paz e nem segurança. Incapaz de cumprir com o Mapa da Paz, fica adiando suas obrigações esperando pelo próximo atentado que justifique suas ações. A paz não vai acabar com o terrorismo da noite para o dia. Todos sabem disso. Não existe força natural ou sobrenatural capaz de impedir um suicida decidido. O que vai acabar com o terror são as conseqüências do acordo de paz e da criação do estado palestino. A prosperidade econômica, o emprego, a reconciliação e principalmente o desejo de progresso e prosperidade tão ansiado pelos dois povos.

Antes de criticar os outros devemos olhar para nós mesmos. Temos de fazer nossa “mea culpa”. É preciso nos envergonhar de certas atitudes e pedirmos desculpas por elas. Isto nos fará seres humanos melhores e fará com os povos do mundo voltem a nos respeitar como o povo do livro. Trará orgulho para nossos profetas que tanta falta nos fazem nos dias de hoje. Nunca é tarde para se recomeçar e a hora já tarda.

A todos aqueles que pensam de outra forma, peço que expressem suas opiniões sobre os fatos e não sobre mim. Que escrevam em relação a eles e não em relação aos autores que os descrevem. Se expressem com educação e principalmente com respeito.

Sem ressentimentos, shalom.