Sharon se move como um elefante numa loja de cristais. Não demorou muito a mostrar o que realmente é, um político astuto e traiçoeiro que acaba de jogar uma pá de cal sobre o Mapa da Paz. Não obstante as tratativas do Primeiro Ministro Abbas para conter o Hamas e seus congêneres, Sharon lançou um ataque criminoso contra a população civil de Gaza para assassinar o porta-voz do Hamas, Abdel Aziz Rantisi. O saldo foi de 3 mortos, entre eles uma menina e sua mãe, além de 32 feridos.

A resposta criminosa do Hamas também não tardou. Mais um covarde suicida explodiu-se em um ônibus em Jerusalém deixando 16 civis mortos e 92 feridos. Os inimigos da paz se regozijaram nas últimas 24 horas. O que todos gostariam que fosse passado, voltou a se fazer presente. De um lado terroristas palestinos e de outro o terrorismo de estado cobrando vidas inocentes.

Fazendo-se algum esforço e possível se compreender a lógica terrorista. Eles não devem respeito a ninguém e tampouco obediência à lei. Possuem seu código próprio de conduta e levam adiante sua guerra insana sem se preocupar com as conseqüências. Para eles os fins justificam os meios. Mas nem com todo o esforço possível pode-se compreender o terrorismo de estado. Um chefe de governo deveria respeitar a vida e obedecer à lei. Seria esperado que ele se preocupasse com as conseqüências de seus atos, e principalmente que tivesse a noção de que nem sempre os fins justificam os meios.

Como é possível que o chefe de estado de Israel, um homem que acaba de assinar um compromisso de buscar a conciliação e a paz com os palestinos, diante das câmaras de TV de todo o mundo, lance mísseis sobre uma população civil para assinar um homem? Quem pode justificar uma ação de tamanha estupidez quando o chefe de governo palestino tentava alcançar um cessar fogo das organizações terroristas? O que se poderia esperar depois de tamanha ignomínia?

Toda a vez que um projeto de paz avança alguns poucos passos, ações terroristas tratam de arranjar uma forma de retrocesso. Isto era sabido e eu próprio vinha alertando sobre isso nos últimos artigos. Desta vez o retrocesso veio pelas mãos daquele que deveria zelar pelo cumprimento das etapas do Mapa da Paz. Sharon mostrou que não está pronto para se tornar um estadista. Pelo contrário, parece querer mostrar que sua verdadeira face é a de Sabra e Chatila Prefere ser lembrado mais pelo que não foi capaz de fazer do que pelo que gostariam que tivesse feito.

A esperança foi ferida de morte. Em meio a este quadro de seres humanos destroçados por mísseis e homens bomba só nos resta consolar as famílias. Novamente procissões atrás de caixões vão percorrer as ruas da terra santa para enterrar seus filhos. Quanta insanidade, quanta dor e amargura.

Talvez a esperança esteja nas mãos do maior mentiroso do planeta. O homem que atacou um país para mostrar ao mundo as armas que não existem além de sua imaginação e que poderiam destruí-lo nas mãos de um tirano. Sim, isto é um paradoxo, mas somente o presidente da nação mais poderosa do mundo é capaz de impor sua vontade e acabar com este conflito estabelecendo já dois estados para dois povos. Ele tem os meios de persuasão capazes de convencer palestinos e israelenses a deporem as armas e contribuírem para o fim de todo o tipo de terrorismo.

Enquanto se falar de planos que vão levar anos para concretizar seus efeitos e criar de uma vez um estado para o povo palestino, o terrorismo vai continuar, seja ele de parte dos grupos extremistas, seja ele por parte do Estado de Israel. A única forma de impedir mais mortes e a continuação deste terror contra população civil palestina e israelense, é a imediata determinação de fronteiras dos dois estados com a retirada de todas as colônias e de seus habitantes que ocupam terras palestinas.

Toda a vez que se falar em planos cuja implementação prática será por etapas, vai se estar dando aos inimigos da paz o tempo que necessitam para solapar toda a tentativa de se alcançar um entendimento entre os dois povos. Estas forças destrutivas, que são uma minoria, vão continuar vencendo e somando a sua vitória mais e mais mortes.

O tempo e o terrorismo são os maiores inimigos do processo de paz.

Basta de tanta violência, dois estados já.