“Eretz Israel é o local onde nasceu o povo judeu. Aqui se formou seu caráter espiritual, religioso e nacional. Aqui ele realizou sua independência e criou uma cultura de alcance tanto nacional quanto universal. Aqui ele escreveu a Bíblia e a doou ao mundo. Obrigado ao exílio, o povo judeu continuou fiel à Terra de Israel no transcorrer de todas as dispersões, orando sem cessar para voltar a ela, sempre com a esperança de aqui restaurar sua liberdade nacional.”

Com estas palavras tem início a Declaração de Independência do Estado de Israel, lida por Ben Gurion diante da Assembléia Constituinte (mais tarde primeira Knesset), em 15 de maio de 1948.

Ao completar 55 anos, Israel ainda não pôde solucionar o problema que carrega consigo desde a sua criação – o conflito com os palestinos e boa parte de seus vizinhos árabes – e que levou o país às guerras de Independência no mesmo ano; Suez em 1956; Seis Dias em 1967 e Iom Kipur em 1973.

Na mais dramática de todas, a da Independência, o país foi invadido pelos exércitos de cinco países árabes que prometiam jogar os judeus ao mar. As rádios árabes conclamaram os palestinos a deixarem seus lugares para não impedir o avanço das tropas. Alimentados por estes apelos, além de notícias (verdadeiras) sobre o massacre de aldeias, cerca de 600 mil palestinos abandonaram suas casas e fugiram para os países árabes limítrofes, onde foram confinados em campos de refugiados.

A ajuda soviética com a venda de armas tchecas foi fundamental para a vitória de Israel. O Estado recém-criado ocupou as terras destinadas a ele e aquelas destinadas à criação da Palestina. Os lugares abandonados pelos agora refugiados palestinos foram imediatamente preenchidos pelos refugiados judeus do Holocausto. Assim surgia uma nação, e outra começava sua luta desesperada pela existência.
Israel nascia com uma política claramente socialista. Os kibutzim (fazendas coletivas) eram um exemplo do verdadeiro preceito de vida comunista: todos trabalhavam de acordo com suas possibilidades e recebiam de acordo com suas necessidades. Eram livres para entrar e para sair. Não havia exploração do homem pelo homem.

O que viria a ocorrer no cenário mundial nos anos seguintes, além dos acontecimentos regionais, influenciaria a vida dos israelenses de forma que ninguém jamais poderia ter previsto. Os ensinamentos dos criadores do Estado, com sua formação de esquerda, enfrentariam dilemas capazes de transformar o país de baluarte de democracia e humanismo em Estado de segregação e belicosidade latente.

Ao longo do tempo, a direita israelense representada pelo Likud teve uma participação média de cerca de 30% dos votos válidos. A esquerda representada pelos trabalhistas é que viu sua histórica representação de 35% dos votos válidos desaparecer nos últimos anos. Isto não significou uma migração de votos para o Likud, mas uma dissipação para partidos alternativos. A esquerda não perdeu representação para a direita, perdeu para si mesma.

Existem várias explicações para isto. Uma delas aponta para a migração maciça de judeus russos. Esta comunidade, que fugiu do comunismo soviético, não simpatizou com as plataformas dos partidos de esquerda, e nem mesmo de centro-esquerda, como já haviam se transformado os trabalhistas. Além disso, a falta de uma proposta coerente de paz, pois se oferecia a devolução de territórios com uma mão e com a outra se aumentava à construção de colônias, levou o partido a perder credibilidade.

Para nós, sionistas socialistas que crescemos com o desejo de ver Israel como um farol de redenção nacional para todo o povo judeu, onde liberdade, igualdade e fraternidade seriam mais do que falácias utópicas, a decepção com o rumo da política israelense foi um grande balde de água fria.

Hostilizados pelas comunidades judaicas por sermos “de esquerda”, e pela esquerda por sermos sionistas, a guinada das forças fascistas de Israel para o confronto com os palestinos nos coloca à frente da luta pelo reconhecimento de que existe um país a ser preservado e um grupo político a ser combatido.

As posições do atual governo de Israel não são condizentes com os princípios que nortearam sua Declaração de Independência. Não obstante nosso passado de perseguições, somos nós hoje a perseguir um povo que luta por sua libertação e a construção de seu lar nacional. Apesar de discriminados em várias nações no passado, somos hoje aqueles que discriminam os cidadãos não judeus.

Precisamos do apoio de todas as forças progressistas do mundo para mudar esta situação. Declarações de apoio e solidariedade para com a existência de Israel e a condenação clara e dura da postura de seu governo, juntamente com ações que levam a paz e a reconciliação com o povo palestino, são ações construtivas na direção do entendimento. Agressões contra o direito de sobrevivência de Israel associadas com o anti-semitismo isolam as forças pacifistas e prejudicam igualmente israelenses e palestinos.