Pode-se falar sobre várias facetas do conflito palestino-israelense. Ao final, invariavelmente é preciso se falar da causa: a ocupação. Fugir deste tema é continuar tapando o sol com a peneira.

Todas as ações e reações desenvolvidas pelos dois lados têm a mesma origem. Israel ocupa militarmente e politicamente um território conquistado em guerra. Todas as convenções internacionais proíbem o ocupante de tomar ações que tragam prejuízos a população civil, e não é preciso lembrar o que está sendo feito para proteger 200 mil colonos ilegais nos territórios.

Existe uma falácia absurda de que a ocupação é a única forma de proteger o país contra o terrorismo. Isto talvez sirva para os incultos ou religiosos fanáticos que acreditam que Deus nos passou recibo de todas aquelas terras, incluindo a Jordânia. Mas não convencem a mais ninguém. Qualquer pessoa isenta que leia sobre a origem do conflito, vai chegar a conclusão óbvia de que a permanente ocupação é a causa do atual conflito.

Até poucos anos, quando praticamente a totalidade da liderança palestina pregava a destruição do Estado de Israel e a sua substituição por um Estado Palestino, era compreensível a visão militarista de defesa da integridade do país. Esta visão, dizia então, que era necessário preservar estes territórios, a fim de não permitir o surgimento de mais um país inimigo junto a nossas fronteiras. Pior, um país inimigo que pretendia a nossa destruição e negava-se a aceitar nosso direito de existir.

Como tudo na vida, o tempo tratou de mostrar que este espírito destrutivo não traria resultado algum para o povo palestino. Seu líder passaria o resto de sua vida batendo em ponta de faca. Seu povo ficaria destinado a continuar como parias nas sociedades dos países que os acolheram, inclusive Israel.

Mas novamente o tempo, o senhor da razão, mostrou que o até então impensável era possível. A grande maioria do povo palestino, e de sua liderança, abdicou da destruição do Estado de Israel. Ao invés de sua substituição por um Estado Palestino, concordou na criação desta nova nação nos territórios ocupados. Dois estados para dois povos, este foi o compromisso pragmático e realista.

Parece lógico, simples e perfeitamente compreensível que a permanência dos assentamentos nos território destinados ao Estado Palestino, significa um entrave intransponível para a paz. O terrorismo de hoje não é o mesmo dos anos 60, 70 e 80. Seu objetivo não é mais a destruição do estado de Israel, como querem nos vender a direita israelense. O terrorismo de hoje é causado pela ocupação. Nada o justifica. Ações contra civis são crimes contra a humanidade. No entanto, o terrorismo palestino e o terrorismo de estado se fazem presentes neste momento de forma igual.

A ocupação trouxe, e continua trazendo conseqüências que vão custar longos anos para serem reparadas. Desde problemas psicológicos de toda ordem passando por problemas sociais e culminando nos econômicos. Os dois povos estão sofrendo um empobrecimento sem precedentes. Em Israel mais de um milhão de pessoas estão vivendo em condições de pobreza. Nos territórios, onde a situação é ainda pior, não fosse a ajuda de organizações internacionais, estaríamos diante de uma catástrofe humanitária.

Diante do quadro de eleições que vão ter lugar nos próximos meses, nos territórios e em Israel, o tema da ocupação irá tomar a ordem do dia nas discussões e propostas de todas as lideranças políticas. Inevitável que se apresente o preço que todos estão pagando pela insistência em se manter colonos em terras ocupadas.

Esta chaga que corrói a moral e a ética do povo judeu precisa ter fim. Chegou a hora de políticos responsáveis virem a luz do dia fazerem a mea culpa e proporem soluções viáveis que levem a paz. Com ela, e a reconciliação, ambos os povos poderão voltar a desenvolver-se sócio, político e economicamente.

Fala-se muito no resultado das pesquisas que apresentam um quadro sombrio de vitória dos partidos da direita israelense, e o conseqüente prolongamento e acirramento do conflito. É possível. Mas vale lembrar que de acordo com as pesquisas Begin jamais teria sido eleito e Shimon Peres teria vencido Bibi. Portanto ainda é muito cedo para se fazer previsões.

Todos os homens de bem tem um importante papel a desempenhar. Ajudar a palestinos e israelenses para que eleja homens e mulheres comprometidos com uma solução justa que ponha fim à barbárie e traga a paz.

Eu conclamo a todos, judeus, palestinos e amigos dos dois povos, para que escrevam a seus amigos e parentes que lá vivem, palavras de apoio. Que desejem a eles um voto comprometido com o fim do estado de beligerância. Um voto que comprometa o fim da ocupação e dos atos de terrorismo.

Votem agora por uma chance a paz.