Dois anos e cerca de dois mil mortos depois, parece que o derramamento de sangue em Israel e nos territórios arrefeceu-se. Se ainda não podemos comemorar seu final, ao menos podemos dar graças ao fato de que nos últimos 30 dias tivemos raros incidentes.

A vida na região ainda está longe de voltar a ser o que era. Os sofrimentos causados pela ocupação e pelo resultado dos ataques suicidas ainda estão vivos e não serão apagados tão facilmente. Mas se a vida deve continuar, então os pequenos sinais de que algo está acontecendo já podem ser sentidos.

Do lado palestino mais e mais vozes se fazem escutar contra a política de violência como forma de alcançar a independência. Arafat não é mais um líder inconteste. Suas atitudes e decisões são questionadas. Algo impensável até pouco tempo. Várias lideranças exigem reformas administrativas e pedem pela nomeação de um primeiro ministro.

Já do lado israelense, até mesmo Sharon fala em obter um acordo de paz. Reconhece que os palestinos teriam compreendido que nada alcançariam com o terror. Depois de muito tempo, diz que novamente existe um certo clima para negociações.

Nem tudo é um mar de rosas. Em ambos os lados ainda existem muita desconfiança e o desejo de Bush em atacar o Iraque está servindo para desviar as atenções do mundo para o que pode ser a mais nova empreitada belicista americana. Neste sentido vale recordar que na guerra do Golfo Arafat apoiou abertamente a Sadam Hussein. Os Scuds lançados contra Israel tiveram comemorações nos Campos de Refugiados Palestinos.

Uma nova guerra na região servirá para desestabilizar o frágil equilíbrio de forças hoje existente. Os Estados Unidos, tolerados pela maioria dos regimes árabes, é odiado pelas populações da maioria destes países. Uma guerra irá insuflar este ódio contra estes regimes e não se podem prever quais serão as conseqüências. O que farão a Arábia Saudita, a Jordânia e o Egito? Qual o lado que irão apoiar?

Esta guerra neste momento não serve a nenhum propósito. Praticamente todos os aliados americanos são contra. A ONU é contra e mesmo assim seguem os preparativos para um ataque. Bush é o único que terá algum benefício se puder comprovar a existência de indústrias de armas biológicas que poderiam atingir outros países. O risco é grande. Caso não tenha esta comprovação, no momento em que os caixões com soldados começarem a chegar às cidades americanas, sua popularidade vai despencar interna e externamente.

Para Israel e para a AP, esta guerra chegaria no pior momento. Para Sharon, seria um ganho de tempo para impedir o inicio de negociações de paz com os palestinos. Mas conhecida sua vocação para se jogar em guerras, vai querer responder a uma possível represália iraquiana. Para Arafat, seria um dilema. Se apoiar Sadam estará perdendo qualquer chance de ser recebido por Bush. Não o apoiando terá que enfrentar a ira de uma parcela significativa de seu povo. Arafat perde de qualquer forma. Para ele é uma questão de avaliar o que seria pior.

Acredito que israelenses e palestinos devem fazer o possível para não aceitar este devaneio. A única forma de fazerem isso é retornarem imediatamente a mesa de negociações. Trazer de volta a atenção dos povos do mundo para a discussão da paz e não da guerra.

Este é o momento para que o Campo Pacifista se empenhe ao máximo para demonstrar que a paz está a nosso alcance. O caminho da guerra não trará nenhuma solução para o problema do conflito israelense–palestino. Ela irá apenas acentuar as diferenças e acabar com as pequenas conquistas no sentido da reconciliação alcançadas até agora.