Desde cedo aprendemos o significado do “não”. Fazemos algo de errado e nossos pais nos dizem “não”. É uma forma de nos impor limites e principalmente de nos ensinar a diferenciar o que é certo do que é errado.
Esta lição, talvez a mais importante delas, vai nos acompanhar pelo resto de nossas vidas. É a base de nosso discernimento e forma o nosso bem senso para as atitudes que vamos tomar frente a cada desafio. Com ela também seremos capazes de aceitar ou rejeitar atitudes de terceiros. Normalmente não queremos que os outros façam aquilo que não faríamos.
O problema é que muitas coisas aceitas por certas culturas, são consideradas inapropriadas por outras. Recentemente uma nigeriana foi condenada a morte por apedrejamento pelo fato de ter tido um filho sendo divorciada. Neste caso, segundo a lei islâmica, ela teria cometido adultério. Inaceitável para o nosso bom senso, ela acaba de perder um recurso ante 3 juízes.
Na tradição judaica o divórcio é concedido pelo marido. Caso ele não queira, a mulher fica impedida de retomar sua vida. Na corte rabínica que discute este tipo de procedimento, ela praticamente não tem voz. Difícil de aceitar entre nós, esta é a realidade das mulheres judias religiosas e das que vivem em Israel.
Dentro destas duas sociedades, a religião se mistura com a cultura local. Israel que é considerada a única democracia do Oriente Médio não possui uma constituição. Grande parte dos países árabes ao seu redor também não. A justiça acaba sendo feita com base em leis religiosas ou se tomam àquelas herdadas da época do colonialismo inglês e francês.
Existe um aspecto muito importante que acaba sendo relegado no ambiente conflituoso em que se encontram israelenses e palestinos. Refiro-me ao direito de matar. Quem tem o direito de matar? Quem é que decide os que devem morrer?
No campo palestino temos duas situações. A primeira dos grupos terroristas que baseiam suas decisões aleatoriamente. Morrem os que estiverem ocasionalmente ao lado do homem bomba, passando por uma estrada ou passeando por uma rua.. A segunda, todos aqueles que são considerados “colaboradores”.
No campo israelense também temos duas situações. A primeira é quando o governo determina e o exército executa aqueles que são considerados terroristas. A segunda é quando pessoas que estavam ocasionalmente no local, também são atingidas, ou porque jogavam pedras, ou porque um soldado não sabia que elas podiam estar em determinado local etc.
Quando me pergunto nestes casos o que é certo e o que é errado, penso no princípio básico do direito a vida. Todos nós independentemente de qualquer coisa, temos o direito a viver em paz. Todas as religiões pregam isto. Muitas até proíbem o suicídio. Como então em nome delas se cometem assassinatos? Porque se condena uma mulher a morte por ter tido uma relação sexual? Porque se impede a outra de obter o divórcio?
Como se isto não bastasse, como é possível se chamar a alguém de “Mártir”, quando ele tirando sua própria vida, assassina outras tantas a sua volta? Como aceitar que para cumprir uma ordem de assassinato, se tire a vida de outros que lá estavam por acaso?
Tanto uns como outros acham que tudo isto se justifica. Estamos em guerra, estamos sob ocupação, se tratam de terroristas, efeitos colaterais ocorrem, enfim, o fim justifica os meios. E neste caso os meios são a perda de todo e qualquer bom senso. Qualquer forma de se distinguir entre o que é certo e o que é errado. Um total desprezo ao sofrimento humano.
Quem decide os que vão morrer são os que se calam diante de tamanha barbárie. Os que encontram justificativas morais para matarem inocentes. Os que ajudam a eleger líderes que prometem de um lado paz e segurança e de outro a independência do seu estado, mas que na verdade nos levaram a esta situação. Os que abominam os que pregam a paz e a reconciliação. Os que se consideram acima do bem e do mal, eleitos para decidir sobre a vida acima de Deus.
Ainda assim, tenho de acreditar que nada disso possa ser eterno. A maioria das pessoas é de boa índole. São capazes de relevar e esquecer o passado. São tentadas a arriscar uma chance de paz. Ela não é inalcançável. Pode-se dizer que ainda não está tão próxima quanto gostaríamos mas ainda assim é palpável. Basta continuar acreditando. Eu acredito.