Existem várias maneiras de se promover à guerra, mas apenas uma para se promover a paz: discutindo-se entre inimigos para que se tornem, um dia, amigos.

Aparentemente simples, o fato é, que para se chegar a isso é preciso trilhar um longo caminho. Alguns povos conseguem um atalho, quando são forçados por uma grande potência a aceitarem a paz. Um exemplo mais recente pode ter sido a paz imposta a antiga Iugoslávia depois de assistirmos horrorizados, a chamada limpeza étnica, que matou milhares de pessoas.

No Oriente Médio, apesar de todo o horror dos homens bombas, e da humilhante situação de milhares de palestinos submetidos a infindáveis toques de recolher, pelo exército de ocupação israelense, nada parece se encaminhar para uma solução imposta por uma força externa.

Resta portanto, como única alternativa, que os povos envolvidos encontrem uma maneira de quebrar o círculo vicioso de violência. Se a solução não é militar, algo que todos já concordaram, então porque não são retomadas as negociações?

Sob o ponto de vista israelense, sabemos que o país vive a plenitude democrática com suas instituições funcionando, sua economia se debilitando, e a vida seguindo apesar dos transtornos causados pela Intifada. Já do lado palestino, com uma pseudo-democracia, suas instituições funcionando de forma precária, com a vida restrita até para transitarem dentro de suas próprias cidades e sua economia arrasada a vida está muito difícil.

Poderia-se então imaginar que deveria existir um interesse mínimo de ao menos se buscar interlocutores capazes de compreender que alguns passos devem ser dados em favor do entendimento. Não faltam em Israel interlocutores para a paz. Mas no campo palestino, eles são poucos e suas vozes normalmente ficam sufocadas. Neste sentido, torna-se incompreensível que Israel persiga a Sari Nusseibeh, da Universidade Al Quds.

Nusseibeh foi um dos que assinaram o recente manifesto de intelectuais e líderes palestinos pedindo o fim dos atentados contra civis israelenses. Mesmo que a direita veja defeitos e enxergue muito pouco nesta atitude, o manifesto foi o estopim de uma nova forma de encarar o conflito por parte de palestinos que podem vir a se tornar interlocutores sérios para promover a paz.

Quando se espera que o governo israelense contribua para que estas vozes sejam escutadas nos territórios, ele ajuda a calá-las. Contribui de forma indireta com as forças mais obscuras do radicalismo terrorista. Retira delas a oportunidade de demonstrarem para seu povo que existe uma via alternativa ao terrorismo.

Mesmo o que parece um absurdo a primeira vista, ajuda a explicar porque o Campo da Paz não acredita que o governo Sharon tenha interesse numa solução que leve a criação de um Estado Palestino. Esta política perversa de executarem terroristas (e supostos terroristas), ao mesmo tempo em que não permite o surgimento de novas lideranças nacionalistas, visa única e exclusivamente a manter o status quo existente. Os palestinos terão de se contentar com sua autonomia limitada e total dependência de Israel para continuarem sobrevivendo.

Sharon está transformando os territórios num novo Líbano. Esta ocupação segue aos mesmos princípios de que uma determinada terra é necessária para segurança nacional. No Líbano foi uma extensão de cerca de 10 km. Aqui parece que todos os territórios são importantes para esta política de ocupação por segurança.

O Líbano custou centenas de vidas que lá pereceram. O que foi que ganho em troca destas vidas? Nada, absolutamente nada. Esta ocupação está custando outras centenas de vidas. O que estão ganhando com isso? A lista é longa: isolamento internacional, desemprego, queda nas exportações, quebra de empresas, acirramento dos conflitos internos, propostas de leis racistas etc.

Conclamamos ao povo israelense e ao povo palestino a não desistirem de buscar a paz. Apesar de todas as dificuldades, os que reconhecem que o destino dos dois povos é o de conviver em dois estados lado a lado, precisam contar com nosso apoio.

O Campo da Paz não se intimida. Vamos continuar denunciando todas as tentativas de obstrução ao caminho da reconciliação. Nossa voz vai se fazendo escutar cada vez mais por pessoas de bem.

Esta barbárie está nos matando a todos.Paz Agora!