Tenho escutado e lido diversas opiniões de pessoas que tentam, de várias maneiras, justificar a insanidade do que vem ocorrendo no Oriente Médio. Invariavelmente eles se reduzem na luta do bem (nós), contra o mal (eles). Não se iludam. Ninguém representa o bem nesta carnificina.
Eu possuo cidadania israelense, da qual tenho muito orgulho. Eu, minha esposa, e minhas duas filhas (uma nascida em Jerusalém), somos todos brasileiros e israelenses. Toda minha vida fui sionista-socialista e gostaria de fazer algumas colocações, como alguém que lá viveu durante 6 anos.
Sempre achei que a solução para o conflito árabe-israelense teria que ser política e não militar. A questão sempre foi: a quantos túmulos estamos deste dia. Nem nós somos capazes de destruí-los, nem eles a nós. No entanto os cemitérios vão se enchendo cada vez mais de lápides com idades de jovens que perdem suas vidas devido à insanidade de suas lideranças.
Uma mãe envia seu filho para se explodir no meio de pessoas. Como é que isso é possível? Uma mãe que envia seu filho para manter a ocupação de um território que não lhe pertence, passando com seu tanque sobre as propriedades de civis, ou não permitindo o atendimento médico de feridos ou doentes e que acaba morto. O que estão fazendo? Por acaso as lágrimas de uma mãe palestina que perde um filho são diferentes das de uma mãe judia que perde o seu? Por favor, elas são iguais.
Depois de fazer uma guerra com Israel, invadindo-nos durante a comemoração de nosso dia mais sagrado, o Yom Kipur, o criminoso de guerra Anuar Sadat, fez a paz com o terrorista Menachem Begin. Portanto não se diga que o criminoso de guerra Ariel Sharon não pode fazer a paz com o terrorista Yasser Arafat. Se até mesmo a Europa pode ser pacificada, porque não o Oriente Médio?
Israel é uma grande nação. Seu maior legado é fruto da história do povo judeu. Nossa contribuição para o bem da humanidade na forma de vacinas, teses econômicas, leis da física, fórmulas químicas para criação de remédios, na agricultura etc, é longa. Não podemos perder nossa humanidade. Não podemos achar que os outros povos têm que gostar de nós porque somos uns coitados. Porque fomos vítimas de grandes atrocidades históricas. Temos de parar de achar que os árabes nos odeiam porque são anti-semitas. Chegou a hora de percebermos que existe uma chance real de paz. Pela primeira vez, uma proposta árabe fala do reconhecimento de Israel com seu direito a segurança e convivência pacífica com seus vizinhos. Eles dizem: devolvam o que tomaram e vamos viver em paz. Isso é possível? Não sei. Como seria implementado? Não sei. Mas podemos ao menos sugerir que se comece a conversar sobre isto. Depois de tantos anos de ódios e guerras, as coisas vão ficando cada vez mais difíceis. No entanto uma coisa é certa, vale a pena tentar. Mesmo que depois de alcançarmos a Paz não possamos nos sentar com eles a mesma mesa, talvez nossos filhos possam. E se para eles também for difícil, certamente nossos netos poderão. Porque ninguém nasce odiando.
Acho que foi um grande acontecimento a Caminhada pela Paz ocorrida em Porto Alegre. Ouso dizer que em meio a tantas manifestações no mundo contra Israel (pró-palestinos) ou a favor de Israel, o que aconteceu aqui foi uma exceção. Pacifistas de ambos os povos se uniram para pedir a Paz. Junto com eles, outras 300 pessoas estavam lá. Se a gente continuar em frente, a cada dia outras se somarão a elas.
Após os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos, o mundo foi varrido por uma onda antiislâmica, como se todo muçulmano fosse um terrorista. Agora assistimos a uma onda anti-semita com se todo judeu fosse um soldado israelense. Os preconceituosos de plantão não perdem tempo.
Os povos do mundo fariam melhor, se dirigissem sua indignação para ações pacifistas e não de apoio a um ou outro lado. Manifestações de ódio contra nós ou contra eles não contribuem em nada para a solução do conflito. Pelo contrário, elas são o combustível que alimenta os extremistas de ambos os lados. Por sorte eles não são a maioria.
Nós, seres humanos de bom senso temos que bradar aos quatro cantos do mundo que a Paz é possível porque nunca vão poder matar a esperança. E nossa voz será ouvida cada vez mais por homens de boa vontade, que não se importam com a cor, o sexo, a religião ou qualquer outra coisa que nos divida. Importam-se apenas com o que nos une: seres humanos que habitam o mesmo planeta.
Que tal uma grande corrente mundial em favor da vida e da convivência pacífica entre os povos? Que tal um dia de graças em favor da humanidade? Que tal dizermos a eles que ambos têm razão, mas que esta matança está fazendo mal a todos nós como seres humanos? Que tal dar voz as palavras de John Lennon e pedir aos dois lados: Dêem uma chance à Paz.